DISCOS: NEIL YOUNG (STORYTONE)

NEIL YOUNG

Storytone

Reprise Records; 2014

Por Lucas Scaliza








Após a experiência com A Letter Home e do belo disco duplo Psychedelic Pill, cheio de solos de guitarra lançado em 2012, Neil Young volta mostrando que é um músico que vai continuar fazendo música de diferentes modos. Em Storytone, que sai em novembro, ele compôs 10 canções em parceria com o arranjador Chris Walden e chamou uma orquestra com 92 músicos para tocar com ele. Nada de guitarra, bateria, baixo elétrico, teclado e sintetizadores na maior parte das faixas. Neil Young agora tem violinos, piano, violas, baixos acústicos, cellos, trombones, tubas e mais uma grande variedade de instrumentos para dar a cara de suas músicas.

O resultado ficou muito bom e lembra o ótimo Travelogue (2002) de Joni Mitchel. A diferença é que Joni Mitchel preferiu regravar com uma orquestra várias de suas canções. Young compôs músicas inéditas mesmo.

Em “Plastic Flowers”, primeira faixa do disco, a voz aguda de Young é acompanhada por um piano doce e orquestração bastante romântica. Tema de violino ao invés de riff de guitarra. Já “Who’s Gonna Stand Up” é uma música ambientalista – Young é ativista nessa área – com contornos épicos, muito parecidos com trilhas sonoras de filmes (como O Senhor dos Aneis) ou com as orquestrações feitas por Tuomas Holopainen, do Nightwish. Nessa faixa, ele pergunta “Quem vai salvar a Terra?” e diz que “Tudo começa comigo e com você”.

Glimmer” usa a orquestra de um modo completamente diferente, emulando antigas canções do jazz americano. Ao ouvir, você se sente imediatamente assistindo a um filme em preto e branco da década de 1940. E se sentir-se assim, espere por “Say Hello to Chicago”, música gravada com uma big band. O resultado é tão nostálgico quanto o de “Glimmer”, mas animado dessa vez. “Tumbleweed”, também com a orquestra, é uma balada que ganha um ar de fantasia unindo sua letra gentil com movimentos bem suaves de toda a orquestra. “I’m Glad I Found You” é o tipo de música que facilmente podemos imaginar vestida de rock’n’roll, com um longo solo característico de Young. Mas nas mãos de Walden e de sua orquestra se transforma em balada.

When I Watch You Sleeping” mistura orquestra com um violão bem western com a gaita de Young e uma discreta percussão da bateria. “All Those Dreams” segue pelo mesmo caminho. Ambas mostra que a mistura soa muito bem no contexto do álbum, mas as orquestrações são tão suaves nas duas faixas que poderiam ter sido feitas por um bom teclado que o resultado seria praticamente o mesmo.

O blues “I Want to Drive My Car” e “Like You Used To Do” estão creditadas como músicas da banda de Neil Young, mas também estão acompanhadas por uma big band jazzista e é essa a característica que domina as gravações.

É um disco que acrescenta uma nova experiência a extensa discografia do canadense, mas não vai figurar entre os melhores e mais inspirados trabalhos do canadense. O que torna Travelogue, da Joni Mitchel, tão interessante é que as músicas dela também ficavam doces com a orquestra, mas ainda conservavam aquele toque fino e pessoal de suas composições originais. A participação da orquestra fazia a diferença na recriação e adaptação de arranjos. Apenas um grupo de ser humanos fariam aquilo tudo. O problema em Storytone é que a presença humana só é sentida com força nas faixas com big band. Muitas passagens de orquestra são ótimas, com destaque para “Who’s Gonna Stand Up”, mas muitas outras tornam o trabalho açucarado demais, sem o punch que costumamos esperar de Young e seu bando. E a orquestra, mesmo com os propalados 92 músicos, nunca soa pesada e cheia o bastante para sentirmos essa presença maciça de músicos na gravação.

Storytone também acompanha um segundo disco com suas 10 faixas sendo executadas em forma de canção somente por Young e seu violão ou piano. Faixas doces continuam doces, mas menos açucaradas nesse formato. Se você não for muito fã de balé ou de música clássica romântica, é provável que aprecie mais o disco bônus do que o disco principal.



Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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