Misturando horror trash, presença de palco magnética e um repertório recheado de clássicos, Alice Cooper roubou a cena no segundo final de semana do Best of Blues and Rock. O show marcou o tão aguardado retorno do ícone ao Brasil, após 8 anos do último show no São Paulo Trip.
Aos impressionantes 77 anos, Cooper mostra que ainda tem energia para dar e vender. Carisma, teatralidade e muita disposição foram os ingredientes de um espetáculo que fez jus à sua fama de mestre do shock rock.
Alice já escreveu seu nome na história do livro dos recordes e no Brasil: em 1974, ele reuniu cerca de 158 mil pessoas no Salão de Exposições do Anhembi, entrando para o Guinness Book como “o maior público em local fechado”, além de protagonizar o que é considerado o primeiro grande show de rock do Brasil.
Com carreira iniciada em meados dos anos 1960, o cantor nascido Vincent Damon Furnier e sua banda adotaram o nome Alice Cooper oficialmente em 1968. No ano seguinte, lançaram o primeiro álbum, Pretties for You, e o resto, como dizem, é história.
No palco, Alice Cooper entregou tudo o que os fãs esperavam e um pouco mais. O cenário reproduzia capas de jornais antigos, que foram rasgadas com uma espada logo na entrada triunfal do artista. Dali em diante, o público foi levado a uma verdadeira viagem por seu universo sombrio: guitarras afiadas, riffs pesados, sangue cenográfico, decapitação teatral, assistentes corvos, boneca de pano, bailarinas sinistras e, claro, a clássica cartola preta e os olhos pintados.
O show teve início com um trecho de "Lock Me Up", "Welcome To The Show" e o clássico "No More Mr. Nice".
"I'm Eighteen" deu o tom em um show que só estava começando, enquanto Alice performava com uma muleta.
"Billion Dollar Babies" agitou os fãs, que cantavam o refrão junto com Cooper, uma multidão usando cartolas e, assim como o artista, com os olhos pintados.
Em "Hey Stoopid", o cantor perde a paciência e "perfura" um fotógrafo invasor.
O show foi um desfile de clássicos da carreira de Cooper, passando por "Welcome To My Nightmare", mas a música que realmente agitou a noite foi sem sombra de dúvidas "Poison", hit de 1989 do álbum Trash. Em conversa com o público, o cantor disse: "Levantem as mãos se vocês são venenosos".
A banda, extremamente entrosada, garantiu o peso e a energia do show. Ao lado de Alice estavam Nita Strauss, Ryan Roxie e Tommy Henriksen nas guitarras, Chuck Garric no baixo e Glen Sobel na bateria.
Destaque especial para Nita Strauss, que, além da técnica apurada, esbanjou carisma e sintonia com Alice. Vale lembrar que ela integra a banda desde 2014, conquistando fãs mundo afora com sua presença marcante e solos poderosos.
Com um repertório enxuto e certeiro, Alice Cooper sabe agradar seus fãs como nenhum outro artista. O momento mais aguardado do show estava prestes a acontecer: a clássica cena da decapitação de Cooper na guilhotina, enquanto uma bailarina macabra desfila com a cabeça dele pelo palco.
O cantor volta pouco tempo depois, de cartola branca, para "School's Out", já em clima de festa e despedida com balões gigantes e coloridos. O professor Alice Cooper dá aula de genialidade e performance há mais de 50 anos e hoje comprovamos que ele tem os melhores alunos.
Em "Feed My Frankenstein", um boneco assustador e gigante surge no palco e, entre bolhas de sabão e uma declaração amorosa, Alice disse que ama o país e pretende voltar logo.
Mesmo que o shock rock já não cause tanto espanto quanto nos anos 70, a verdade é que poucos artistas ainda entregam um show tão visual, performático e cativante quanto Alice Cooper. Em tempos de espetáculos cada vez mais genéricos, ele segue sendo uma aula viva de como se faz um verdadeiro show de rock.