Benson Boone é daquelas vozes que você já ouviu, você gostou, você até canta um pedaço de sua música, mas talvez ainda não tenha ligado o nome à pessoa. Esse é o fenômeno dos tempos de tiktok e afins, que invadem as redes sociais, os seus aplicativos de vídeo e música, a TV, e finalmente, o seu cérebro. No caso de Boone, isso é MUITO bom.
Mais uma vez, o telão do palco mostra um pouco de sua pequena e meteórica trajetória, e o garoto do noroeste americano surge sobre uma estrutura, trajando um conjunto chamativo e brilhante com as cores brasileiras, arrematado por um cinto com a esfera azul republicana brasileira, com óculos escuros espelhados sobre o bigode cuidadosamente cultivado, e "Sorry I'm Here For Someone Else", seu último lançamento, é a trilha para o começo de uma série de saltos mortais que serão dados ao longo de todo o show. É marca registrada de família, uma vez que o pai de Boone também fazia a alegria das crianças nas festas de família. Boone chegou a integrar um time escolar de saltos ornamentais. Deixa o garoto, se eu pudesse, saltava assim também.
A voz limpa e muito bem tratada, impressiona, mesmo. Ele dá os seus agudos na hora certa, em quase todas as canções. Mas curiosamente, não cansam, pelo contrário, esperamos por aquilo. E o publico reage enlouquecido, seja nas notas altas, seja nos saltos. A também dançante "Coffe Cake" do EP Pulse, de 2023, vem em seguida, com a blueseira "Drunk In My Mind" (do álbum Fireworks & Rollerblades, de 2024) na esteira, pra dar uma acalmada.
"Cry" traz mais delicadeza e sensualidade vocal, para delírio do jovem mulherio presente. Aliás, muito me espantaria se me dissessem que a maior parte do público de hoje foi pra ver a veterana Alanis Morrisette, ou mesmo Shawn Mendes, headliner da noite, e não o galante bigode grosso da hora.
"Pretty Slowly", um tipo de country maroto, prova que Boone pode passear por vários estilos musicais com a maior desenvoltura. Oriundo de um reality que procura orientar com mãos de ferro a carreira de seus ganhadores, Boone "fugiu" do programa a conselho de sua madrinha Katy Perry, pra ter a sua independência musical resguardada, livre da inevitável corrupção de produtores sobre a sua arte. Foi a melhor decisão que tomou na vida.
Carismático, ele ameaça abrir o coletinho, para a gritaria se instalar em interlagos, e consciente de seu poder ele balança o dedinho e "nãããããoooo...". Divertido, o menino. Na sequência, "Slowly Down" (salto mortal), Death Wish Love" e "What Was" (salto mortal) antecedem o momento de celulares acesos, naquele efeito já conhecido mas que sempre dá uma emoçãozinha - por enquanto - no hit "In The Stars".
Entre saltos e conversas com o público - ele conversa bastante, brinca, rege o público no melhor estilo Freddie de ser, dá discursos motivacionais e até canta música meio inadequada para brincar - como uma versão pessoal para Day-O (The Banana Boat Song), música de protesto de trabalhadores pretos semi-escravizados da Jamaica, que só queriam que a longa noite carregando bananas acabasse, pra irem pra casa - e mostrar que adorou o Brasil e não queria ir embora.
Encaminhando para o final, "Forever And Day" e "Young American Heart" abrem a última parte do último set. E a viral "Beautiful Thing" arranca até quem não queria da inércia, no meio do povão. Se não pulou porque quis, pulou por osmose, simples assim. Ele pula pra galera, se joga, arranca a camisa (finalmente, gente!), e volta ao palco com a bandeira brasileira, se despedindo com as notas finais de fundo.
Benson Boone é um menino, um meninão, cheio de saúde, juventude, beleza e talento. Puro e raro talento que dá gosto de ouvir, e de ver. Showzão.