Royal Blood comprova auge sonoro, em show tecnicamente perfeito no Circo Voador

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Não é todo dia que a gente consegue ver um dos principais nomes da última geração do rock alternativo mundial e headliner nos principais festivais da Europa, se apresentando numa casa tão particular (principalmente para os cariocas), como é o Circo Voador. Na verdade, é difícil até mesmo ver esses nomes tão comuns em grandes festivais, fazendo shows solos pelo país, quanto mais tocando em lugares tão domésticos. Dito isto, o fato de ter o Royal Blood no Brasil para apresentações mais intimistas, já era algo imperdível sob todas e quaisquer possíveis alegações.

Embora muita gente tenha reclamado dos valores do ingresso, e houvesse um certo temor pela baixa procura, um bom público compareceu ao Circo Voador para conferir a dupla britânica, que pela primeira vez faria um show bem pertinho dos seus fãs. Mas é bom lembrar, que eles já tinham passado por aqui outras vezes. Na verdade, já é a terceira visita do Royal Blood - e a terceira no Rio. As outras duas passagens foram para apresentações em grandes palcos, como o Rock in Rio (2015), e abrindo para o Pearl Jam, no Maracanã, em 2018, num roteiro de fuga do Lollapalooza, que aconteceria no dia seguinte em São Paulo.

Além de contar com um técnico de som individual, longe daqueles esquemas de festivais - inclusive utilizando-se de uma mesa de som adicional, e totalmente digital, operada ali no meio da galera -, o Royal Blood também chega ao Brasil com quatro álbuns na bagagem, incluindo um lançado no ano passado (o excelente Back To The Water Bellow) além de vários hits conquistados nesses quase dez anos desde sua primeira aparição no país.
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
O riff hipnótico de "Boilermaker" fez o chamado para os fãs se aproximarem do palco, numa espécie de aquecimento para a explosão que viria a seguir na sensacional "Out Of The Black", canção com a marca registrada do Royal Blood. O Riff pesadíssimo de Mike Kerr, e bateria totalmente quebrada de Ben Tatcher era acompanhada em sintonia pelos fãs, que cantavam tudo - inclusive as melodias instrumentais. Na sequência, "Mountains At Midnight", do novo disco, era uma amostra perfeita de como o som deles foi expandindo de forma menos alternativa, podendo assim alcançar um público muito maior. No entanto, com a maioria do repertório baseado em seu primeiro álbum, o show torna-se mais pesado e vigoroso. 

Esse peso do Royal Blood é moldado principalmente pelos riffs certeiros de Mike Kerr, um cientista estudioso, que leu todas as páginas da bíblia sagrada de Tony Iommi e decidiu aplicar isso num baixo. Com a ajuda de uma técnica apurada, efeitos e distorção, seu instrumento é facilmente confundido com uma guitarra. Basta ouvir "Come On Over" ou "Lights Out" e comprovar a competência e eficiência do rapaz, que numa banda convencional, seria o baixista, o guitarra base, o guitarra solo, e o cantor. Mesmo com todo esse protagonismo de Kerr, não dá para deixar de lado a segunda metade da laranja, que é o simpático Bem Tatcher. O Batera segura a onda para a maçaroca de efeitos e distorções que saem do Royal Blood, e também possui aqueles gestos ensaiadinhos de palco, como mergulhos na plateia, brincadeiras com os fãs das primeiras fileiras e muitas baquetas jogadas para o povo - ele repete isso em todas as apresentações.

Mas nesse show do Circo Voador, quem também dá um upgrade legal é o tecladista Darren James, que já pode ser considerado um novo integrante do grupo (já pode chamar de trio?). Músicas de texturas mais abrangentes, que começaram a permear mais o dom do Royal Blood a partir de Typhoons, ganham um cobertor quentinho com a participação de Darren, que aparece de forma mais exposta em canções como "Trouble's Coming" e "Pull Me Through".
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
É um show muito coeso. Que não perde a força em momento algum, e que tem na parte final um aumento considerável de temperatura. Começa no rockão "One Tricky Pony", explode em altas doses de fervura na maravilhosa "Little Monster"( talvez o primeiro clássico do RB), e derrete de vez as estruturas do Circo Voador no refrão de "How Did We Get So Dark?". Na verdade, nem precisava de bis, mas o protocolo reservou mais duas do início da carreira: "Ten Tonne Skeleton" e "Figure it Out".

No seu primeiro show "só seu" no Rio, o Royal Blood chega para comprovar o auge sonoro que se encontra, e constata a excelência de palco que faz deles um dos principais nomes do rock em todas as grandes arenas no mundo inteiro.

Assista abaixo a cobertura deste show em vídeo no canal Rock On Board

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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