Helloween fala sobre novo álbum, conexão com o Brasil e futuro da banda

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
O Helloween, um dos nomes mais importantes do power metal, chega em 2024 ao marco de quatro décadas de carreira. A banda alemã, pioneira do gênero, vive um momento especial: além da turnê comemorativa, prepara o lançamento de Giants and Monsters, seu novo álbum de estúdio, que chega ao público no dia 29 de agosto. Em entrevista, o vocalista Andi Deris, que integra o grupo desde 1994, compartilhou reflexões sobre a vida na estrada, o processo criativo do disco, o impacto cultural de países como Japão e Brasil e o privilégio de se conectar a diferentes gerações de fãs.

Entre aeroportos e palcos

Questionado sobre como resumiria os 40 anos de Helloween em apenas uma imagem, Deris foi direto: Provavelmente seria uma mistura de aeroportos e palcos. Às vezes parece que 50% da nossa vida é em aeroportos, em salas de espera, esperando o próximo voo.

Ele descreveu a rotina exaustiva das turnês em que o tempo entre um show e o próximo voo é muito curto, sem pausa para descanso, mas enfatizou que, apesar disso, quando sobem ao palco novamente, tudo vale a pena. Apesar disso, contou que às vezes ainda sobra um tempo para serem turistas: Quando temos tempo, podemos ser turistas e conhecer onde estamos. Mas muitas vezes só vemos a cidade da janela do carro, no caminho do aeroporto ao hotel. Isso é triste às vezes. Não é tudo glamour e ouro, definitivamente.

A surpresa dos 40 anos

Curiosamente, o marco de quatro décadas não estava no radar de Deris e dos colegas até pouco tempo atrás: Foi o nosso manager que nos lembrou. Ele disse: ‘Agora vamos fazer a turnê dos 40 anos’. E todo mundo ficou tipo: ‘Sério? Já 40 anos?’. Você não pensa nisso. Para mim, música é hobby. Quando estou em casa, toco guitarra, escrevo músicas, e não fico pensando em 30 ou 40 anos de carreira.

O vocalista encara o tempo como motivo de reflexão, mas sem nostalgia excessiva: O tempo voa, mas isso é bom. Quanto mais tempo você tem no planeta, mais você pôde aproveitar a vida. Só não pode esquecer de realmente aproveitar. Mesmo em dias estressantes, tento encontrar pelo menos dez minutos para curtir. Muitas vezes esquecemos de celebrar o momento, e aí olhamos para trás e vemos uma semana inteira perdida, vivida no automático.

Giants and Monsters: uma nova montanha-russa sonora

O álbum Giants and Monsters foi descrito por Deris como um trabalho diverso, lembrando os clássicos Keeper of the Seven Keys. Um radialista dos Estados Unidos me disse que o álbum parecia uma mistura do Keeper I com o Keeper II, porque era uma montanha-russa: músicas rápidas, depois um respiro, depois velocidade de novo, até baladas. Ele tinha razão. Para quem ainda ouve álbuns inteiros, de vinil ou CD, acho que este é perfeito.

O processo de seleção das faixas reforça essa característica. Ele contou com participação ativa do grupo que gerencia o Hellowen, que é formado por integrantes que também são fãs da banda. Havia 23 músicas prontas, das quais 10 foram escolhidas para o álbum, restando material para futuros lançamentos. Andi ainda brincou que poderiam lançar um álbum novo amanhã, sendo necessário, talvez, escrever uma só balada para que a composição ficasse completa.

Três guitarras, três vozes

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

O Helloween atual conta com três guitarristas (Michael Weikath, Kai Hansen e Sascha Gerstner) e três vocalistas (Deris, Michael Kiske e Hansen). Essa abundância de ideias exige escolhas difíceis: Às vezes você acaba gravando três ideias diferentes de guitarra para a mesma música. Combinar tudo é quase impossível. Então escolhemos a que funciona melhor. Se não fosse assim, terminaríamos fazendo jazz — e eu não gosto de jazz, ha ha.

Sobre os vocais, ele revelou que a divisão foi natural:Michael cantou o álbum inteiro, eu também, e depois decidimos junto com a produção o que funcionava melhor. Em alguns casos, unimos as vozes. Quando não estávamos satisfeitos com nenhuma versão, chamávamos o Kai, que adorou participar também nos vocais.

Outra curiosidade foi a decisão de gravar usando três kits de bateria diferentes, explorados por Dani Löble: Queríamos ter a mesma variedade que artistas de música eletrônica têm com sons prontos. Dependendo da faixa, o kit maior dava mais impacto; nas músicas rápidas, optamos pelo menor, mais definido. Foi um luxo que decidimos experimentar.

Entre o resgate e a celebração cultural: Into the Sun e This is Tokio

Duas faixas do novo álbum chamam atenção pela história por trás delas. A primeira é Into the Sun, composta por Deris e inicialmente descartada durante as gravações de Helloween (2021). O motivo, segundo o vocalista, foi a tentativa de adaptá-la para tons mais baixos: Inicialmente, decidimos gravar a música cinco semitons mais grave, seguindo a ideia da equipe de produção. Embora achássemos que seria bom para as pessoas cantarem junto, percebemos que isso fez com que a música perdesse a essência de Halloween. Embora ainda fosse uma boa música, soava como algo que poderia ser do Bon Jovi ou da Adele, e não mais do Halloween. Por isso, decidimos não incluir essa versão no álbum anterior e estou feliz por ter esperado, pois a versão atual é muito mais brilhante e é como a música foi escrita originalmente. Adoro essa versão, ainda mais com Michael cantando junto.

This is Tokio nasceu como uma homenagem direta à cultura japonesa, tão importante na trajetória do artista. A faixa traduz, em música, o impacto que o país teve sobre a vida do vocalista: Sem o Japão, provavelmente nunca teria tido uma carreira. Foi através deles que nos tornamos músicos de sucesso. Eles mudaram minha vida.” 

Ele também recorda aprendizados culturais duradouros do Japão: Lembro que, depois de um show, vi uma casa de dois mil lugares limpa, quase mais limpa do que antes. Aprendi muito com esse respeito pelo próximo e pela natureza. Hoje, quando caminho na praia e vejo lixo, recolho. Isso ficou no meu sangue.

Brasil: paixão e caos no Rock in Rio

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

O Brasil, um dos países mais fiéis ao Helloween, também gerou histórias marcantes. Deris lembra especialmente do Rock in Rio, quando ele e Michael Kiske quase perderam a hora de entrar no palco: O segurança não nos deixou entrar no backstage, mesmo com o motorista dizendo que éramos os cantores do Helloween. Tivemos que correr mais de 30 minutos com malas na mão até chegar no palco. Chegamos minutos antes da apresentação, entramos suados e já começamos a cantar. O público não percebeu, mas para nós foi desesperador. Hoje, olhando para trás, dá para rir.

Inclusão de todas as gerações de fãs

Um dos pontos altos da conversa foi quando Deris falou sobre a relação do Helloween com o público — que vai de fãs veteranos dos anos 80 a adolescentes que descobriram a banda recentemente: Isso dá mais liberdade. Podemos até trazer influências de nu metal ou metalcore, sem sermos condenados por ‘trair o metal’. O importante é que continue sendo metal, no nosso caso power metal. É um dos estilos mais abertos que existem. Você pode ter baladas, partes brutais, misturar tudo. Depois de 40 anos, podemos fazer o que quisermos, e os fãs entendem isso.

O futuro

Com Giants and Monsters prestes a chegar às lojas e plataformas digitais, Deris resume a motivação que mantém o Helloween vivo após quatro décadas: Ainda somos fãs de música. Enquanto estivermos nos divertindo, o Helloween vai continuar.

Assista a entrevista completa no vídeo abaixo

Carol Goldenberg

Advogada, jornalista musical e guitarrista, mas acima de tudo, amante da música desde sempre. Roadie, guitar tech e exploradora de shows e festivais pelo mundo, vivendo cada acorde como se fosse único e cada plateia como um novo universo.

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