Parcels surpreende e faz um dos melhores shows do Lolla

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Primeiro entram dois, sob a luz do dia ainda, que se dirigem aos seus teclados/sintetizadores, já deixando a galera na expectativa. Segundos se passam e o resto da banda entra, com guitarra e baixo a tiracolo, e o baterista vai pra trás de seu instrumento. Parcels é uma daquelas bandas em que a aparência pode te enganar, assim, de cara, se você ainda não ouviu nada deles. Da Austrália, parece um grupo de jovens surfistas bronzeados, cabelos parafinados, umas roupas meio largadas, camisetas de malha, camisas abertas, jardineiras andróginas, uns caras praieiros, saídos direto dos anos 70 ou 80, lá do Arpoador ou Saquarema. Sorridentes, acenam ao público e de repente, pá: uma cozinha suingada de baixo e bateria, combinados a uma guitarra nervosinha, revela que um som funkeadíssimo, vigoroso, é o lance dessa garotada.

Patrick Hetherington, guitarrista e tecladista, saúda São Paulo timidamente com um "Como vão vocês? Que noite linda". E tava mesmo. O single "Overnight", já chega balançando, chamando geral pra dançar gostoso. Single esse que foi produzido pelos caras do Daft Punk, e que deixa clara a influência que o duo tem sobre a banda. Em seguida, "Lightenup" vem pra mostrar logo que os vocais dos caras também não ficam atrás, com a harmonia perfeita. Os caras são muito bons e muito "good vibes".

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

Minha vontade de estar na praia voltou fortíssima em "Ifyoucall". Eles me remetem a uma mistura de Cor do Som e 14 Bis, incríveis bandas brasileiras de minha adolescência no início dos anos 80. Ah! Outra curiosidade: os nomes das músicas são sem espaço, com as palavras unidas. Dificulta pra carai a busca por elas...

Já emendam com um dos maiores hits da banda, "Tieduprightnow", e a galera simplesmente adora, e canta junto. Se o show não é tão concorrido, e o público estava ali no Palco Samsung Galaxy mais para ver Tool, este foi agradavelmente surpreendido pela altíssima qualidade da banda. Não tinha uma nota fora do lugar. "Safeandsound" confirma a excelência e traz um quê de The Beatles, antes de um final rock, com solo de guitarra. Na verdade, ouvimos várias influências, o que é natural com músicos alternativos que saem da caixinha sempre que podem. Ouvem tudo, experimentam tudo, total universal.

Em "Shadow" a performance cênica dá o tom, com o quinteto se unindo no centro do palco, o baterista Anatole "Toto" Serret segurando os dois microfones para que Heterrington e Jules Crommelin empunhassem suas guitarras e participassem dos lindos e necessários acordes vocais que vieram a seguir, junto a Louis Swain e Noah Hill, com o crepúsculo fazendo o jogo de luz perfeito para esse momento. Sensacional.

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O delicioso balanço funkeado volta em "Gamesoluck", fazendo a gente soltar o corpo de novo, discretamente, após o momento quase solene. Aqui a gente percebe bastante a influência de Daft Punk. A banda tem como principal característica o eletropop, mas que não foi muito percebido nesse show, em que o soul e o funk dominaram, salvo em canções como essa. "Iknowhowifeel" vem em seguida, mantendo o swing. Outro lance bem legal, é que cada hora um integrante fala com o público. Eles tem essa filosofia de não terem um líder, de ser uma banda de todos, mesmo.

Antes de cantarem "Leaveyourlove", eles convidam para o palco a cantora portuguesa Maro. A canção vem sendo gravada em diversas versões, com participações especiais pelo mundo, principalmente na Europa, onde eles se instalaram (Alemanha), que mescla trechos em inglês, português, espanhol... Que delícia de música, de voz, de arranjo...

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O momento mais virtuoso veio na maravilhosa e agitada "Lordhenry", com um show de cozinha na intro, para em seguida "Yougotmefeeling", desta vez cantada por um concentradíssimo baixista Noah Hill. Os meninos até tentam, mas se munindo de elementos percussivos em torno do baterista, tais como pandeiros, cowbells, entre outros, arriscam ali uma fusão com o samba (esses gringos bons de música não resistem). Mas não sei se rolou, não.

A derradeira canção, "Somethingggreater", já traz umas distorções que a tia aqui gosta. Tia que se sentiu confortável até em ver o jeito que os meninos abraçam os seus instrumentos, quase no peito, com atenção, com carinho, querendo ouvir das cordas mais do que dos amplis, como se fazia antes do advento hardcore, no joelho. O jogo de luz na despedida até destoa um pouco, mas traduz o que ia na alma de quem viveu a experiência de ver uma banda quase perfeita ao vivo. 

Noemi MacHado

Passou dos vinte há algum tempo, foi desencaminhada pelo Genesis, Queen e Led Zeppelin ainda na infância e conviveu com bandas de rock a vida quase toda. Apresentadora do programa ARNews na Rádio Planet Rock e Rádio Oceânica FM, também é produtora de eventos, gestora do coletivo Arariboia Rock e colaboradora do site Rock On Board.

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