Pitty faz passeio admirável na Cidade da Música em dia de rock

Pitty bota galera para cantar no The Town [Foto: Adriana Vieira]
 
Uma gravação de uma ligação a cobrar, de uma Pitty pedindo desculpas, pois estava “sem ficha” e dizendo ao produtor Rafael Ramos que havia enviado umas demos “pelo correio” e que levaria uns 15 dias pra chegar a ele, dava o tom de sessão nostalgia que iria arrebatar o quarentão público presente.

De fato, em um palco quase nu, exceto pelo telão e a passarela à sua frente, a sigla ACNXX seguia a linha de sua turnê-celebração, do álbum que tirou Pitty do underground da Bahia para o mundo em 2003. É, o mundo. Mas não, não ficou só no Admirável Chip Novo. Pitty resolve trazer os anos 2000 para Interlagos, fazendo um breve passeio pela sua discografia.

Pitty, do alto de seus 45 anos, linda e mergulhada no formol, empunha sua guitarra e avisa aos hipócritas: Quem não tem “Teto de Vidro” que atire a primeira pedra. Como uma pessoa que tem um teto de açúcar molhado, é com cuidado que falo do show de Pitty abrindo o Palco Skyline da Noite do Rock (um dos primeiros dias a se esgotarem os ingressos) no The Town. A novidade mesmo veio com a Nova Orquestra, formada em sua maioria por integrantes femininos, porém nada surpreendente para alguém que começou com uma banda exclusivamente feminina. 

Com todos no palco vestindo preto e roxo (literalmente o tom do palco) e exibindo sorrisos, Pitty também exibe simpatia para um público grande que a acompanhava em cada palavra de “Admirável Chip Novo” e “Máscara”, mesmo com um andamento um pouco desencontrado entre eles, banda, Pitty, orquestra e público, pelo que senti. 
 
Pitty contou com Orquestra no show [Foto: Adriana Vieira]
 
Pitty, apesar do vigor de seus movimentos no palco, não parecia ter o mesmo vigor na voz de mezzo soprano. Talvez por falta de aquecimento suficiente + nervoso - afinal, é o primeiro The Town da história e ela estava ali abrindo o palco principal no Dia do Rock - o fato é que notamos como foi hercúleo o seu esforço em chegar às notas mais altas, o que de repente pode ter sido um ponto para a ligeira diferença no andamento das canções. 

Canções tocadas ao vivo geralmente são mais dinâmicas (salvo em releituras), para que o ânimo do público cresça cada vez mais. Está claro, DÂÂÂ, que era uma releitura, havia uma orquestra, um outro arranjo, o que também não é novidade no mundo do rock. Mas não sei se nesse caso combinou, como combina para a turnê só dela.

Exceto por “Equalize”. Essa sim, ficou linda, adequadíssima, talvez por ser uma balada, e trouxe o romantismo com ela. Com uma Pitty sensualizando com a câmera, ela destruiu os roqueiros durões, que não comem mel, eles mastigam abelhas, mas babam diante dessa beldade do rock nacional.

“O Lobo” veio em seguida, nos fazendo crer que Pitty só precisava aquecer, mesmo. Voz rouca, mas mais firme e poderosa nessa hora, fez a galera uivar junto com ela. Em “Memórias”, o tom exigiu bastante e Pitty contornou bem as dificuldades de não ter a mesma voz de adolescente ao alcançar o refrão. Pouco importa, a mulher comanda e a galera obedece, e uma roda punk se forma no meio do público, fazendo geral que estava ali se emporradar de lembranças (e punhos e pontapés - e hematomas no dia seguinte) das casas de shows do submundo.

A partir de “Pulsos” (2007) deu pra ouvir um pouco mais da banda, que teve um ligeiro aumento de volume sobre a orquestra regida por Ludhymila Barbosa. A banda, formada por Martin Mendonça (guitarra), Paulo Kishimoto (baixo) e Jean Dolabella (bateria), também exibia entrosamento com a roqueira em alguns momentos do palco, como em “Na Sua Estante”.

Com a chuva ensaiando a sua queda sobre a terra da garoa, ainda deu tempo da galera ouvir “Me Adora”, de 2009, sem colocar a incômoda capa de chuva e cantar pra nossa roqueira mor que não, não vamos esperar ela ir embora para percebermos que achamos ela FODA.

Noemi MacHado

Passou dos vinte há algum tempo, foi desencaminhada pelo Genesis, Queen e Led Zeppelin ainda na infância e conviveu com bandas de rock a vida quase toda. Apresentadora do programa ARNews na Rádio Planet Rock e Rádio Oceânica FM, também é produtora de eventos, gestora do coletivo Arariboia Rock e colaboradora do site Rock On Board.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2