Eu
tenho uma vida dedicada à música! Ver, ouvir, escrever e debater música é o que
faço desde sempre! Não sou capaz de dizer quantos shows já assisti, mas,
seguramente passam de 1.000, em suas mais variadas vertentes: rock, blues,
jazz, punk, pós-punk, new wave, metal, erudito, música sacra, reggae, soul,
funk, progressivo, psicodélico, rap, gótico, MPB, samba.
Já
vi de tudo e, confesso, poucas foram as vezes em que um show me emocionou tanto
quanto foi ao ver Jesus “Aguaje” Ramos & His The Buena Vista Orchestra! Senhoras
e senhores, que show maravilhoso! Simples assim!
O
grupo cubano, que está realizando uma extensa turnê pelo Brasil, com 23
apresentações e a maioria com ingressos esgotados, representa com alegria e
sentimento o legado da famosa Buena
Vista Social Club e cabe aqui um pouquinho de história, afinal, estamos em
um site de rock, e nem todos estão familiarizados com os ritmos tradicionais
vindos da ilha caribenha.
Foto: Ricardo A. Flávio |
Cuba é um país sofrido, claramente prejudicado pelo embargo econômico proporcionado pelos Estados Unidos, em virtude da estreita relação do país com a então União Soviética desde a revolução cubana, a partir de 1959, comandada por Fidel Castro e apoio incondicional do médico e revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara, que depôs o então ditador Fulgencio Batista. E, ainda que exista e permaneça até hoje o embargo, Cuba é um país onde a saúde e a cultura são exemplos ao mundo todo! Lá não existe analfabetismo, o esporte e a cultura geral são pontos chave para o desenvolvimento do povo e, a música, é um destaque e um tesouro a parte!
Em
1996 o guitarrista norte-americano Ry
Cooder (que tocou com muita gente importante, como os Rolling Stones e é o cara responsável por todas as guitarras que o
ator Ralph Macchio parecia tocar no
filme “Encruzilhada”, de 1986), que chegou a Cuba vindo do México, para evitar
o embargo de seu país, reuniu um seleto grupo de antigos músicos cubanos,
alguns já aposentados, criou e produziu a Buena
Vista Social Club, uma homenagem a um clube famoso entre os anos 30 e 50,
localizado no bairro Buenavista, em
Havana, onde reinavam os ritmos da ilha: Son
cubano, bolero e danzón.
Em
1997 lançaram um álbum autointitulado, de grande sucesso mundial. Recomendo
muito que assistam ao documentário Buena
Vista Social Club, de 1999, dirigido pelo cineasta alemão Win Wenders, que recebeu inúmeros
prêmios e foi inclusive indicado ao Oscar de Melhor Documentário. Após a morte
dos principais artistas do grupo, entre 2003 e 2005, o cantor Compay Segundo (95 anos), o pianista Rubén González (84 anos) e o cantor Ibrahim Ferrer (78 anos), o grupo
perdeu a força e encerrou as atividades em 2015.
Foto: Ricardo A. Flávio |
A partir de 2024, capitaneados pelo maestro, arranjador e trombonista Jesus “Aguaje” Ramos, o grupo é reorganizado e passa a atender por The Buena Vista Orchestra, trazendo os membros originais Fabian Garcia, no baixo, Luis “Betun” Mariano Valiente Marin, congas e bongô, Antonio Rubio Borayo, timba e percussão, e artistas mais jovens e não menos geniais, com destaque para a filha de Jesus “Aguaje”, a também trombonista Lorena Ramos, o trompetista Amaury Tamayo, a exuberante cantora Geidy Chapman, que tem a companhia do talentoso e cativante cantor Yuri Tejada Rodriguez, o pianista Andy Abad Acosta e que já rendeu um álbum ao vivo, “USA TOUR 2024 – 12 Live Recordings”.
O
público presente é muito variado e de todas as idades e o difícil é ficar
comportado dentro de um teatro com tanto suingue empolgante que vem do palco
desde a entrada do grupo com a clássica “Chan
Chan”. O repertório faz jus ao legado e olhando em volta ninguém se segura e se veem por toda a
plateia ombros mexendo, palmas e pés batendo.
Clássicos
como “Babalu”, “Besame Mucho” ou “Dos
Gardenias” emocionam e enquanto Yuri esbanja simpatia, Geidy Chapman
assombra a todos com sua potência vocal, que cantora! Solos de violão e
percussão empolgam, mas o dueto de trombone de pai e filha com Jesus “Aguaje” Ramos e Lorena Ramos arrepia! Amaury Tamayo, que além do trompete
também canta, tem postura discreta, mas é um talento nato. Tudo, absolutamente
tudo, é bem feito.
Foto: Ricardo A. Flávio |
No meio de tantos pontos altos em toda a apresentação, talvez o que mais emocionou foi a descida do veterano Luiz “Betun” Mariano Valiente Marin e seu bongô até a plateia, momento em que ninguém mais guardou lugar e o Teatro Celso Furtado virou um enorme salão de baile.
Após
brevíssima saída de palco, o grupo retorna para o bis com a bela “Silencio”, que conta com Jesus “Aguaje”
e a cantora Geidy Chapman dançando juntos e, já quase no final, o vocalista
Yuri pede a ajuda da plateia e solicita que todos acendam as lanternas de seus
celulares e cantem junto com ele “Candela”,
foi um espetáculo lindo de ver e participar.
Jesus “Aguaje” Ramos and His The
Buena Vista Orchestra é uma experiência que
ficará marcada por muito tempo na memória, um tributo não só ao povo cubano,
mas a toda música e cultura latino-americana, um espetáculo grandioso, de extremo bom
gosto e muito bem cuidado em todos os detalhes: ouça os discos, veja os filmes
e, se puder, não deixe de ver aos shows, sua vida agradecerá.
Bem que algum canal poderia gravar e mostrar esse show.
ResponderExcluirPodia mesmo.
ExcluirComo sempre , bons artigos. Valeu
ResponderExcluirValeu!
ExcluirQue bela resenha
ResponderExcluirA casa agradece!
ExcluirDesde la Habana Cuba, gracias por publicar los exitos de la gira de Aguaje Ramos y su orquesta Buena Vista en Brasil
ResponderExcluir¡Somos nosotros quienes os agradecemos por el gran y emocionante espectáculo!
ExcluirGracias por el reconocimiento que hace en la publicación de los musicos de la Orquesta Buena Vista y de su cantante Geidy Chapman
ResponderExcluirGeidy Chapman, ¡gracias por tu amabilidad y talento! ¡Esperamos verte de nuevo a finales de año para una nueva gira!
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