Com Detonautas, o clube do rock se instala no The Town

Tico Santa Cruz pedindo para a galera cantar alto [Foto: Adriana Vieira]
 
Pouco antes de subir ao palco, Detonautas e Vitor Kley davam uma breve entrevista em que o cantor mais novo dizia ter sido muito influenciado pela banda em sua carreira artística. Tico então diz que a parceria com Kley se deu a uma sugestão de Zé Ricardo, vice-presidente artístico do The Town (e do Rock In Rio – o maior festival de música do país), e prometiam um bela apresentação.

Detonautas, amem ou odeiem, é uma das mais emblemáticas bandas de rock do Brasil desde os anos 2000, com uma história e tanto pra contar. E é nesse clima nostálgico (e parece, recorrente neste sábado, 09 de setembro) que o som de uma internet discada se faz ouvir no palco The One.

Em seguida Tico Santa Cruz, Renato Rocha, Fabio Brasil, Philippe e Macca entram no palco ovacionados pelo público que chegava à grade pra ver os grandes astros da noite do informalmente intitulado Dia do Rock no festival paulistano.

“Só Por Hoje”, do segundo álbum da banda, Roque Marciano (2004) inicia os trabalhos da casa, que indica seguir a linha comumente (e a meu ver, corretamente) utilizada pela banda em festivais. Hits desfilarão sob nossas vistas e ouvidos, é diversão e memória na certa.

Não me enganei não, pois quando a novelística “Quando O Sol Se For” surge nos primeiros acordes, o público ensaia os primeiros pulos no gramado, antegozando as lembranças nas letras cantadas aos gritos.

Mas daí, cedíssimo, para surpresa geral, Tico pede que todos no The Town acendam as lanternas de seus celulares (ele pede ao público de casa que faça o mesmo - ?), os apontem para baixo e só os levantem à medida que se identifiquem com a letra da canção “A Aposta”, lançada em julho de 2023. Canção, aliás, que é uma ode à virada política das últimas eleições. Politizado, Tico sempre foi muito prolífico em suas redes sociais, nunca escondeu opinião, e sempre reconheceu quando errava. Sofreu consequências, ameaças à sua vida e a da sua família, mas sempre se posicionou em meio às trevas. Hoje, ele celebrava artisticamente o início da saída do lodo em que estávamos.

Em tempo: quase todos levantaram seus celulares, ufa!

Tico Santa Cruz se emocionou com o filho no palco [Foto: Adriana Vieira]

“Send U Back” e “O Dia Que Não Terminou” (ambos de 2004) antecedem a chegada de Vitor Kley ao palco, portando um violão, de cabelos soltos, que dava uma vontade de sentar na beira da praia, ao pôr-do-sol... ainda mais que as músicas que cantariam juntos seriam “Morena” e logo depois “O Sol”, dois sucessos de Kley, que tem uma sonoridade bem diferente, apesar da influência recebida quando adolescente. Destoou bem da pegada da banda.

“O Retorno de Saturno” traz de volta os donos da festa pro palco, se despedindo temporariamente do convidado ao entoar “Olhos Certos”.

Falando em família, um momento sempre legal e emocionante para os protagonistas, Tico chama Lucas Fontenelle, seu filho, para uma gostosa participação em “O Amanhã”.

Logo após de “Você Me Faz Tão Bem”, Tico profere um discurso em favor da democracia, da tolerância e sobretudo, do amor. Pede que cada um olhe à sua esquerda e à sua direita e abrace os que estão ao lado. E assim foi. Me senti numa missa, apesar de Tico dizer (e eu concordo com ele) que não importa o credo (ou falta dele, Tico), classe, cor, gênero, o que importa é que Deus é amor. Finaliza dizendo ser The Town uma celebração ao amor. Legal, mas exagerou aí. The Town tá mais pra entretenimento milionário, mesmo. Ninguém pagou ingresso no amor... Mas tá válido, o ódio exaure, mesmo, são necessárias ofensivas como essa.

E Vitor Kley volta travestido de roqueiro pra cantar cheio de atitude um dos maiores sucessos da banda com direito a roda punk (a pedidos), que ficou BEM ficou bonito de ver, mesmo. “Outro Lugar” é indispensável nesse carrossel de 20 anos de Detonautas, mostrando que lugar de celebrar o amor, democracia e rock é onde a gente quiser, e se quiser, vestido de conjunto amarelo, sim senhor.

Noemi MacHado

Passou dos vinte há algum tempo, foi desencaminhada pelo Genesis, Queen e Led Zeppelin ainda na infância e conviveu com bandas de rock a vida quase toda. Apresentadora do programa ARNews na Rádio Planet Rock e Rádio Oceânica FM, também é produtora de eventos, gestora do coletivo Arariboia Rock e colaboradora do site Rock On Board.

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