Com casa lotada, Turnstile faz show intenso e memorável no Rio

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
O show do Turnstile numa casa abarrotada de jovens eufóricos, em plena segunda-feira, foi um golpe na boca do estômago desses que ainda teimam em tentar sepultar o rock - principalmente baseado num papo furado de que não há renovação e muito menos público interessado. A catarse provocada pelo quinteto americano, com cantoria do início ao fim e gente saindo ensopada de suor no final, só foi uma tônica de como as novas bandas e seu público se conectam nos tempos atuais. 

A empolgação da plateia era tão grande, que antes mesmo do show começar, pessoas já surfavam no mar de cabeças aglomeradas e criavam rodas de pogo mesmo sem nenhuma trilha sonora. Teve até gente fazendo passinho para "I Wanna Dance With Somebody (Who Loves Me)" de Whitney Houston, escolhida como introdução dos shows do grupo na turnê. Toda essa emoção dos fãs apenas evidenciava o clima, que era acima de tudo, uma comemoração ao fato de ter pela primeira vez no Rio, um dos grupos mais interessantes da cena hardcore mundial. 

No entanto, é bom lembrar que o Turnstile não pode ser considerado uma típica banda de hardcore. O som deles traz algo liquidificado num monte de pedaços do rock noventista. Tem algo de grunge, de alternativo, de metal, de postura e até mesmo de moda daquela geração. E para melhorar o roteiro, em cima do palco, os caras entregam performance como poucos. Do primeiro ao último segundo de show, o quinteto americano promove uma verdadeira overdose de energia, criando assim, uma conexão full time com a plateia.
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
A escolha de abrir com "Mistery", entoada pelo público do início ao fim, foi um gol de placa. A canção é uma das melhores do novo álbum (nem tão novo) e traz quase que um resumo sonoro do Turnstile - guitarras pesadas, melodia grudante e alternâncias no ritmo. Aliás, vale lembrar que o show é baseado nesse último disco deles, Glow On, lançado já há quase três anos. Desse mesmo, veio também "Endless", introduzida na sequência e que chama mais no hardcore, só que numa base cheia de balanço - algo característico no som deles. 

A cada intervalo entre uma música e outra, o coro de "TLC", pronunciado pelos fãs em inglês, ganhava a casa, e reproduzia uma tradição nos shows do grupo no mundo inteiro. A sigla, que também é um nome de uma canção do grupo, pode ser encontrada facilmente nas redes sociais que representam a banda. Ela quer dizer Turnstile Love Connection, que batizou um EP da banda, que antecipava o lançamento de seu álbum Glow On.

Um dos raros momentos que saíram do roteiro adrenalina + rodas de pogo + pula-pula, foi em "Undewater Boi". Cantada à capela pelo público logo no início, a canção é uma espécie de Cage The Elephant mais vitaminado. Tem as guitarrinhas espaciais, as vocalizações particulares, e conta com uma base sonora garantida pelos ótimos Daniel Fang (bateria) e "Freaky" Franz Lyons (baixo). Essa dupla (muito boa, por sinal) também mantém a cozinha arrumada, trazendo elementos de groove, balanço e garantindo alternâncias sonoras consideráveis. Exemplos notórios puderam ser conferidos ao vivo com "Don't Play", que teve o refrão gritado pelo plateia, e "Wild Wrld", que começa num batuque percussivo e explode num conjunto de riffs e vocais à la Beastie Boys
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Por falar nos vocais, Brendan Yates é um show a parte. O cara é um frontman dos bons e sua performance de palco segue um modelo totalmente frenético - com pulos a torto e direito e braços que dançam de forma envolvente. A voz dele também é muito marcante. O timbre agudo e interpretado cheio de energia, faz lembrar por vários momentos, outra referência do rock noventista, que é Perry Farrell, líder do Jane's Addiction. Isso fica muito, mas muito evidente, quando a banda mostra o seu lado mais excêntrico em canções como"New Heart Design" ou "I Don't Wanna Be Blind".

Outro fator que o show do Turnstile vem para comprovar, é a capacidade deles em produzir grandes hits de rock. Embora seja um show cantado pela plateia em todas as músicas, é fácil identificar os sucessos. E eles aparecem agrupados mais para o final da apresentação. "Blackout", canção que poderia estar em qualquer disco do Helmet nos anos 90, é uma pedrada certeira com riffs e estrofes de convite à cantoria geral. No mesmo estilo de riffs levanta-defunto, veio outro petardo: "Holiday", que causou grande catarse no local, com gente rolando sobre cabeças e pulando como se não houvesse amanhã.

Para encerrar um show marcado pela transpiração, "T.L.C.", uma pancada de um minuto e meio, tirou os últimos drops de energia de quem ainda tinha fôlego e pernas para pogar. Em sua primeira vez no Rio, o Turnstile comprovou a fama de bons de palco com uma apresentação intensa, contagiante e que já fica marcada como uma das noites mais memoráveis que a Sacadura 154 recebeu um dia. 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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