E não é que a Austrália tem mais do que Men At Work, Silverchair e cangurus? Com o alívio que a chuva deu, e a noite que cai, Empire Of The Sun promete um espetáculo de luz e som. E cumpre.
O telão por trás de uma cabeça gigante na horizontal instalada no palco, inicia os trabalhos com sua evolução de raios riscando o ar, e uma forma oval com um símbolo surge, sob um som expectativo. E para. E dá as boas vindas aos que se aglomeram diante do palco para ver. A banda se posiciona lentamente, em vãos menos iluminados do palco, as bailarinas, tais como sacerdotisas, também. E Luke Steele, que forma com Nick Littlemore a dupla que se apresenta agora, aparece como o Grande Sacerdote chinês que pretende ser, mas com uma guitarra a tiracolo. Por acaso alguém já viu o filme oitentista "Os Aventureiros do Bairro Proibido"? Gostou? Divirta-se, então.
"Changes", do ábum Ask That God (2024), é a canção que abre o show. Para quem não conhece, ou conhece superficialmente a banda, pode se surpreender. Porque a indumentária espalhafatosa, o cenário, as luzes, enfim, todo o drama, te levam antes a um lugar que nada tem a ver com o som que tocam. "The Felling You Get" faz Steele largar a guitarra e se aventurar mais à frente do palco, numa maior aproximação com o público, que claramente estava se divertindo. Ele até pega a guitarra de novo em "Half Mast", canção do álbum Walking On A Dream de 2008, mas seu solo não é ouvido por essa aqui que escreve.
O duo já conhece as terras brasileiras, e seu som é pop com eletrônico, que unido à voz fina de Steele, cria um elemento que, se não é novo, é inusitado. Um som que pode remeter aos mais velhos como uma mistura de The Cure, Pet Shop Boys com uma pitada leve de The Smiths. A guitarra que Steele toca não é a de um exímio guitarrista e nem a sua voz alcança notas sublimes. Mas ele se mexe bastante, ele interage com o público, com as bailarinas, faz o seu. As luzes trabalhadíssimas nos efeitos, o vestuário chamativo e o telão com ilustrações lindíssimas e intrigantes, fazem o resto, com a banda.
"Cherry Blossom" veio como um convite à dança, mesmo que involuntariamente. "We Are The People" traz as bailarinas vestidas com uma roupa espelhada, e assim, elas vão para a passarela do palco e dançam vigorosamente, excitando a plateia. É fascinante.
Aí, gente, uma figura, mais parecida com um polvo (personagem do clipe de "Changes") adentra o palco e Steele conversa e brinca com ele, quando "Music On The Radio" dá o tom de uma animação de festa infantil. Se entrasse um Patati ali, eu não estranharia mais. "High And Low" antecede a uma troca de roupa de Steele, que logo depois entoa "Etude", desta vez, descendo do palco para se juntar ao público. Curiosidade: um dos fãs pega o microfone da mão de Steele e canta. Mas não sai som nenhum.
"Standing On The Shore" vem com uma pegada mais rock, que pode ser influência de outro projeto de Steele, a banda de rock alternativo The Sleepy Jackson. E de fato, lembra bastante. Pra dar ênfase a esse toque, Steele, no final da música, quebra a guitarra, na mais emblemática atitude roqueira que se pode ter, e que fica completamente destoada nesse show. Mas "Alive" vem pra tirar esse gostinho de rebeldia, e finaliza o show como ele foi quase todo: muitos fogos de artifício. Muitos. Definitivamente, Empire Of The Sun é um show pra ver.