![]() |
Foto: Peter Simon |
Antes
de qualquer coisa, é necessário falar sobre quem foi GRATEFUL DEAD! E digo que é necessário, pois, apesar de ser um nome
GIGANTESCO na história do rock, de possuir hordas de fãs ensandecidos, os Dead Heads, espalhados pelo mundo, de
ter uma carreira sólida, longeva, com discos maravilhosos lançados durante 30
anos de carreira, de extensas turnês e materiais que ainda hoje surgem como
inéditos, inexplicavelmente, pouco se fala deles no Brasil.
A
banda se formou na Califórnia, berço da contracultura, no ano de 1965, tendo
como sua espinha dorsal Jerry Garcia,
guitarra e voz, Bob Weir, guitarra
base e voz, Ron ‘Pigpen’ McKernan,
teclados – falecido em 1973 e substituído por Keith Godchaux, Phil Lesh,
baixo e Bill Kretzmann, bateria, fazendo
um som eclético, que começou num rock and roll básico, com muita mistura de
blues, jazz, funk, soul, gospel, folk, música oriental e psicodelia pesada!
Durante
30 anos de carreira, encerrada em 1995, com a morte de Jerry Garcia, THE DEAD
(como também era conhecida a banda) lançou incontáveis álbuns, tendo apenas um single de sucesso absoluto, “Touch of
Grey”, presente no álbum “In the Dark”, de 1987, e que chegou ao TOP 10 da
Billboard. E, ainda assim, por incrível que possa parecer, permaneceu como a
banda estadunidense com as maiores bilheterias da história por décadas! Isso se
explica pelo fato da banda encorajar a gravação de seus shows e a troca dessas
gravações livremente entre os fãs, o que consolidou uma forte base de
admiradores, que fez do boca a boca o grande meio de divulgação do grupo.
Ainda
hoje, no site oficial da banda encontra-se um link onde se pode procurar
qualquer show deles durante os 30 anos de carreira e realizar o download
livremente do concerto. Nenhuma banda na história se usou do bootleg com tanta maestria como o The
Dead!
![]() |
Foto: Divulgação |
Mas, vou falar agora sobre “Blues for Allah”, oitavo disco de estúdio da banda, lançado oficialmente no dia 01 de setembro de 1975, e que, ao completar 50 anos ganhou reedições caprichadíssimas, em CD’s repletos de bônus e LP, que estava fora de catálogo no formato há muitos anos!
A
banda vinha num ritmo frenético de shows de 1965 até 1974, havia criado um selo
próprio, The Grateful Dead Records,
em 1973, e resolveu parar tudo para gravar este álbum, o que foi feito dentro
do estúdio caseiro do guitarrista e vocalista Bob Weir. Diz a lenda que a banda
costumava criar e amadurecer seu repertório no palco, e quando achava que
estava tudo pronto, entrava em estúdio para gravar. Em “Blues for Allah”
resolveram inverter isso e entraram no estúdio “do zero”, para criar tudo ali
dentro, segundo Jerry Garcia, como uma maneira de todos os integrantes da banda
participar ativamente do processo criativo.
Boa
parte do repertório do disco foi escrito pelo letrista Robert Hunter, profissional que acompanhou a banda por toda a
carreira, e nesta época estava inclinado à temática oriental, o que acabou
influenciando todo o trabalho. O álbum abre com a belíssima “Help on the Way”,
que tem letra de Hunter e Jerry Garcia no vocal, emendada a esta canção vem a
instrumental “Slipknot!”, um tema altamente viajante.
“Franklin’s
Tower” foi o segundo single lançado
pela banda e é outra faixa cantada por Garcia. O disco segue com mais um tema
instrumental: “King Solomon’s Marbles”, composta pelo baixista Phil Lesh, que
aparece nos créditos dividida, como “King Solomon’s Marbles” e depois “Stronger
Than Dirt or Milkin the Turkey”, que na verdade foram duas músicas “Stronger
Than Dirt” e “Milkin the Turkey”, compostas como partes da primeira, e aparece
corretamente nos créditos apenas em edições posteriores.
![]() |
Jerry Garcia - Foto: Divulgação |
“The Music Never Stopped”, primeiro single do disco é a faixa que encerra do “Lado Um” e tem Bob Weir dividindo os vocais com Donna Godchaux, esposa do tecladista Keith Godchaux, e que acompanhou a banda por muitos anos.
O Lado Dois do disco abre com outra bela
canção, “Crazy Fingers”, música de Jerry Garcia sobre outro poema de Robert
Hunter, escrito no estilo haicai,um
tipo de poesia curta originária do Japão. “Sage & Spirit” é outro tema
instrumental que aparece no trabalho, de Bob Weir, com inspiração na música de Johann
Sebastian Bach, com destaque para a flauta de Steven Schuster, da banda Quicksilver Messenger Service.
E
chega o grande momento do álbum, a suíte “Blues for Allah”, que ultrapassa os
12 minutos, mas que nos créditos do disco aparece dividida em três: “Blues for
Allah”, “Sand Castles & Glass Camels” (instrumental) e “Unusual Occurrences
in Desert”, em que os vocais são divididos entre Jerry Garcia, Bob Weir, Keith
& Donna Godchaux.
Outro
detalhe do disco bom de lembrar é a icônica capa: a caveira em trajes árabes,
cabelos longos e crespos, como os de Jerry Garcia, óculos escuros e tocando
violino é uma premiada arte de Philip
Garris, pintada no verão de 1974, intitulada “The Fiddler” (O Violinista).
“Blues
for Allah” foi o terceiro, porém último, álbum lançado pelo selo da banda. Como
dito lá no começo do texto, inexplicavelmente não se fala muito de GRATEFUL
DEAD, e, se você tem curiosidade em conhecer a banda, “Blues for Allah” é um
excelente ponto de partida, comece aqui e vicie!
Tags
Grateful Dead