Em novo álbum, Lamb of God compensa pouca criatividade com músicas empolgantes

Lamb Of God está de volta com um novo trabalho após 5 anos

Lamb Of God
Lamb Of God
⭐⭐⭐ 3/5
Por  Lucas Scaliza 

Já estávamos com saudades do Lamb of God. Foram 5 anos desde o ótimo Sturm und Drang, após Randy Blythe ter encarado a condenação e a prisão polonesa. Com as contas acertadas e uma ótima resposta aos fãs, o que uma banda faz a seguir?

No caso deles, a resposta foi lançar um competente novo álbum, cujo título é o nome da própria banda, recheado de grooves e riffs empolgantes. É para nenhum fã sentir falta de oportunidades para balançar a massa cinzenta enquanto Mark Morton, Willie Adler, John Campbell e Art Cruz mostram fibra de ponta a ponta de Lamb of God.

Embora não seja um grupo com o corpo sonoro de que são capazes os nove músicos do Slipknot, o álbum se esforça para que nenhuma faixa deixe a energia cair. É um quesito que We Are Not Your Kind também valorizou, mas a diferença é que Blythe é um vocalista comprometido com os guturais e não cede aos vocais melódicos e limpos nos refrãos, como faz a banda de Iowa. A vociferação é default. Ainda que não soem tão pesados quanto tantas outras bandas hoje em dia, evitam também os refrãos estrategicamente compostos para ter sensibilidade pop. Assim, os riffs são os grandes atratores de simpatia.

O título do álbum soa genérico porque o produto não tem mesmo grandes pretensões: uma coleção de faixas que mostram menos um projeto coeso e mais uma banda coesa, exercendo seu death metal sem almejar dar um passo para qualquer nova direção que seja. "Routes", por exemplo, é o thrash feito sob demanda para o público. Impossível não imaginar a roda abrindo para uma ciranda de socos e pontapés.

"Memento Mori", "Reality Bath" e "Bloodshot Eyes" possuem aberturas bastante interessantes, mas logo depois caem em um andamento comum para os americanos. Poderiam confiar mais em si mesmos e no público, que poderia curtir faixas um pouco mais lentas e com mais suspense, com um senso de ameaça perscrutando cada acorde, do que sempre achar que um ataque frontal (num disco cheio de ataques frontais) é o melhor caminho a seguir todas as vezes.

Apesar da solidez, Lamb of God sofre de um mal que o Sepultura soube evitar muito bem em seus dois últimos álbuns - a repetição de padrões, seja de riffs ou de estrutura musical, ou mesmo a forma como a bateria se comporta. Não me entendam mal: guitarras e baterias estão ótimos, contudo sempre tão parecidos umas com as outras, fazendo com que poucos momentos sejam realmente únicos. Quando James Jasta (Hatebreed) abre sua boca em "Poison Dream" você tem certeza de que algo mudou na equação, e isso é um momento singular em Lamb of God. Uma pena que a singularidade seja tão escassez dessa vez.

Em retrospecto, ouvir New American Gospel hoje, lançado 20 anos atrás, é uma paulada muito maior e muito menos previsível. Lamb of God é muito redondo e mais maduro também, mas não traz nenhum elemento que destaque a banda no cenário. Uma faixa como "O.D.H.G.A.B.F.E." tem menos arestas aparadas do que qualquer nova faixa do grupo, mas é um heavy metal mais tesão do que qualquer outra contida em Lamb of God.

Não adianta culpar Art Cruz, o novo baterista, na hora de equacionar porque o grupo não propôs nada de novo. Cruz faz com maestria o que se espera dele nessa banda. Talvez seja um problema na hora da composição. E Josh Wilbur, que mais uma vez foi o produtor do LoG em estúdio, pode ser acusado tanto por não incentivar novas ideias quanto por manter a sonoridade firme e forte.

Lamb of God é divertido e, de certa forma, acessível. Mantém o ouvinte interessado e empolgado do começo ao fim. Não reinventa a roda e nem se compromete com a criatividade. É competente e o que entrega satisfaz.

Lucas Scaliza

Jornalista, músico sem banda e estrategista de marca. Não abre mão de acompanhar os sons do agora. Joga tarô e já foi host de podcast.

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