Detonautas,
amem ou odeiem, é uma das mais emblemáticas bandas de rock do Brasil desde os
anos 2000, com uma história e tanto pra contar. E é nesse clima nostálgico (e
parece, recorrente neste sábado, 09 de setembro) que o som de uma internet
discada se faz ouvir no palco The One.
Em seguida Tico Santa Cruz, Renato Rocha, Fabio Brasil, Philippe e Macca
entram no palco
ovacionados pelo público que chegava à grade pra ver os grandes astros da noite
do informalmente intitulado Dia do Rock no festival paulistano.
“Só Por
Hoje”, do segundo álbum da banda, Roque Marciano (2004) inicia os trabalhos da
casa, que indica seguir a linha comumente (e a meu ver, corretamente) utilizada
pela banda em festivais. Hits desfilarão sob nossas vistas e ouvidos, é
diversão e memória na certa.
Não me
enganei não, pois quando a novelística “Quando O Sol Se For” surge nos
primeiros acordes, o público ensaia os primeiros pulos no gramado, antegozando
as lembranças nas letras cantadas aos gritos.
Mas daí, cedíssimo,
para surpresa geral, Tico pede que todos no The Town acendam as lanternas de
seus celulares (ele pede ao público de casa que faça o mesmo - ?), os apontem
para baixo e só os levantem à medida que se identifiquem com a letra da canção “A
Aposta”, lançada em julho de 2023. Canção, aliás, que é uma ode à virada
política das últimas eleições. Politizado, Tico sempre foi muito prolífico em
suas redes sociais, nunca escondeu opinião, e sempre reconheceu quando errava.
Sofreu consequências, ameaças à sua vida e a da sua família, mas sempre se
posicionou em meio às trevas. Hoje, ele celebrava artisticamente o início da saída
do lodo em que estávamos.
Em tempo:
quase todos levantaram seus celulares, ufa!
“O Retorno de Saturno” traz de volta os donos da festa pro palco, se despedindo temporariamente do convidado ao entoar “Olhos Certos”.
Falando em família, um momento sempre legal e emocionante para os protagonistas, Tico chama Lucas Fontenelle, seu filho, para uma gostosa participação em “O Amanhã”.
Logo após de “Você Me Faz Tão Bem”, Tico profere um discurso em favor da democracia, da tolerância e sobretudo, do amor. Pede que cada um olhe à sua esquerda e à sua direita e abrace os que estão ao lado. E assim foi. Me senti numa missa, apesar de Tico dizer (e eu concordo com ele) que não importa o credo (ou falta dele, Tico), classe, cor, gênero, o que importa é que Deus é amor. Finaliza dizendo ser The Town uma celebração ao amor. Legal, mas exagerou aí. The Town tá mais pra entretenimento milionário, mesmo. Ninguém pagou ingresso no amor... Mas tá válido, o ódio exaure, mesmo, são necessárias ofensivas como essa.
E Vitor Kley volta travestido de roqueiro pra cantar cheio de atitude um dos maiores sucessos da banda com direito a roda punk (a pedidos), que ficou BEM ficou bonito de ver, mesmo. “Outro Lugar” é indispensável nesse carrossel de 20 anos de Detonautas, mostrando que lugar de celebrar o amor, democracia e rock é onde a gente quiser, e se quiser, vestido de conjunto amarelo, sim senhor.