Camisas pretas com estampas de Iron Maiden, Nirvana, Queen e Rage Against The Machine estão entre as vestimentas usadas por gente que abre roda de pogo durante um show de trap, que fecha ao Palco Mundo nesse primeiro dia de Rock in Rio. Para os maiores de 40 / 50, a experiência de assistir a reação do público no show de Travis Scott, pode ser muito estranha.
Afinal, é difícil para quem não acompanha - e não quer acompanhar - mais a linha do tempo mercadológico, entender como um artista sem banda no palco, utilizando artifícios de estúdio como autotune e bases pré-gravadas, pode causar um alvoroço tão grande em um público, teoricamente fã de rock, num festival, que um dia, teve Freddie Mercury orquestrando uma multidão. Uma mesma multidão, que hoje canta versos que nunca foram sucessos radiofônicos, mas que reúnem bilhões de ouvintes mensais nas principais plataformas de streaming. É claro, que a maioria dos fãs que levantam as mãos e cantarolam junto as bases vocais robóticas de Travis Scott no Rock in Rio, não é do rock. Mas há gente do rock ali, sim. E isso também acontece em shows de artistas como Post Malone e afins.
A nova realidade dos números mercadológicos aponta para o trap como o movimento musical juvenil do momento. E isso vai além de dados estatísticos. Pegando como exemplo a procura de ingressos para o dia de Travis Scott no Rock in Rio, é muito provável que se o Rock in Rio tivesse oferecido (se é que não ofereceu) mais um dia para o artista como headliner, como fez com Bruno Mars no The Town, fatalmente teriam os dois dias esgotados. E isso, não é culpa do Rock in Rio, como gostam de apontar os detratores. Isso é o reflexo do modelo festivais + juventude da sua atualidade. Afinal, já tivemos edições do Rock in Rio com dois dias de Queen, dois dias de Guns N'Roses, dois dias de Prince, e por aí vai.
Mas e o show de Travis Scott? Baseado num formato que tem se tornado padrão para a nova geração de artistas de grandes arenas, o show de Travis leva o aspecto visual como a receita de bolo do momento. Muitas labaredas, muita fumaça, muitos fogos de artifício, muitos lasers, muitos efeitos nos telões. Num festival onde todos esses acessórios são utilizados a torto e direito, nada soa tão impactante, mas num show só do artista, atende bem ao desejo do público com a música que ele quer escutar.
Musicalmente, o trap é um formato que podemos chamar de padrão universal. E isso não é um demérito. Todo estilo de sucesso, acaba padronizando um segmento, e independente do saudosismo, um artista sempre quer alcançar o maior número de pessoas que puder. O fato, e que pode sim, ser questionado, são os caminhos para chegar a tal. E isso vai, claro, combinar com o desejo / gosto de cada ouvinte.
Então, se Travis Scott faz trap para roqueiros, eu não sei. Mas o show dele comprova que há uma grande demanda de jovens desprendidos de estilos ou compromisso com aquele jeito antigo de se curtir música - seja isso no bom ou no mau sentido. E a realidade é nua e crua: os festivais acompanham essa contemporaneidade.