Within Temptation
Bleed Out
⭐⭐⭐⭐✰4/5
Por Marcelo Alves
Desde a sua estreia, o Within Temptation
nunca quis ficar exclusivamente preso ao nicho do metal sinfônico, seja na forma
como se expressa musicalmente, seja nos temas abordados em suas letras. E mais
uma vez é isso que a banda apresenta em seu oitavo álbum de estúdio, Bleed Out,
lançado nesta sexta-feira, dia 20, e que já pode ser ouvido em todas as plataformas
digitais. Bleed Out (“Sangrando”, em tradução livre para o português) é um
disco em que a banda resolveu explorar outros aspectos do metal e do rock, mas
também um álbum em que, assim como o disco anterior, Resist (2019), o Within
Temptation se mostra conectado com o que está acontecendo no mundo e com o
desejo de se posicionar sobre isso.
Ao contrário dos tradicionais temas mitológicos e de fantasia do gênero, o novo álbum da banda holandesa reflete sobre a guerra da Ucrânia, preconceito contra minorias e questões sociais e de direitos humanos. Acima de tudo, parece que o tema central do álbum seja a liberdade. Algo que também já foi confirmado em uma série de entrevistas para promover o álbum dadas pela vocalista Sharon den Adel.
Com todas as suas faixas creditadas ao casal Den Adel e Robert Westerholt, guitarrista que agora só grava com a banda e não sai mais em turnês para poder cuidar dos três filhos deles, além do produtor Daniel Gibson, Bleed Out é um disco que começou a nascer durante a pandemia de Covid-19 e levou três anos para ser concluído. Foi no período de lockdown que a banda divulgou três singles para se manter trabalhando e conectada com os seus fãs, uma vez que a turnê que faria junto do Evanescence foi sendo adiada conforme a pandemia avançava. As músicas “Entertain you”, “The Purge” e “Shed my skin” saíram exatamente neste período entre maio de 2020 e junho de 2021. Ao longo de 2022 e 2023, o Within Temptation lançou mais quatro singles – “Don´t pray for me”, “Wireless”, “Bleed Out” e “Ritual” e assim o álbum estava praticamente pronto para ser lançado com as suas 11 faixas finais.
A partir daí é que na cabeça de Den Adel que Bleed Out se apresentou com uma temática muito clara em torno da questão da liberdade e da busca por uma justiça social. E da necessidade de a banda se posicionar criticamente sobre as mazelas do mundo. Se quando estavam escrevendo as letras, seus autores já se viram impactados pela Guerra da Ucrânia, conflito que já completa dois anos, agora mais do que nunca existe a necessidade de discursar pela paz e contra conflitos armados no momento em que o Oriente Médio se vê com mais uma batalha envolvendo Israel e o Hamas na Faixa de Gaza que já causou milhares de mortos. O planeta não para de sangrar e o Within Temptation sente a necessidade de gritar contra o horror da guerra, mesmo que isso os faça perder os fãs da turma do “arte não se mistura com política”.
“We Go to war”, “Cyanide Love”, “Worth Dying For” and “Wireless” têm uma direta referência ao conflito na Ucrânia, questão que Den Adel já havia abraçado em concertos. No ano passado, durante a turnê pela Europa em que a banda fez shows abrindo para o Iron Maiden, Den Adel sempre aparecia com uma bandeira do país enquanto cantava “Raise Your Banner”, música de Resist. Não por acaso, as três primeiras das músicas citadas acima foram composições mais recentes do processo criativo da dupla Den Adel-Westerholt, enquanto “Wireless” foi um single lançado em maio deste ano.
“We Go To War” é uma bela canção que abre
o álbum. Uma das três músicas que também conta com a participação do outro
produtor do álbum, Mathijs Thicken, na composição, a faixa tem todos os elementos tradicionais
do metal sinfônico. O uso de sintetizadores, um poderoso coro de tons apocalípticos,
o vocal operístico de sua vocalista e o peso da guitarra e da bateria dando o
tom da urgência que Den Adel entrega na letra. A denúncia do horror da guerra e
a necessidade de se juntar às fileiras para que isso acabe completam a receita
da canção: “I never thought I'd be here, so unreal to me/I can't believe my own
eyes, believe my own mind/The reality of cruelty in vain/The freedom, lives of
millions at stake/ Our hearts will be invincible, we will be unforgivable/ Won't
stand aside when our loved ones dying” (“Eu nunca pensei que estaria aqui, tão
irreal para mim/Eu não posso acreditar nos meus próprios olhos, acredito na
minha própria mente/A realidade da crueldade em vão/ A liberdade, vidas de
milhões em jogo/Nossos corações serão invencíveis, seremos imperdoáveis”).
Embora, a abertura do álbum seja de uma forma mais tradicional, Bleed Out é um disco em que o Withim Temptation explorou muito mais outros aspectos musicais. O álbum tem mais riffs de guitarra e Den Adel usou menos os seus vocais operísticos, dando espaço para outras técnicas vocais. O disco também não tem uma única canção que poderia ser interpretada como uma balada, algo que é bastante comum em álbuns de heavy metal. Uma música um pouco mais lenta e melódica para quebrar um pouco o peso do álbum. Talvez a que mais se aproxima disso seja “Cyanide Love”, outra das bonitas canções do álbum, cantada em duas línguas, inglês e alemão, e com um refrão poderoso.
Embora, a abertura do álbum seja de uma forma mais tradicional, Bleed Out é um disco em que o Withim Temptation explorou muito mais outros aspectos musicais. O álbum tem mais riffs de guitarra e Den Adel usou menos os seus vocais operísticos, dando espaço para outras técnicas vocais. O disco também não tem uma única canção que poderia ser interpretada como uma balada, algo que é bastante comum em álbuns de heavy metal. Uma música um pouco mais lenta e melódica para quebrar um pouco o peso do álbum. Talvez a que mais se aproxima disso seja “Cyanide Love”, outra das bonitas canções do álbum, cantada em duas línguas, inglês e alemão, e com um refrão poderoso.
Assim como “We go to war”, o tema da letra é a guerra e seu horror: “You’ll take it, you’ll break it/In seconds it will be done (you will get my cyanide love)/You’ll bite it, can’t fight it/ Your dead end nowhere to run (you will get my cyanide love)/ You turn around you know you can’t run away (cyanide love)/ Sunflowers will soon be growing over your grave/ You’ll take it, you’ll face it/ The barrel of my smoking gun (you will get my cyanide love)” (“Você vai pegar, você vai quebrar/Em segundos estará feito (você receberá meu amor de cianeto)/ Você vai morder, não pode lutar contra isso/Seu beco sem saída, nenhum lugar para correr (você receberá meu amor de cianeto)/ Você se vira e sabe que não pode fugir (amor cianeto)/ Os girassóis em breve crescerão sobre o seu túmulo/ Você aceitará, você enfrentará isso/ O cano da minha arma fumegante (você receberá meu amor com cianeto)”.
- Este é um disco sobre o desejo inquebrantável dos humanos de viverem livres da tirania e da opressão. Quantos também estão dispostos a dar tanto para conseguir isso não só para si, mas para os outros e para as gerações futuras. Como artista você tem essa plataforma, e podemos falar sobre chiclete. Mas também posso falar sobre coisas que importam – disse a vocalista, em entrevista à revista “Metal Hammer”.
Morte de jovem iraniana e direitos humanos
Tratar de temas tão pesados naturalmente tornou o disco mais dark que álbuns anteriores. A morte, a opressão e a tirania são conceitos que rondam todas as letras de Bleed Out. A faixa-título, por exemplo, foi inspirada pela história da iraniana Mahsa Amini, jovem curda de 22 anos que morreu em setembro do ano passado sob a custódia da policia moral iraniana por ter quebrado regras sobre o uso de véu no Irã. Sua morte provocou uma enorme onda de protestos no país e em outras partes do mundo em defesa dos direitos humanos. “Bleed Out” é sufocante a cada vez que Den Adel lembra que “ela sangra até o fim” e é toda dedicada à força e à coragem de Amini, cujo “medo morreu”, mas “seu coração ainda está intacto”.
O álbum também toca em outros temas. “Entertain you”, que fecha Bleed Out, é sobre um vídeo que Den Adel viu na internet onde uma mulher trans era intimidada por três jovens nas ruas da Inglaterra. De acordo com a cantora, a música foi escrita para mostrar que as pessoas diferentes não estão ali para o entretenimento dos outros e que todos são lindos a sua maneira. “Shed My Skin” é sobre viver de acordo com as próprias regras e livre do julgamento dos outros, enquanto "Ritual" é uma ironia acerca da expressão sexual feminina.
“Ritual”, aliás, é uma faixa cheia de duplo sentido com a narradora falando ter “a faísca para acender seu fogo” e afirmando que “você está indo buscar leite e mel”. Curiosamente, “Ritual” é a canção mais leve, quase um pop-rock muito bem perdido em meio ao peso das guitarras. Uma piscadela para os ouvintes para mostrar que nem tudo é dor na vida, mas também há algum espaço para uma descontração. Tudo, claro, com uma dose de ironia.
Bleed
Out é um belo disco de uma banda que mostra que tem muito a dizer com a sua
música. Com o novo álbum finalmente na rua, agora o Within Temptation se
prepara para sair em turnê em 2024. E as primeiras datas agendadas no site
oficial da banda serão na América do Sul, onde o grupo tocará no Equador, no
Chile nos dias 19 e 21 de abril. Depois, o grupo se apresenta na Cidade do
México, no dia 24, e volta para a América do Sul, onde tocará no festival
Summer Breeze, em São Paulo, no dia 27.
