Incubus
Morning View XXIII
⭐⭐⭐✰✰3/5
Por Bruno Eduardo
A pandemia impediu que o Incubus pudesse fazer uma turnê de 20 anos de 'Morning View', seu álbum mais popular. No entanto, a banda não desistiu de comemorar, e optou por uma ação curiosa. Ao invés de um tributo, que tal regravar o álbum inteiro tentando soar como uma banda nos dias de hoje? E foi isso que eles fizeram. 'Morning View XXIII', disponível em todas as plataformas de streaming, é uma versão atualizada do disco numa pegada ao vivo, com todas as suas evoluções de palco nesses últimos 23 anos.
Lançado em 2001, mais de um mês após os ataques de 11 de setembro, 'Morning View' estabeleceu de vez a banda no mercado musical como um dos grandes nomes do rock contemporâneo. Sonoramente, o álbum é uma evolução mais comercial do ótimo 'Make Yourself' (lançado em 1999), e se destaca pelas melodias mais cuidadosas de Brandon Boyd e pelo peso das guitarras de Mike Einziger. Após esse disco, o Incubus evoluiu para algo mais progressivo, explorando ao máximo a capacidade individual de seus excelentes músicos, beirando muitas vezes em performances psicodélicas / experimentais - como pôde ser conferido no DVD 'Live At Red Rocks', lançado em 2004.
Numa análise mais crua, podemos dizer que não há muita diferença estética deste 'Morning View XXIII' em comparação ao disco original. A impressão é como se estivéssemos ouvindo a banda tocando o álbum na íntegra, só que em versão ao vivo. Mas a principal diferença é, claro, na formação. Do time que gravou o 'Morning View' em 2001, não temos mais o baixista Dirk Lance, que saiu logo após a turnê, dando lugar ao ótimo Ben Kenney, que também não está mais na banda. Ben teve um tumor cerebral e acabou deixando o grupo para cuidar de sua vida. Com isso, a baixista Nicole Row foi oficializada como nova integrante do Incubus no início do ano, e acaba participando desta gravação.
Logo no início, as viagens psicodélicas das versões "live", já aparecem presentes na introdução de "Nice To Know You", uma das mais fortes do álbum. Por ser uma gravação mais direta e crua, a sonoridade parece mais seca e pesada também - sem aquelas pinceladas de polimento das mixagens. No entanto, é bom dizer, que 'Morning View' foi produzido numa fase em que a banda queria soar mais direta - distanciando-se um pouco mais de elementos como samplers e vinhetas. Tanto que na época da gravação, eles resolveram se trancar numa mansão e registraram tudo numa grande sala.
A ideia de reproduzir o disco na íntegra de novo, serviu para constatar também que este é sim, um disco para palcos. E isso fica mais evidente em momentos "mais pressão" deste 'Morning View XXIII', como no riff pesadão de "Circles" - capaz ainda de fazer tremer todas as caixas de som domésticas no mundo inteiro. A voz de Brandon Boyd, também continua lá. Mesmo já demonstrando alguns reflexos da idade, ele continua sabendo alcançar tons mais altos sem escorregar - como na variação melódica de "11 am" ou na exigente explosão de "Just A Phase", que chama lá no alto - e ele não foge.
Há outros elementos dignos de nota, como por exemplo, a bateria do sensacional Jose Pasillas. Por se tratar de execuções ao vivo, é possível ver todas as suas inclusões técnicas, improvisos e viradas espetaculares, que não cabem dentro de um modelo de estúdio. Com isso, a liberdade que a banda tem no palco fica evidente em alguns momentos desse 'Morning View' reproduzido. Basta ouvir a levada de "Are You In?", com palmas e DJs atacando forte, ou o vocal mais despojado de Boyd em "Under My Umbrella", para entender o grau de apresentação particular neste registro.
Sinceramente, é até difícil encontrar alguma justificativa artisticamente plausível que torne um lançamento como este atrativo, mesmo para os fãs mais fiéis. Afinal, é uma banda regravando o mesmo disco, quase que forma fidedigna. Talvez a melhor homenagem seria reouvir o álbum original, já que é lá que está o frescor capaz de explicar os motivos que tornam estas canções tão atraentes. Mas no fim das contas, este 'Morning View XXIII' acaba sendo uma boa alternativa para um resgate do álbum, que não chega a ser icônico para o mundo do rock, mas que merece uma audição especial e cuidadosa em qualquer época.
