Voltando ao começo da década de 90. Me recordo que o
mercado fonográfico estava em transição: os artistas ainda lançavam seus álbuns
nos formatos LP e Cassete, mas, aos poucos chegavam junto ao mercado os,
caríssimos, Compact Discs. Não tardou para o preço dos CD’s cair, o cassete se
aposentar e os discos de vinil ter suas produções interrompidas. Ninguém queria
saber dos “bolachões”, o CD era mais fácil de armazenar, fácil de ouvir, você
escolhia diretamente a faixa que queria ouvir através de um controle remoto e,
havia a (falsa) propaganda de que o CD apresentava o som perfeito, limpo e
cristalino, sem os chiados que ouvíamos há décadas nos discos de vinil.
Aos resistentes, havia o argumento de que as capas dos
LP’s são verdadeiras obras de arte, os encartes são mais fáceis de ler, mais
caprichados. Caiu por terra logo, a cada dia que passa me parece que ninguém
mais (ou a grande maioria das pessoas consumidoras) liga para letra, ficha
técnica ou qualquer outra coisa escrita.
Aconteceu comigo e com a maioria das pessoas: trocamos as
coleções de vinil por CD’s. Chegávamos ao cúmulo de ir numa loja nas galerias
de discos do Centro de São Paulo e trocar absurdamente três, quatro, CINCO
discos de vinil por UM compact disc!
Anos se passam e o tal imbatível CD, foi caindo no
ostracismo! Com o avanço da tecnologia, inventaram o tal de MP3, um arquivinho
digital fácil de conseguir, de graça, com tudo aquilo que o público quer ouvir.
Temos o problema da pirataria... e inventaram o streaming! Uma forma injusta de
remunerar o artista, mas, ainda assim, é legal e remunerado, mal e porcamente,
mas é.
Fragilidade dos CDs em questão...
Chegamos ao fato de que o CD NÃO É ETERNO! O compact disc que não é bem cuidado oxida e tem dados apagados e, lembra-se daquele velho e empoeirado disco de vinil? Se você colocar uma agulha sobre ele, o mesmo TOCA!
E enquanto o CD vai decaindo, devagarinho, vão aparecendo novos interessados nos velhos bolachões, e tem de tudo, tanto velhos saudosistas que mantiveram seus discos, como molecada que se interessou pelos discos de pais e avós e ficou fascinada por todo o “ritual” de se ouvir um disco de vinil.
De volta ao mercado
O mercado de discos de vinil se aqueceu e inflacionou de forma assustadora! Lojas cobram quinhentos reais num LP usado sem peso na consciência e... VENDE! E, de uma hora para outra, inúmeros foram os selos que surgiram no mercado com lançamentos caprichados, que podem ser desde o relançamento de um clássico fora de catálogo, como novidades fresquíssimas, sempre com acabamento esmerado, com o vinil pesado, muitas vezes colorido, encartes detalhados e capas caprichadas, em papel grosso e de qualidade bem acima da média do que conhecíamos décadas atrás.
São tantos os selos, que é impossível eu citar todos aqui num breve relato da cena atual, mas, tentarei lembrar alguns dos mais importantes do momento. E tem para todo gosto!
Polysom viu o futuro repetir o passado...
Com a procura pelos velhos discos de vinil empoeirados nos
sebos espalhados em todo canto, acredito que os primeiros a ter a visão de que
essa poderia ser uma saída para o cambaleante mercado fonográfico, foram os
cariocas da POLYSOM. A fábrica de vinil, fundada em 1999 na baixada fluminense
se manteve no mercado até 2007, quando, em crise, foi obrigada a fechar as
portas, e neste período, esteve basicamente atendendo igrejas evangélicas e sua
altíssima demanda por discos ecumênicos, já que a música popular havia
abandonado o formato em detrimento do CD. Em fins de 2008, de olho no mercado
em expansão nos EUA e Europa, a gravadora DECKDISC vislumbrou a ideia de
adquirir os equipamentos da velha fábrica e em 2009 a aquisição foi
oficializada. Por um bom tempo, a Polysom era a única fábrica de discos em funcionamento
na América Latina, produzindo vinis principalmente para as majors Universal Music, Sony
Music e Som Livre, além do próprio cast da Deckdisc e encontrando espaço para
atender outros pequenos selos. Produzindo lançamentos concorridos com o último
álbum dos mineiros do BLACK PANTERA, e relançando muita coisa como MARISA
MONTE, ALCEU VALENÇA, GILBERTO GIL, RAUL SEIXAS e O RAPPA, por exemplo, a
Polysom é nome fortíssimo no mercado, sempre vale a procura ali: http://polysom.com.br/site/.
Com a enorme procura de diversos selos, a fila de espera
para produção de um LP na Polysom ficou enorme, chegando há vários meses, e os
pequenos selos procuraram outras alternativas: novas fábricas abriram as portas
no país, e muitos dos selos independentes está mandando produzir seus trabalhos
no exterior, principalmente na Argentina, Portugal e República Tcheca.
Läjä Records
Lá do Espírito Santo, capitaneada por Fábio Mozine, tem a Läjä Records, selo independente que lança muita gente interessante, que vai da lambada do FIGUEROAS aos discos das bandas do anfitrião, caso de MUKEKA DI RATO, MERDA, OS PEDRERO ou ARAME, atuando também como distribuidora, a Läjä Records atende todo o país, com discos de vinil, CD’s, camisetas, meias, livros e o que mais o underground produzir. Vale a visita: https://lajarecords.lojavirtualnuvem.com.br/
Red Star Recordings
De São Paulo, com Jeferson Bem à frente, a Red Star
Recordings é a casa do punk rock. Com vasto catálogo de CD’s lançados, que incluem
lançamentos de clássicos nomes gringos, como D.O.A, do Canadá, RASTA KNAST, da
Alemanha, NEW MODEL ARMY e DISCHARGE, da Inglaterra, dentre outros, também
passou a investir no vinil, e tem participação em lançamentos como DEVOTOS, o
trabalho solo do guitarrista dos Ratos de Porão, JÃO & A DECADENTE FAMÍLIA
BRASILEIRA, DESERDADOS, AGROTÓXICO, FLICTS e outras coisas bacanas, dá uma
olhada na loja dos caras: https://redstar77.com/
Noize Record Club
Uma ideia bacana que já tem alguns selos adeptos é o “clube do vinil”, caso da Revista Noize, que lançou o NOIZE RECORD CLUB, onde por uma assinatura mensal ou bimestral, o assinante recebe em casa discos caprichadíssimos e exclusivos, como o último álbum do PLANET HEMP, o já cultuado “Jardineiros”, ou o último de CAETANO VELOSO, o ótimo “Meu Coco”. No catálogo, além de lançamentos inéditos, existem discos relançados de gente como SANDRA SÁ, RAUL SEIXAS, GILBERTO GIL, HERMETO PASCHOAL, ITAMAR ASSUMPÇÃO, MILTON NASCIMENTO e muitos artistas novos, como ANELIS ASSUMPÇÃO, RACHEL REIS, LINIKER, RODRIGO AMARANTE, CRIOLO. Existe a possibilidade de comprar álbuns avulsos, um pouco mais caros e em tiragem limitada, vale uma fuçada: https://www.noizerecordclub.com.br/
Pecúlio Discos
De Santos, litoral de São Paulo, vem a PECÚLIO DISCOS, do baterista dos Ratos de Porão, Maurício Boka. Como distribuidora você encontrará ali lançamentos diversos do underground, mas o legal mesmo são os lançamentos próprios, de bandas como o ótimo APNEA ou o SURRA, grande nome da atual cena do hardcore nacional. Vá sem medo: https://www.peculiodiscos.com.br/
Limaia Discos
Legal também quando a banda cria seu próprio selo, caso
da LIMAIA DISCOS, que lança os álbuns dos sergipanos THE BAGGIOS, e que tem em
seu catálogo também o trabalho solo do vocalista JULICO e a banda psicodélica
alagoana MOPHO. Música nordestina de muita qualidade, temos aqui: https://www.limaiadiscos.com.br/
Estúdio Caixa de Som
Também preciso falar do ESTÚDIO CAIXA DE SOM, que lançou o último disco de estúdio do grupo IRA!, “Ira”, de 2020, muito bonito e caprichado e no catálogo também tem disco inédito dos 3 HOMBRES, “Sob o Sol que Nunca Morre”, cultuada banda paulistana dos anos 80. Não dá para não falar de DOM SALVADOR TRIO, que aparece aqui com “Samborium”, álbum de 2022, do pianista Dom Salvador, mestre do samba-jazz / samba-funk carioca. Poucos, mas bons: https://www.estudiocaixadesom.com.br/
Vinil Brasil
Outro “seleiro de craques” é o selo VINIL BRASIL, responsável pela prensagem do último disco dos pernambucanos da DEVOTOS, o ótimo “Devotos Punk Reggae” e muita coisa boa, como JÚPITER MAÇÃ, B-NEGÃO & OS SELETORES DE FRENQUÊNCIA, EDGARD SCANDURRA, BANDA DE PÍFANOS DE CARUARU, BANDA BLACK RIO, AUTORAMAS, Z’AFRICA BRASIL, THAÍDE, MUNDO LIVRE S/A, e grande elenco, garimpe lá: https://www.vinilbrasil.com.br/
E, sempre é bom lembrar que a união faz a força, ainda
mais em meio aos independentes, sendo assim, não posso deixar de falar de dois
selos FUZZ ON DISCOS e TRÊS SELOS, duas uniões de três selos cada, responsáveis
por um catálogo extenso e de produção caprichadíssima.
Fuzz On Discos
A FUZZ ON DISCOS é a junção da Anomalia Discos, de Santo André – SP, da Melômano Discos, de Maringá – PR e da Neves Records, de Santa Bárbara D’Oeste – SP. No site que cada selo é possível encontrar vinis e CD’s diversos, mas, o catálogo do selo é o que interessa aqui, e os lançamentos são caprichadíssimos, como KRISIUM, RATOS DE PORÃO, NERVOSA, JIMMY & RATS, MUSICA DIABLO, JOÃO GORDO & ASTEROIDES TRIO e o lindíssimo relançamento do primeiro disco de LITTLE QUAIL AND THE MAD BIRDS, banda noventista do Gabriel Thomaz, dos Autoramas. Se liga: h ttps://www.fuzzondiscos.com.br/
Três Selos
Já a TRÊS SELOS reúne três parceiros de São Paulo, Capital, que são Assustado Discos, EA-EO Records e Nada Nada Discos / Discos Nada. Tem dois modos de atuação, um “clube do disco”, onde por uma assinatura mensal o assinante tem acesso a caprichados lançamentos mensais, sempre com qualidade muito acima da média. E também a “Três Selos Paralelo”, onde podem se comprar os títulos avulsos. Já vi gente reclamar dos preços, mas, valem cada centavo! Primeiro devemos lembrar que a produção é quase que artesanal, em tiragens limitadas e de bom gosto extremo, tanto álbuns simples, como, principalmente, as Box sets. O catálogo é muito variado, tem desde relançamentos como o “GRITO SUBURBANO”, primeiro disco de punk rock brasileiro, CÓLERA, RATOS DE PORÃO, misturados com gente boa como SIBA, MUNDO LIVRE S/A, JARDS MACALÉ, ARRIGO BARNABÉ, ARTHUR VEROCAI, NANDO REIS, MESTRE AMBRÓSIO, ARNAUD RODRIGUES, JACKSON DO PANDEIRO, CHICO CÉSAR, FELLINI, CARTOLA, NOVOS BAIANOS... Ufa! E isso é só uma palhinha, o catálogo é enorme e excelente. Não marque bobeira, acesse e se divirta: https://tresselos.com/
Baratos Afins
Por último, nunca é demais lembrar da mais importante
gravadora independente do Brasil, desde 1978, a BARATOS AFINS faz amantes da
música felizes. O gostoso mesmo é estar em São Paulo e visitar a loja física e
bater um papinho com o Luiz Calanca, o criador deste monstro sagrado da cultura
nacional. Na impossibilidade de visitar a loja, fica o consolo de visitar o
site: https://www.baratosafins.com.br/
Podem inventar o método que for para se ouvir música, mas, nada jamais irá superar o ritual de você tirar um vinil da capa, colocar no prato, por a agulha em cima, ouvir aquele chiado do contato com os sulcos do disco, aumentar o som e viajar, com capa na mão, encarte com letras, ficha técnica e tudo de direito!
É isso... Rock on!
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Parabéns, meu amigo
ResponderExcluirPrefiro minha velha e querida bolachona.
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