DISCOS: MARILYN MANSON (THE PALE EMPEROR)

MARILYN MANSON

The Pale Emperor

Loma Vista; 2015

Por Lucas Scaliza



Há 20 anos, quando apareceu vociferando e blasfemando, vestido para uma festa de Halloween e colocando o dedo na ferida aberta dos Estados Unidos, Marilyn Manson causou furor. Muita gente o rejeitou. Muita gente o abraçou. Com a ajuda de discos como Antichrist Superstar (1996) e Mechanical Animals (1998), ele sedimentou sua sonoridade rock/metal industrial e não arredou o pé da crítica ao combalido american way of life, denunciando hipocrisias e atitudes socialmente tão canhestras quanto suas performances e figurinos bizarros.

Mas ao longo do tempo o choque se foi. Marilyn Manson ainda pode ser persona non grata para muitos lares e mentes conservadores, mas sua imagem não mete medo em mais ninguém. No máximo causa estranheza. Sua música passou por um período de desafetação também. E é neste contexto que chegamos ao seu novo disco, The Pale Emperor, que não é um clássico americano (ou antiamericano), mas também não decepciona.


A contestação está presente. Os palavrões também. Não faltam grooves e nem aquelas baterias bem sincopadas que são a marca registrada de seu som desde sempre. Seguindo a tendência de seus últimos três discos, há flertes eletrônicos, mas em uma quantidade bem menor do que ele já usou anteriormente em sua carreira, mas não chega a ser um disco orgânico como Eat Me, Drink Me (2007).


E diferente do bom Born Villain (2012) - disco que começava monótono e só mostrava potencial da metade para lá - The Pale Emperor mantém o ouvinte se divertindo ao longo de todas as faixas. Sem falar que as cinco faixas de abertura são ótimas – embora não sejam sensacionais. “Third Day Of A Seven Day Binge”, uma das melhores do álbum, flerta com o blues e segue sem pressa, construindo o clima com um baixo com leve distorção e uma vocalização boa de Manson, recurso que surge como uma novidade. “The Mephistopheles of Los Angeles” é mais sofisticada. Mostra que Manson sabe acertar em cheio na interpretação de uma canção, e o faz sem torná-la excessivamente pesada ou ruidosa. 


Marilyn Manson não está se recriando em The Pale Emperor e nem parece expandir muito seu estilo musical. Situa-se dentro da mesma vertente do rock em que sempre esteve, mas já há algum tempo trocou os gritos pela melodia sem precisar abandonar seu jeito e seu timbre de voz - que lembra um doente raivoso tentando cantar.


Já faz algum tempo que Manson não se traveste mais de, psicopata, anticristo ou de ditador para mandar a sua mensagem ao povo. Dessa vez não é diferente: o disco tem uma estética bastante uniforme, mas não é conceitual. Aliás, a capa de The Pale Emperor é uma das melhores da carreira de Manson (que fez capas que ficaram muito conhecidas, mas nenhuma exatamente bonita, nem mesmo naquele jeito “horrendo” de ser belo). Também é possível sentir uma levada mais cinematográfica nas músicas, como se todas servissem para algum filme ou série de TV. “Cupid Carries a Gun” serviu de abertura para o seriado bruxesco Salem, e “Killing Strangers” foi parar na trilha do filme John Wick, estrelado por Keanu Reeves.


O blues – sombrio, climático e nunca apressado – reaparece em “Birds of Hell Awaiting” e na bem construída “Odds of Even”, e cai bem à banda - fazendo tudo parecer mais dentro de um contexto de suspense quase sobrenatural, como um desses bosques no interior de Nova Orleans ou do Kansas.


A versão deluxe do álbum vem com três músicas bônus acústicas. “Day 3”, “Fated, Faithful, Fatal” e a ótima “Fall Of The House of Death”.


A maturidade musical de Marilyn Manson não tem se apresentado como inventividade. Ele ainda é o mesmo de sempre, no geral, mas soube permear seu som com uma nova influência em The Pale Emperor. Para quem não esperava nada, já é algo bastante significativo.


Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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