Por que o governo de Niterói ignora as bandas de rock da cidade?

Foto: Deco Cury

Por Bruno Eduardo

Todo mundo sabe: Niterói é um berço histórico do rock nacional. Nas décadas de oitenta e noventa - muito pelo apoio da rádio Fluminense FM, conhecida como "A Maldita" - nomes que se consagrariam no primeiro escalão do rock (como Legião Urbana, Os Paralamas do Sucesso e Kid Abelha) tiveram que atravessar a Baía de Guanabara para se firmar no cenário carioca. 

Talvez por isso, Niterói é a uma das poucas capitais que possui um dia dedicado ao rock. De autoria do vereador Leonardo Giordano (PT), a cidade comemora desde 2007 o seu "Dia Municipal do Rock" em 04 de dezembro. No entanto, a data que deveria ser celebrada e fomentada como um motivador cultural de sua cena local, acaba servindo para evidenciar o descaso do governo com a cena independente.  

Isso vem acontecendo ano após ano. A realização do Festival Arariboia Rock, que comemorou sua décima edição ininterrupta no ano passado, era a forma encontrada de não deixar a data passar em branco. Porém, a cada festival realizado, ficava sempre em destaque a falta de demão por parte de sua prefeitura. Nos últimos dois anos, o festival aconteceu com a ajuda de parceiros, que garantiram o local e cederam estrutura técnica (som e iluminação). Neste ano também não houve - até o momento - qualquer auxílio das partes ligadas ao governo. Mas não faltaram pedidos de ajuda. Os gestores culturais da iniciativa, garantiram que procuraram desde o início do ano, todos os responsáveis do governo para tentar obter pelo menos um auxílio modesto para que o evento não passasse em branco. Algo como estrutura para palco e um valor simbólico para as bandas (em torno de R$2.000). A resposta foi a mesma: falta de recurso e descaso pelo tema. 

Além da falta de apoio à realização do único festival de rock independente do estado, houve tentativas - ignoradas mais uma vez - de reviver projetos antigos como o Rock Na Pista, que leva bandas de rock autorais às pistas de skate em praças públicas da cidade. Uma ótima oportunidade para um governo tão preocupado (sic) com a causa - afinal, dois skate parks foram inaugurados numa cidade onde "cultura" é tema recorrente nos discursos de TV e jornais. 

A coisa fica ainda mais feia quando você fica sabendo que no evento de rock dedicado aos 442 anos da cidade, a única banda da nova safra era de Brasília. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Esta semana vazou nas mídias sociais um suposto documento com o valor acordado para a banda Jota Quest se apresentar no Reveillón da cidade. O valor? R$ 420 mil. 

É triste saber, que num ano tão produtivo para o rock fluminense, com bandas lançando alguns dos melhores discos nacionais - como "Vermelho", da Kapitu, "A Parte Nublada do Céu", da Parola, e "Homem Bom", da Facção Caipira (que inclusive, foi destaque no Programa Supestar, da TV Globo) - não haja qualquer atenção por parte dos responsáveis pela cultura da cidade.

O rock, que já incluiu a cidade sorriso entre os maiores circuitos do país, foi deixado de lado por pessoas que acreditam que valorizar tradições é marginalizar segmentos. A pergunta que fica é: como os filhos de Niterói, da cultura local, tão citados nas propagandas políticas, podem ganhar evidência em um local onde nem os pais se interessam em saber quem são? 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

1 Comentários

  1. Ótimo texto. Não tem explicação que não má fé ou desconhecimento total do que acontece na própria cidade.

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