Ministry
HOPIUMFORTHEMASSES
⭐⭐⭐⭐⭐5/5
Por Bruno Eduardo
A longa carreira do Ministry começou em meados de 1981 e teve muitas transformações em sua base nesses mais de 40 anos de estrada. No entanto, tudo isso sobreviveu graças à genialidade e resistência criativa de Al Jourgensen, único membro remanescente da linha original do grupo, e que é uma espécie de faz tudo da banda. Todo o conceito pensado, criado, executado e lapidado no Ministry veio quase que exclusivamente da capacidade fora de série do cantor, multi-instrumentista e produtor - que por muito tempo teve Paul Barker como seu principal parceiro criativo.
Os pioneiros do Metal Industrial já possuem quase vinte álbuns de estúdio, mas a grande maioria que conhece a banda, tem em mente, quase que sempre, os petardos de sua fase mais bem sucedida comercialmente - que resultou numa trinca de discos fundamentais para difusão do metal alternativo e do techno: The Land of Rape and Honey (1988), The Mind Is a Terrible Thing to Taste (1989) e Psalm 69 (1992).
No entanto, a banda passou por muita coisa desde o seu ápice popular nos anos noventa - sofrendo inclusive com crises internas e muitas mudanças de formação. E é talvez essa biografia extensa e cheia de mutações que torna esse novo álbum tão necessário. Mas é importante ressaltar, que HOPIUMFORTHEMASSES não é um ato isolado nessa fase mais recente. Muito pelo contrário. O Ministry vem mantendo um alto nível de criação, e não é exagero afirmar que mesmo nos dias atuais, continua fazendo discos obrigatórios para os amantes do rock e para quem procura por coisas novas e interessantes. Basta escutar os dois últimos - Amerikkkant (2018) e o ótimo Moral Hygiene [eleito o melhor disco de 2021 pela bancada do O Papo é Pop] - para comprovar e entender o que estamos falando.
O fato, é que este 16º álbum de estúdio dos reis do metal industrial é certamente um dos mais coesos e contundentes da carreira. É impressionante como Jourgersen continua criando texturas e atmosferas perfeitas para seus temas, necessariamente carregado por protestos diretos e sem filtro - sempre baseados na crítica social e no ataque ao modelo político conservador.
O disco já empolga na faixa de abertura. "BDE" é a introdução perfeita para o delicioso caos sonoro de HOPIUMFORTHEMASSES. A receita é aquela que a gente conhece bem: riff de guitarra pesado, ritmo que acelera com a música e os vocais de Al entrelaçando-se perfeitamente com vários samples. Instantaneamente, salta-se aos ouvidos o peso das guitarras e a qualidade da produção. Parece que Jourgensen achou a medida sonora que ele tanto buscou em todos esses anos de laboratório, e a mixagem do novo álbum, tão quanto a espessura dos timbres, é incrivelmente perfeita.
O primeiro single, "Goddamn White Trash", fornece um sintetizador à la NIN, mas com um discurso muito mais feroz, que ataca extremistas e racistas: "Maditos brancos podres!", vocifera Jourgensen com a voz encharcada por um efeito fundo de lata, que faz lembrar o saudoso Keith Flint (Prodigy). "Just Stop Oil" mantém o ritmo, com a mesma fórmula de riff pulsante, samplers em todos os cantos e bateria marcante. Destaque nessa faixa também para o baixo de Paul D'Amour, que vai ditando as mudanças de atmosfera, seja em levadas mais cadenciadas ou frenéticas. E há um forte elemento Thrash/Groove Metal dos anos 80 e 90, principalmente nos riffs devastadores da sensacional "New Religion" e na bateria desenfreada de “TV Song 1/6 edition”.
Mas nem tudo é violento e pesado no álbum. Por exemplo, há uma bela - e interessante - parceria de Al Jourgensen com Eugene Hutz do Gogol Bordello, na agradável “Cult of Suffering” e seus backing vocals femininos. Mais uma que se encaixa nessa prateleira de canções não agressivas, é "Ricky's Hand", que começa de forma orquestral e evolui para um hit dançante, com synths oitentistas e muitas frases pré-gravadas.
Outra participação para lá de especial no álbum está em “Aryan Embarrassment”. O convidado da vez é o icônico Jello Biafra, eterno vocalista dos Dead Kennedys, conhecido por seus discursos ativistas. Sonoramente, a faixa em questão lembra o ótimo White Zombie nos seus tempos mais inspirados. Como marca registrada na carreira do grupo, há aquela velha pitada de experimentalismo em "It's Not Pretty", que é introduzida por uma sonoridade estranha, contendo violões e depois transforma-se numa versão rock pesada para pistas de dança dos infernos.
Mesmo sendo uma banda veterana, com uma vasta discografia e cheia de alternativas para ouvintes de tudo quanto é gosto, podemos afirmar que HOPIUMFORTHEMASSES consegue capturar de uma maneira fresca, moderna e lapidada, toda a essência e qualidade sonora dos álbuns mais icônicos do Ministry. E isso, é claro, joga o disco direto para a lista de melhores registros de rock que podemos ouvir em 2024.