Já faz um tempo que a gente vem falando do The Inspector Cluzo aqui no Rock On Board. Em 2018, citamos o ótimo We The People Of The Soil como um dos mais interessantes daquele ano. Já no ano seguinte (2019), indicamos a banda para o público que foi até o Lollapalooza Brasil, e nós mesmos, fizemos questão de ir até o Autódromo de Interlagos conferir de perto o bom show deles no festival. Então se você ainda não ouviu falar de Laurent (guitarra, vocal principal) e Mathieu (bateria), esse duo roqueiro de agricultores orgânicos, busque na internet algumas apresentações deles em grandes festivais como Hellfest, Download e no próprio Lollapalooza - confiamos que você não vai se arrepender. Agora o The Inspector Cluzo acaba de lançar o seu novo álbum, Less Is More. Em entrevista ao Rock On Board, a dupla falou sobre esse novo trabalho e ainda revelou que está tentando uma volta ao Brasil no próximo Lollapalooza. Leia abaixo a entrevista na íntegra.
Obrigado pelo tempo de vocês! Tive o privilégio de ouvir o novo álbum, e quero dizer que gostei muito do resultado. Porque é um álbum honesto de rock, e me impressiona que sejam apenas dois caras fazendo esse barulho intenso. Podemos dizer que este é talvez o álbum mais pesado ou mais barulhento da banda?
Sim, acho que é. Porque o plano era fazer um álbum bem parecido com nossa apresentação ao vivo. Então, se você nos viu no Lollapalooza em 2019, as pessoas que estavam lá se lembram disso. Então, é muito parecido. É um álbum gravado ao vivo, sem cliques, sem faixas de apoio. Feito em apenas quatro dias. Mas estamos preparando ele há dois anos para isso, porque, você sabe, quando tocamos ao vivo, você precisa estar preparado.
Eu vi vocês ao vivo uma vez apenas. E foi justamente no show que você citou, que foi o Lollapalooza Brasil. E este álbum realmente consegue trazer a mesma energia do show. Então podemos dizer que vocês fizeram esse álbum pensando em ser um álbum para palcos?
Sim, com certeza! E isso é muito próximo da energia que apresentamos nos shows. E você sabe, é muito difícil fazer um álbum de estúdio que soe como um ao vivo. Porque às vezes é uma armadilha. Porque você não pode fazer um ao vivo em um estúdio. É como se você estivesse fazendo um show. Então é sempre complicado. Mas acho que conseguimos atingir nosso objetivo aqui.
Com certeza! Uma faixa que tem essa pegada rock dinâmico e é uma das minhas favoritas, é o "The Greenwashers". Eu realmente gosto da mixagem e da produção nessa canção, que tornou tudo mais robusto. Quem é o produtor deste álbum?
O nome dele é Vince Powell, ele é de Nashville. Ele trabalhou com Chris Stapleton, Jack White, Arctic Monkeys, The Raconteurs...
E como foi o processo de produção do disco?
Nós gravamos em quatro dias, e ao vivo, como eu disse. Gravamos três takes e escolhemos o que ficou melhor. Mas a grande produção foi antes de tocarmos a música, durante esses dois anos e tudo mais. É uma espécie de álbum do Nirvana ou do Pearl jam, como todas essas bandas dos anos 90 que estavam chegando naquele momento, sabe? No estúdio, bem preparadas porque conheciam a música, porque a tocaram 300 vezes ao vivo. E essa foi a forma de produção do álbum, com a ajuda do Vince, que nos preparou bem.
Há uma conexão com gatos neste novo álbum. Tem inclusive um gato na capa do disco. Há uma música que eu realmente gosto, chamada "Catfarm"... O que você pode falar sobre isso?
É uma música sobre um gato que mora aqui na fazenda, o que é completamente louco. É uma fazenda de gatos, o que significa que ele não é um gato que fica no sofá, sabe? Então ele está caçando pássaros, ele está tentando matar todo mundo. E você sabe, é grande aqui. Então temos a completa impressão de que você está morando na casa dele, e não na nossa casa. É a casa dele, certo?
Na música "We Win Together I'm Losing Alone", que é a faixa que abre o álbum, você fala sobre um tópico importante hoje, que é a individualidade das pessoas neste mundo das mídias sociais. Imagino que isso também aconteça no mercado agrícola, certo?
Sim, está chegando cada vez mais no distrito, enquanto na agricultura antigamente as pessoas eram muito assim. Eu diria que onde estamos, no sudoeste da França, Vasconi, ainda é assim. Ainda estamos nos ajudando, mesmo que não sejamos amigos ou que às vezes tenhamos fazendeiros de direita e fazendeiros de esquerda, mas se tivermos que fazer algo em comum, faremos. Não é um problema. Mas está desaparecendo passo a passo, infelizmente.
Falando em temas de músicas, um dos meus favoritos neste álbum é "Thoreau", que acredito que seja sobre o filósofo Henry David Thoreau.
Sim, é.
Conte-me mais sobre essa música, por favor...
É uma música sobre o filósofo, como você disse, porque ele nos influencia muito em nosso estilo de vida. Como você sabe, somos completamente independentes, autossuficientes, vivendo em uma fazenda, produzindo coisas com uma consciência ecológica muito forte. Eu diria, e acho que é uma resposta muito boa para as mudanças climáticas e como viver diante delas, porque as pessoas sempre perguntam: "Por que vamos lidar com as mudanças climáticas?". "Como nos conhecemos?". Bem, a resposta é muito simples, na verdade. Mas teremos que mudar nossa vida passo a passo durante os próximos 10 e 20 anos, e a sociedade vai mudar, gostemos ou não. Então preferimos ir em frente. Então, aqui estamos nós, autossuficientes com a alimentação, cuidando de tudo, e assim por diante.
Muitas pessoas questionam sobre o poder do rock em lutar contra o sistema. E vocês são uma banda que faz isso. Fale sobre essa importância do rock em lutar por essas causas relevantes para a sociedade.
Eu acho que é... Ou costumava ser... eu diria. Para ser honesto... acho que agora... o rock and roll está no campo, está nas fazendas, está em associação humanitária, por exemplo. As pessoas se ajudando, sabe? Pessoas ajudando quem vive em Gaza ou algo assim, de graça, e esses são os heróis do rock and roll hoje. Porque o último herói do rock and roll vivo é Neil Young, por exemplo. Mas ele é velho. É tudo coisa de Woodstock. Agora o rock and roll é apenas uma indústria, é apenas consumo, é mainstream. E essa música não é feita para isso. Então a música ainda existe, mas o ato de ser rock and roll, não. É apenas postura, sabe? Os artistas estão muito envolvidos com postura. Então eu não acho que o rock and roll pode mudar mais o mundo, porque é um espetáculo, é um show, é uma indústria. Não foi o caso em Woodstock. Você sabe que Neil Young e todos esses caras estão mudando o mundo de verdade. Como Bob Dylan, também. Bob Dylan em uma música poderia mudar o mundo. Mas agora não. As pessoas que estão mudando o mundo novamente, estão ajudando as pessoas, pessoas pobres e elas são desconhecidas. E é isso que estamos fazendo quando estamos na fazenda aqui. Estamos trabalhando com muitas pessoas. É agricultura orgânica. Nós somos os lutadores, nós somos os lutadores na primeira linha, entende?
Vi que vocês têm data para turnê nos EUA e na Europa. Há algum plano ou conversa para retornar à América do Sul, especialmente ao Brasil?
Bem, estamos trabalhando muito duro para voltar com o Lollapalooza no ano que vem. Então esse é o plano e estamos tentando. Então se você tem que dizer algo ao Marcelo Beraldo [diretor artístico do Lollapalooza Brasil], diga. Pois esse é o plano e eu sei que eles estão considerando isso. E é por isso que todas essas entrevistas e tudo mais são muito importantes.