O público, já imenso por volta de 16h, refugiava-se à sombra gigante que um esfumaçado por do sol emprestava ao Palco Mundo. Mesmo com o dia algo mais fresco que o dia anterior, os borrifadores (nova e necessária função do festival, numa cidade como o Rio de Janeiro) faziam a alegria de quem descansava sobre cangas no gramado do Rock in Rio.
Com uma pontualidade que eu desejaria ver em todos os headliners de qualquer festival nesse planeta, eis que Lulu Santos, com figurino despojado, praiano, entra dançante no principal palco do evento, tomando conta da festa. Ladeado por outro dançante, o excelente Robson Sá (vocal de apoio e percussão), esta que vos escreve fica emocionada, quando ouço a voz de Lulu entoar "Toda Forma de Amor", tendo o público inteiro de backing. Lulu Santos pode dividir algumas (poucas) opiniões, mas é inegável que sua música consegue tocar o mais empedernido coração na Cidade do Rock. Aliás, Lulu tem a companhia de uma das melhores bandas do país, sensacional.
"Um Certo Alguém" e "O Último Romântico" (esta com bastante efeito na guitarra de Lulu) vem dando a sequência de sucessos de sua carreira, e todos, absolutamente TODOS da plateia cantam, mesmo que Lulu, num hábito que talvez tenha desenvolvido pela quase obrigação de tocar esses mesmos sucessos por longos mais de 40 anos, brinque com as melodias, praticamente mudando-as, mexe com a métrica, o que deixa um pouco perdidos os fãs que sabem as letras de cor e salteado. Mas já virou um charme.
Para minha surpresa bem boa, A Sinfônica Ambulante, prata da casa de Niterói, do outro lado da Baía de Guanabara, sobe ao palco a convite de Lulu, tocando como intro, as notas de uma das músicas mais bonitas da história da música nacional, "Tempos Modernos".
Gabriel, O Pensador, parceiro de Lulu por várias vezes, também é aclamado pela galera, quando surge já metendo os primeiros versos de "Astronauta", e em sequência, "Maresia", que no meio de sua execução tem um momento de falha técnica, mas que não tira o mestre do pop brasileiro dos trilhos. Após "Apenas Mais Uma de Amor", Lulu dá o tom do que viria em seguida: aquilo seria um baile.
Lulu brinca, vai à beira do palco, acena e sorri ao público como velhos amigos, recua no palco ao empunhar a guitarra, dança, vocaliza, faz um baile, mesmo, com direito a jogo cênico e tudo, como em "Já É", em que segura um celular em uma mão e um crânio na outra, em um simbolismo filosófico.
"Como Um Onda", tocada no primeiro Rock in Rio, em 1985, realiza o que de melhor ela faz: acalmar os ânimos. De novo. Porque o frenesi que Lulu provoca com uma homenagem ao eterno síndico Tim Maia logo em seguida, com "Descobridor dos Sete Mares", tira todo mundo do chão, e quem ainda estivesse relaxado no gramado afastado, levantou, e ao comando do mestre, os passinhos de dança, bem ao estilo da charm music, tomaram conta do salão, opa, da Cidade do Rock, encerrando o show comemorativo de uma das atrações do primeiro Rock in Rio, de 40 anos atrás.
É, foi um belo entardecer.