Sob tempestade, I Wanna Be Tour traz de volta 20 anos no tempo

Foto: I Wanna Be Tour / Flashbang
 
Por  Amanda Respício 

Com atmosfera nostálgica, especialmente para a geração Y, que viveu a adolescência (querendo ou não) na chamada era Emo, o festival itinerante I Wanna Be Tour chega ao Rio de Janeiro num dia quente, abafado e cheio de expectativa. Tanto pelos artistas que se apresentariam no evento (alguns após certos hiatos), quanto pela tempestade que o carioca já sentia o cheiro de longe. Mas não tava nem aí. O festival, concebido para celebrar a fase que já foi considerada um “estilo de vida”, tem suas edições programadas para acontecer nas principais capitais do país, em uma viagem ao passado mais EMOtivo dos millenials.

A estrutura do evento demonstrava o cuidado obrigatório de distribuição de água e bebedouros, mas não não havia muito espaço de sombra para se proteger do ora mormaço, ora maçarico que esfolava a pele do desavisado, fora algumas pouquíssimas e disputadíssimas árvores. A sinalização não deixou a desejar, com bastante banheiros químicos, e a alimentação estava acessível em food trucks espalhados pelo local, com preços variados.
 
Foto: I Wanna Be Tour / Flashbang
 
Sendo um dos principais expoentes do gênero, o Fresno teve a missão de dar o pontapé ao multiconcerto. E já começa com pressão, trazendo “Quebrando as Correntes”, com o público correspondendo à altura do hit. “Vocês vão ter uma overdose de emo nacional hoje”, prometeu o vocalista Lucas Silveira, para então homenagear outro ídolo, Akira Toriyama, (criador do anime Dragon Ball, falecido recentemente), com a participação de integrantes da Plain White T’s (que tocaria em seguida), transformando o momento no “surto coletivo” do show, com “Casa Assombrada” executada por uma banda bem distante de seu passado longínquo administrado por um produtor famoso, que segundo a própria banda, tolhia o processo criativo da mesma. Neste show, vimos que a independência lhe fez bem (como não faria?).

Os rapazes da Plain White T’s, já familiarizados, chegam ao palco com uma performance mais contida na dançante “Our Time Now”, animando mais ainda os mais empolgados, mesmo estes não conhecendo bem a banda. Vale ressaltar que as bandas nacionais trouxeram mais hits que a maior parte das gringas. Com poucas diferenças do set paulista, a banda insere “Red Flags” no repertório carioca, embora “1, 2, 3, 4” e “Hey There Delilah” tenham encontrado um pouco mais de eco na plateia. Mas embalaram e fizeram a entrega.

Mayday Parade entra em seguida, iniciando o trabalho com “Oh Well, Oh Well”, sendo bem recebidos pelo público, mesmo que, não se sabe o porquê (problemas técnicos ou a inicial extrema timidez do vocal?), o som, principalmente do vocalista Derek Sanders, não se ouvia muito bem no princípio. Mas ele se redime ao sentar ao piano e cantar com mais segurança “Miserable At Best” , fazendo um quadro bonito, no todo. A banda encerra com “Jamie All Over”, justamente quando a animação se faz mais presente na galera.
 
Foto: I Wanna Be Tour / Flashbang
 
Como a única representante feminina do festival, Pitty chega majestosa no palco, tacando a pedrada com “Teto de Vidro”, e simplesmente abocanha a audiência! Todo o seu repertório, baseado integralmente na turnê ACNXX, foi cantado a plenos pulmões por todos os presentes, e até mesmo os muitos estrangeiros que estavam no evento arriscavam algumas palavras em português nos refrãos. Um dos momentos mais emocionantes cravou na romântica “Equalize”, mostrando que todos, mesmo por osmose, conheciam a letra. Quando uma simpática Pitty permite a subida de muitas fãs ao palco, para que cantem juntas a música “Me Adora”, encerrando o show, faz deste o momento mais marcante para esta que aqui escreve.

Uma confiante Boys Like Girls toma a vez no palco, se portando como um grande headliner. De fato, ao começar com o hit "Love Drunk", são acompanhados de perto pelo público. Isso acontece várias vezes, como em “Heels Over Head” e mesmo em “Thunder”, que marca o momento acústico do show, levantando milhares de bracinhos em uma dança sincronizada ao ritmo da música. A banda, com uma levada bem juvenil e algo chegada ao pop rock, entoa “Two Is Better Than One” para a alegria dos mais jovens, parceria com a atual nº 1 do pop mundial, Taylor Swift, e encerra com “The Great Escape”.
 
Foto: I Wanna Be Tour / Flashbang
 
Umas das bandas mais aguardadas do evento (para alguns, a mais aguardada), Asking Alexandria nem sobe ao palco direito, e uma roda punk se abre no meio da galera. E o vocalista Danny Worsnop nem havia entrado em cena ainda. Deixando água na boca dos fãs mais pesados ao tocar apenas a intro de “Closure”, a banda inicia de verdade o show com “Alone Again”. Num crescente que vai de vocal melódico ao screaming e gutural, a banda passeia por vários hits amados pelos fãs. “The Final Episode”, o grande carro-chefe, leva o público ao delírio. A banda fecha a apresentação, já com algumas nuvens ameaçadoras no horizonte e ainda ignoradas pela multidão, mas ainda debaixo de sol forte e mormaço sufocante, com “Alone In A Room” com muitos agradecimentos da parte da banda à presença da galera.

The Used já marca a presença entrando no palco com um Bert McCraken (vocalista) usando a bandeira brasileira como capa. “The Pretty Handsome Awkward” é o primeiro chute da bola do jogo, numa partida jogada com muita empolgação com o público. “I Caught Fire” e “Burried Myself Alive” mexeram com o emocional de todos. De longe, a banda parecia a mais feliz de todas as que estiveram no festival até aquele momento, apesar do vocalista surpreender um pouco com gestuais de dedo médio, sinais de negativo e vaias, mas que diverte o povo, que retribui nos mesmos gestos. Alguns podem ter sido de onda, outros sinceros, sei lá. A interação com a plateia foi intensa, e uma dobradinha de “A Box Full Of Sharp Object” e um trecho de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, que em São Paulo contou com a participação de Lucas Silveira, do Fresno, mas que na edição carioca seguiu sem a participação do brasileiro, encerra com a alegria de quem descobre o calor do público brasileiro e jogando rosas vermelhas (?) para a multidão. Será que ele já viu algum especial de final de ano na TV brasileira e nós não sabemos?

All Time Low entra entrando, e já na primeira “Lost In Stereo”, o vocalista Alex Gaskarth convida a todos pra cantar junto. Com muita simpatia e simplicidade, foram BEM econômicos, mas conseguiram conquistar a sua parcela no festival, com “Somethings Gotta Give” foi um dos pontos altos da apresentação, que se encerra com o hit “Dear Maria Count Me In”. Pode-se dizer que foi um respiro no meio do evento.

“Swing, Swing” é a música que o The All-American Rejects escolhe para iniciar a sua apresentação no IWBT. Sem muita empolgação para além de umas batidinhas de cabeça acompanhando o ritmo da canção, por mim descrita como fofa, apesar dos maneirismos sensuais de Tyson Ritter, vocal. O show segue o mesmo fluxo animado com “Sweat”, que não teve lugar na edição de São Paulo, e “It Ends Tonight” é a balada cantada por muitos. A banda encerra satisfatoriamente o show com “Gives You Hell”.
 
Foto: I Wanna Be Tour / Flashbang
 
O NX Zero é, sem dúvida, a grande estrela nacional desta noite. Maior nome do movimento emo no Brasil, a banda volta após um longo hiato de quase sete anos, e a expectativa dos fãs era quase tangível no evento. Os céus sentiram, e essa que aqui escreve já tem um olho no palco e outro no tempo. O vento que começava a soprar era bem vindo, mas Rio de Janeiro, no verão, sabemos como é. Seguindo a jornada, NX Zero confirma o reinado longevo em “Além de Mim” , já cantada por vozes tremidas e chorosas do meu lado. O próprio vocalista, Di Ferrero, quase não segura a emoção em alguns momentos, como em “Onde Estiver”. O resgate das memórias afetivas continua em “Pela Última Vez" e "Cedo ou Tarde". Um grande momento foi em “Só Rezo”, que simplesmente enlouqueceu a galera. A banda encerra com “Razões e Emoções” deixando os fãs realmente em êxtase.

A Day To Remember traz de volta o peso ao festival, iniciando com a conhecida “The Downfall Of Us All", animando bastante a galera junto com “All I Want”, incluindo um cadeirante que foi alçado sobre os ombros de outros fãs e levado ao palco num momento do show. O mundo caiu do firmamento com MUITA água e raios após “Mr. Highway’s Thinking About The End”, que infelizmente causou o acidente e morte de um fã. A banda segue o show, pois a morte do rapaz ainda não havia sido notificada para a produção, segundo a mesma. Esta que aqui escreve neste momento é impedida de acompanhar o show pela tempestade que desaba em cima do evento. Mas a banda completa o show, como prometido.
 
Foto: I Wanna Be Tour / Flashbang
 
Com a tempestade destruindo a cidade (mais uma vez) e regiões metropolitanas, a canadense Simple Plan atrasa o show por cerca 30 minutos – vale também destacar que o cronograma do evento foi pontualíssimo, como pouco, ou nunca se vê em festivais desse porte – pois a chuva havia tirado a visibilidade de poucos metros, quantos mais de muitos, do público para o palco. Eu mesma fui testemunha da vontade da banda de tocar logo (eu estava ao lado deles no backstage – estou sorrindo até agora), mas a prudência os fez esperar. Após a tempestade amainar (a essa altura a chuva já não era mais um incômodo, todos já assumiram que estava todos molhados e divertiram-se, como uma festa na piscina), SP sobe ao palco com “sangue nos olhos”, triunfantemente ao som da trilha sonora de Star Wars,  para “I’d Do Anything” romper a barreira do tempo, e todos os millenials voltarem ao passado. A banda passeia por seus maiores sucessos, como "Welcome to my life", "Jump", e finalmente a chuva dá trégua em "Summer Paradise”. As já esperadas homenagens em medleys para Smash Mouth com "All Star", Avril Lavigne com "Sk8ter Boy" e The Killers "Mr. Brightside", todos ícones de mais de 20 anos de existência, também não foram esquecidas. O Brasil também foi lembrado com uma singela e recorrente homenagem aos Mamonas Assassinas, desta vez com a presença do ator Rui Brissac (que interpretou Dinho no filme que conta a história da banda, morta em um acidente em 1996), cantando um trecho de “ Vira-Vira”, acompanhado de um público animadíssimo. De repente o palco é tomado por vários Scooby-Doos, criando um dos momentos mais divertidos do show, para, claro, execução de “What’s New Scooby-Doo?”. A canção que se tornou viral por ser o fundo de vídeos curtos de fãs nas redes sociais, “I’m Just A Kid” também é um momento que vale ser lembrado por quem foi. A banda encerra com “Perfect”, fazendo o carioca sair do evento feliz, queimado de sol, suado e molhado, não necessariamente nessa ordem, talvez até guardando uma lembrança por alguns dias, como uma gripe, mas extremamente satisfeitos de saber que máquinas do tempo existem, sim.

Noemi Machado

Passou dos vinte há algum tempo, foi desencaminhada pelo Gênesis, Queen e Led Zeppelin ainda na infância e conviveu com bandas de rock a vida quase toda. Apresentadora do programa ARNews na Rádio Planet Rock e Rádio Oceânica FM, também é produtora de eventos, gestora do coletivo Arariboia Rock e colaboradora do site Rock On Board.

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