A terceira edição do festival Doce Maravilha que aconteceu neste último final de semana, 26, 27 e 28 de setembro, no Jockey Club Brasileiro no Rio de Janeiro, reuniu artistas brasileiros dos mais diversos ritmos e promoveu encontros e novas descobertas para o público. A curadoria tem a assinatura do Nelson Motta, jornalista, compositor e produtor musical que já trabalhou com grandes nomes da nossa música e responsável por muitos sucessos que marcaram gerações. O Rock On Board foi conferir de perto como foram os dois primeiros dias do evento.
Estrutura funcionou
O evento possui dois palcos, o principal (Corona) que fica no Pião do Prado, e um menor (Bradesco), que fica na Tribuna. Os dois palcos, capacidade para receber até 15 mil pessoas por dia, estavam instalados em pontos opostos estratégicos, possibilitando que o público se movimentasse com facilidade entre ambos a cada show. Os ingressos-passaporte davam direito a sábado e domingo, e para sábado já estavam esgotados. A movimentação do público funciona muito bem, a área é grande e possui uma decoração linda para todos registrarem aquele momento. Destaque também para toda a área de alimentação, que vai de lanches a refeições de restaurantes renomados da cidade.
A Noite Doce do Rock
Sexta-feira chamada de "Noite Doce" é voltada ao rock e hardcore com bandas importantes do meio, e abrindo os trabalhos temos os capixabas do Dead Fish, que se apresentaram no palco Bradesco colocando a tenda no estilo de sempre: moshs e rodas de pogo. Os caras fazem um show que não para e apresentam músicas de toda a sua carreira como "Zero e Um", "Bem vindo ao Clube" e "Venceremos". Teve o encontro da banda com Di Ferrero (NX Zero) e Gee Rocha (Ex-NX Zero) que mandaram algumas pedradas como "Sonho Médio" e "Só Rezo" do NX Zero. Encontro emblemático de bandas que marcaram gerações e movimentos musicais diferentes.
A nostalgia estava pairando no ar com a comemoração dos 30 anos de carreira do CPM22 que iniciou o palco Corona e resgatou uma geração de antigos fãs e os filhos deles, que hoje comparecem aos shows também. O som não perdeu sua energia. Logo na primeira - "Regina Let's Go" - o grande coro do público acompanha Badauí e seus parceiros. "Tarde de Outono" resgatou aquele tempo de MTV em muitos presentes e teve direito a vídeo da banda contando sua trajetória. Bem significativo para o momento. Nenhum hit clássico ficou de fora, como "Dias Atrás", "Um Minuto para o Fim do Mundo", o que fez a roda abrir no meio fazendo uma grande festa. "Não Sei Viver Sem Ter Você" veio quase no fim, junto com um cover do Paralamas do Sucesso, "Meu Erro", muito bem recebida pelos presentes, e se despediram ao som de "Desconfio".
Foto: Rom Jom / Rock On Board
A nostalgia do coração do público ainda não tinha chegado ao fim, pois Forfun, headliner da noite, iria reascender toda a alma adolescente carioca que estava ali, comemorando seus 20 anos do seu álbum de estreia Teoria Dinâmica Gastativa. "Não tem nada melhor do que tocar na nossa casa" diz o guitarrista e vocalista Danilo. E de fato estavam bem felizes e em casa. Foram 21 músicas onde o público cantou todas sem titubear. "Hidropônica", "História de Verão" e "Mentalmorfose" foram a tríade inicial da noite colocando abaixo o lugar, que teve a surpresa de Lucas Silveira do Fresno tocando com os caras "Cara Esperto" e "Good Trip", com direito a "Onde Está" do Fresno, claro. Diogo Defante também participou em "V.I.P.". Nada mais carioca do que isso, não? No final ainda tivemos "4 A.M." e "Constelação Karina" e a pedidos um Encore com "História de Verão", sim, de novo. E todos saíram felizes? Com certeza.
Dia de reverências
No sábado temos ingressos esgotados e uma vasta programação. Começamos com Adriana Calcanhoto, que tem sua apresentação voltado ao público infantil com o espetáculo Partimpim. Mas não são só as crianças que são cativadas com todo o visual do palco: todos da banda estão com roupas coloridas e com chapéus divertidíssimos, além de todas as cores e decoração bem característicos de ambiente para a criançada, e Adriana não economiza no seu visual: tem um chapéu e roupa para cada música que é tocada. E também não são só as crianças que sabem as músicas, diga-se de passagem. Os pais sabem e aproveitam todas também. No repertório teve "Ciranda de Bailarina", que acompanhou muitas gerações, "Lig-Lig-Lig-Lé", "Saiba", e ainda sobra tempo para "Fico Assim Sem Você" de Claudinho & Buchecha.
Depois fomos direto para o Palco Corona com a Orquestra Imperial, que homenageou Erasmo Carlos em um show intitulado Erasmo Imperial, que contou com diversos artistas no palco como Gaby Amarantos, Thalma de Freitas, Jota Pê, Nina Becker e Moreno Veloso... é muito talento em um só lugar! Foi uma lista de muitos clássicos, que contou com "Vem Quem Que Estou Fervendo", "Se Você Pensa" e "Além do Horizonte".
Logo depois veio o Baianasystem apresentando seu show Lundu Rock Show, que mistura música, cultura e muito manifesto político. O show é liderado pelo vocalista Russo Passapusso, que detém uma energia ímpar quando o assunto é colocar o público para pular e abrir roda, e além disso, até desce no público para agitar ainda mais. O som da banda é uma mistura de ritmos brasileiros e latinos com uma identidade bem forte. Ainda que o show tenha altos e baixos no quesito de manter a apresentação em um ritmo, o público fica feliz com o que vê. Algumas músicas merecem atenção, como o grande sucesso "Lucro (Descomprimindo)" e "Sulamericano", além de "Saci" e "O Futuro Não Demora", que foi a faísca que precisava para a roda fica agitada e fazer uma grande festa.
E chegou a hora do show mais aguardado da noite: Ney Matogrosso com seu espetáculo Bloco na Rua. Não tem como explicar com palavras a dádiva de ver um dos mais importantes artistas vivos da nossa música. Com mais de 80 anos de idade, Ney canta e dança de maneira única, como se o tempo não tivesse passado. Vestindo seu collant dourado, ele encanta logo que entra no palco cantando "Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua" de Sergio Sampaio, que ganha uma nova roupagem. A energia aumenta em "Jardins da Babilônia" e "O Beco", assim como está no seu último trabalho que dá o nome do show. Mas foi após "O Último Dia" (Paulinho Moska e Billy Brandão) que o encontro mais aguardado acontece: Marisa Monte e Ney. Onde uma das grandes novidades no repertório foi "Vira", que há muitos anos não era tocado pelo artista. Mas como ele disse "Com a Marisa eu canto".
E foram oito músicas, com as quais a dupla fez a alegria do público, tais como: "Leãozinho", do Caetano Veloso, que soou de forma linda com as lindas vozes juntas; "A Balada do Louco" (Arnaldo Baptista e Rita Lee), com um tom mais grave que soou bela ao ouvido de todos; e a vivíssima "Sangue Latino". Para encerrar, a música que Ney sempre usa para se despedir, "Pro Dia Nascer Feliz" faz a banda e os presentes pularem e dançarem de alegria. "O show já acabou, o que vocês querem de novo?" Pergunta Ney, e é quando o público escolhe novamente "Vira", e Marisa Monte completa: "Isso! Nós amamos a Democracia".
Um fim de noite histórico.