| Foto: Ricardo A. Flávio |
São
34 longos anos que separam a estreia da banda no Brasil, e meu primeiro
encontro, com o GUNS N’ROSES. Se em
1991 eram considerados “a banda mais
perigosa do mundo”, e foi a principal atração do Rock in Rio, realizado no
estádio do Maracanã, sendo headliner
em duas concorridas noites, em 2025 a banda é cercada de dúvidas e
desconfiança. Teve um hiato de alguns anos, escassez de lançamentos (apesar de
lançar alguns singles, o último disco
– “Chinese Democracy”, foi lançado em 2008) e shows onde o vocalista Axl Rose falhava miseravelmente em seu
ofício, apresentando-se totalmente sem voz.
Apesar
da desconfiança, a banda tem público cativo, que lotou o estádio da Barra
Funda, com uma mistura de gerações na plateia, estavam ali desde os hoje
cinquentões que vibravam quando foi lançado o primeiro disco da banda – “Appetite
for Destruction” (1987), e uma quantidade enorme de jovens, que se bobear,
nasceram depois de “Chinese Democracy”!
A
abertura da noite coube aos RAIMUNDOS,
que entrou no palco com dez minutos de atraso, às 18h40, uma banda que surgiu
poderosa em 1994 – não criou nada, apesar de muitos, equivocadamente, dar a
eles o “título” de criadores da mistura de rock com ritmos regionais, lembro
aqui, rapidamente, que os Mutantes fizeram isso nos anos 60, Raul Seixas nos 70,
Plebe Rude nos 80, só para citar alguns exemplos, mas, eles têm seus méritos.
Lembro, também, que em 1996, a banda, ainda com sua formação clássica, que
contava com Rodolfo Abrantes nos vocais, o saudoso e gente boníssima Canisso –
falecido em 2023, no baixo e Fred, na bateria, fez um show arrasador no
festival Monsters of Rock, rivalizando e deixando para trás, bandas do quilate
de Skid Row, Mötorhead e Iron Maiden.
Hoje,
contando apenas com o guitarrista da formação original, e outros esforçados e
competentes meninos, é uma banda que ganha a plateia e é muito bem recebida,
pela quantidade enorme de hits do passado glorioso, mas, seu presente é inócuo
e insosso. É difícil entender como que alguém com mais de 15 anos se diverte
cantando versos como “esporrei na manivela”. Mas é a vida, o público cantou
junto, pulou e emocionou o vocalista.
| Foto: Ricardo A. Flávio |
Impressionante que pontualmente às 20h00, as luzes se apagam e o GUNS N’ROSES está no palco! Para os antigos fãs, ficaram as lembranças de até três horas de atraso nas apresentações da banda, amadureceram e ganharam pontos com isso que, nada mais é que demonstração de respeito por quem pagou – caro – para vê-los.
A
apresentação começou com o clássico “Welcome to the Jungle” e, apesar das
imagens de uma banda de senhores maiores de 60 anos no palco, o trio líder: Axl
Rose, vocal, Slash, guitarra e Duff McKagan, baixo, se mostra em grande forma,
e agrada a todos os fãs, com grande desenvoltura e presença de palco.
Acompanham eles o guitarrista Richard Fortus, o tecladista Dizzy Reed, na banda
desde 1990, Melissa Reese, teclados e backing vocals e o baterista Isaac
Carpenter.
A
banda vai despejando faixas de toda a carreira e o público canta tudo: “Bad
Obsession”, “Chinese Democracy”, “Pretty Tied Up”, “Mr. Brownstone”, “It’s so
Easy” e quando chegam canções mais novas, lançadas como singles, o povo continua cantando tudo, caso de “The General” e “Perhaps”.
Desde
o início da carreira o Guns N’Roses sempre fez muitos covers, e eles estão
presentes aqui, a banda toca “Slither”, do Velvet
Revolver, a clássica “Live and Let Die”, dos Wings (banda de Paul McCartney, pós Beatles) e voltam a um novo single, com “Hard Skool”, de 2022. Mais
um cover e a banda toca a bela balada “Wichita Lineman”, do cantor e compositor
Jimmy Webb, com Slash fazendo bonito na guitarra havaiana.
| Foto: Ricardo A. Flávio |
Axl Rose anuncia que a próxima canção é uma homenagem ao amigo Ozzy Osbourne, falecido recentemente, e a banda toca uma versão de “Sabbath Bloody Sabbath”, do Black Sabbath, a recepção é tão boa que Axl diz que farão mais uma, e tocam “Never Say Die”, também do Black Sabbath, algo que eles não vêm fazendo durante a turnê “Because What You Want & What You Get Are Two Completely Different Things” – “Porque o que você quer e o que você obtém são duas coisas completamente diferentes”.
Na
sequência, quatro músicas dos álbuns “Use Your Ullusion”: “Estranged”, “Yesterdays”,
“Double Talkin’ Jive” e a balada “Don’t Cry”, todas recebidas com a devida reverência
de uma plateia emocionada. Durante toda a turnê, o baixista Duff McKagan tem
assumido os vocais para cantar algumas músicas de punk rock – Misfits, UK Subs,
Damned, Stooges, são algumas das bandas homenageadas, mas nesta noite ele manda
uma da banda irlandesa Thin Lizzy,
com “Thunder and Lightning”.
“Absurd”,
do EP “Hard Skool” e “Rocket Queen”, do “Appetite for Destruction” são bem
recebidas, mas a manjada cover “Knockin’ on Heavens Door”, de Bob Dylan, não deixa pedra sobre pedra,
cantada a plenos pulmões por todos os presentes. A pesada “You Could Be Mine”
empolga e antecede o número solo do guitarrista Slash, que emenda o clássico “Sweet
Child o’ Mine”, que impressiona, com cerca de duas horas e meia de show e 25
canções depois, trás um Axl Rose caprichando nos agudos. O vocalista parece que
aprendeu a dosar sua voz, pois os problemas vistos nos últimos anos não existem
nesta noite. É claro que não tem o vigor de mais de 30 anos atrás, mas, não
decepciona em momento algum, impressiona, aliás.
Uma
emocionante “Civil War” antecede o hit “November Rain”, com Axl Rose cantando
ao piano, com é praxe nesta canção. A apresentação vai chegando ao seu final
com “This I Love” (“Chinese Democracy”), o cover “Human Being”, dos New York Dolls, e a dobradinha clássica
com “Nightrain” e “Paradise City” encerram uma grande noite de rock and roll. A
banda estadunidense superou as expectativas, acabou com dúvidas e
desconfianças, e entregou um senhor show de rock!
Tags
Guns N' Roses
