Rio Banda Fest: a confirmação dos Detonautas e a consagração da Nove Zero Nove

Foto: Bruno Eduardo

Por Bruno Eduardo

Uma celebração da cena. Na última quinta-feira, o Circo Voador recebeu a final do Rio Banda Fest - festival de bandas independentes que teve apoio da Prefeitura do Rio, e que se tudo der certo, precisa entrar de vez no calendário anual da cidade. De acordo com a produção, mais de trezentas bandas se inscreveram, sendo que apenas vinte se classificaram para a fase eliminatória [saiba mais AQUI]. Pois bem, por conta de tudo o que representa, não teria um lugar melhor para essa festividade do que o palco sagrado do Circo Voador - tradicionalmente conhecido por ter sido o principal reduto de quem queria espaço para tocar rock nos anos oitenta, mas que infelizmente perdeu esse valor nas décadas posteriores. Inclusive, é um grande momento para a casa voltar ao seu conceito original, assim como o Imperator vem fazendo - pelas mãos do incansável Paulo Lopez no fantástico Imperator Novo Rock

Como eu já havia afirmado em um outro texto, banda de rock de verdade não entra em festival para vencer. Tudo bem que vinte mil reais é um bom incentivo para qualquer artista, ainda mais em tempos de cachê zero para o rock autoral. Mas rock bom é rock honesto. E a nova safra de bandas independentes do Rio de Janeiro tem isso de sobra. Andando pelo local, era fácil constatar que aquilo ali não era uma disputa, e sim uma grande reunião da cena. Entre o público presente, muitos integrantes de bandas que fomentam os becos de rock da cidade prestigiavam o que seria um grande momento dessa luta constante - como a galera do Parola, Fuzzcas, Drenna e Canto Cego (das bandas que eu lembro, pois os integrantes vieram falar comigo). Produtores e incentivadores dessa nova leva de bandas cariocas também estavam no local. A única coisa que estava um pouco fora de contexto era o set do DJ, que não incluía músicas de bandas independentes - e poucas bandas de rock nacionais. Outro fator questionado pelo público no local, foi a não divulgação de quem seriam os jurados da final.

A "disputa"

Na fila que se estendia longamente na entrada do Circo Voador, era possível ver pessoas desfilando com camisas da Diabo Verde, que seria a primeira banda a se apresentar. Em cima do palco, o grupo de Paulinho Coruja só constatou o que vem fazendo nos últimos anos: hardcore visceral e muito bem executado. Já a galera do La Nuova obteve unanimidade do público quanto a comparação de seu som ao grupo carioca Los Hermanos. Mesmo não sendo uma banda de rock, eles foram bem na proposta e tiveram suas músicas cantadas pelos fãs. A Linda Lobo apresentou um modelo hard rock com vocal menos afetado, mas cheio de estripulias de Rocky Malias. Mas o melhor show da noite foi mesmo da banda Nove Zero Nove, que contou com a excelente performance de Maurício Kyann. Destaque para a música "Mendigo" - com direito a personagem transitando pelo palco - e para a jogada bem sacada de sua produção ao distribuir mãozinhas com a marca da banda. A Nove Zero Nove foi eleita pelos jurados e pelo público da internet como a melhor banda do Rio Banda Fest, e levou para casa os vinte mil reais de prêmio. Últimos a se apresentarem na disputa, os "meninos" da Sound Bullet são os menos rodados das cinco bandas concorrentes. Mesmo assim, não se intimidaram.

No caminho certo...

A noite também serviria para confirmar a bem sucedida nova fase dos Detonautas. Cada vez mais distanciados do mainstream, o grupo de Tico Santa Cruz é um bom exemplo de como uma banda pode sobreviver fazendo rock sem precisar ficar se curvando às vontades do jogo. Isso não quer dizer que eles não possam mais fazer músicas de potencial radiofônico. Na apresentação do Circo Voador, por exemplo, eles tocaram pelo menos quatro novos sucessos: a ótima "Vamos Viver", que inclusive foi anunciada por Tico como a música nova da noite, "Acredite no Seu Coração", "Quem é Você", e a pesadona "Seja Forte para Lutar" - que deixou o palco nas cores verde e amarela. O fato de executar várias músicas de seu último - e ótimo - disco, A Saga Continua, só evidencia que o grupo tem o seu valor nos dias atuais. Afinal, não é difícil encontrar em todas as canções alguma mensagem genuína para essa nova geração - seja pelo momento político ou social em que vivemos. "Temos muito orgulho de estar tocando aqui hoje com bandas novas. Queremos parabenizar o evento, mas gostaríamos de lembrar que não há derrotados aqui hoje. Nós nunca participamos e nem ganhamos qualquer festival. O que vale é o que vocês são", discursou Tico.

Foto: Bruno Eduardo

Um show do Detonautas é também uma ótima opção para aqueles que curtem a fase menos politizada da banda. Todos os grandes sucessos foram inclusos no repertório - desde as já batidas "Quando o Sol se For", "Olhos Certos" e "Outro Lugar", como as cultuadas "O Retorno de Saturno" e "O Dia Que Não Terminou". Ainda teve espaço para uma versão de "Highway To Hell" do AC/DC, e a homenagem ao vocalista Chorão, em "Tudo O Que Ela Gosta de Escutar". Mesmo sendo um show ao estilo "participação especial", o Detonautas Roque Clube não economizou munição e fez uma de suas melhores apresentações dos últimos anos no Rio de Janeiro.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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