Ney Matogrosso reafirma sua autenticidade em espetáculo de grande arena

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
Assistir a um show de Ney Matogrosso é sempre mais do que só uma apresentação de música. Durante toda a turnê Homem com H, o cantor vem entregando um espetáculo que mistura presença, liberdade e uma impressionante vitalidade — sem recorrer à nostalgia fácil. E o espetáculo desse último dia 21, no Allianz Parque, não foi diferente, fechando com chave de ouro o ano de 2025.

Desde a primeira aparição, Ney ocupa o palco de forma impecável. Aos seus 84 anos, movimenta-se com precisão, domínio e uma energia que desafia qualquer expectativa sobre idade, dando inveja aos mais novos. Não há exageros nem esforço visível. Há um artista que sabe exatamente onde está e o que quer comunicar.

O repertório percorreu diferentes momentos da carreira, reunindo canções que seguem atuais tanto musical quanto simbolicamente. Clássicos como “O Vira”, “Balada do Louco” e o hino “Sangue Latino” tiveram espaço marcante e dominaram o público. “Homem com H”, faixa que dá nome à turnê, ganhou novos contornos ao ser apresentada, soando menos como provocação isolada e mais como um retrato coerente de uma trajetória inteira marcada pela liberdade de expressão.

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
E não ficaram de lado os tradicionais covers, como “Jardins da Babilônia”, “Pavão Mysteriozo”, “Iolanda” e “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, fazendo homenagens a outros gigantes da música brasileira. O setlist de 22 músicas foi performado de forma magistral, com poucas interações faladas com o público, mas que gerou uma conexão absoluta do início ao fim, fazendo as quase duas horas de show não parecerem mais do que 30 minutos, e deixando todos com gostinho de “quero mais”.

A banda acompanhou com sobriedade e eficiência, criando uma base sólida para que Ney conduzisse o espetáculo com voz, corpo e silêncio. Sua interpretação continua singular: intensa quando precisa, contida quando convém, sempre carregada de intenção. Cada gesto parece fazer parte da música.

O figurino, elemento inseparável da carreira do artista, também merece destaque. Seu traje dourado que já o acompanha há alguns anos segue sendo a provocação de que Ney se recusa a enquadrar e continua desafiando padrões impostos. No palco, ele não apenas canta: ele performa uma ideia de liberdade que ainda provoca reações.

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
O público, diverso em idade e perfil, respondeu com atenção e entusiasmo. Há fãs de longa data e novos admiradores, todos reunidos pela curiosidade e pelo respeito a uma figura que atravessou gerações sem deixar para trás a sua identidade.

Ao final, ficou claro que Homem com H não é um show comemorativo nem uma revisitação do passado. Trata-se de um artista em pleno presente, reafirmando que autenticidade não se desgasta com o tempo. Ney Matogrosso segue sendo incômodo, elegante e absolutamente livre — qualidades que explicam por que sua presença em cena continua tão necessária.

Carol Goldenberg

Advogada, jornalista musical e guitarrista, mas acima de tudo, amante da música desde sempre. Roadie, guitar tech e exploradora de shows e festivais pelo mundo, vivendo cada acorde como se fosse único e cada plateia como um novo universo.

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