45 anos de estrada e a derradeira turnê do Cockney Rejects

Exatos seis anos após sua última turnê Sul-Americana e os ingleses do COCKNEY REJECTS voltam ao país para sua derradeira turnê, a The Farewell Tour. Num final de semana prolongado e com inúmeros eventos culturais espalhados pela cidade de São Paulo, como o festival Summer Breeze (que teve cobertura completa do Rock On Board), até que o bairro do Bom Retiro estava bem animado, com inúmeros “punks velhos” saindo da toca e enchendo as cercanias do icônico Hangar 110, o maior templo punk do país.

Para abrir a festa, os amigos INOCENTES deram conta do recado, como sempre fazem. Para surpresa da maioria dos presentes, a banda subiu ao palco com reforço de peso: Ariel Uliana, vocalista das bandas Invasores de Cérebros, Restos de Nada, e que esteve à frente dos Inocentes no início dos anos 80, quando a banda lançou o compacto “Miséria e Fome”. A explicação, o vocalista e guitarrista Clemente Nascimento fez show no final da tarde com sua outra banda, a Plebe Rude, na cidade de Campinas, distante quase 100 km da capital e, para evitar qualquer contra tempo, Ariel foi convidado e mandou muito bem, como sempre.

 Com Ariel, a banda não deu tempo de a galera respirar e mandou clássicos de sua primeira fase: “Garotos do Subúrbio”, “Miséria e Fome”, “Não Acordem a Cidade”, com o pogo rolando insano desde o primeiro acorde. Sequência com “Restos de Nada”, primeira letra de Clemente, de quando tinha 15 anos e nome da banda que formou com Ariel em 1978 e foi precursora do movimento punk nacional. Com o clássico “Desequilíbrio”, letra do Índio (Condutores de Cadáver e Hino Mortal) e música do saudoso guitarrista Douglas Viscaino, o jogo estava ganho. Ariel ainda mandou mais duas antes de se despedir: “Morte Nuclear” e “Maldita Polícia”.

Com Clemente assumindo os vocais, outros clássicos, um atrás do outro: “Rotina”, “Expresso Oriente”, “Ele Disse Não”, a sempre bem recebida cover de “São Paulo”, da banda 365, e a trinca arrasa-quarteirão: “Aprendi a Odiar”, “Medo de Morrer”, “4 Segundos”. Vez de o guitarrista Ronaldo Passos assumir o vocal e a banda toca “Eu Vou Ouvir Ramones”, single lançado ano passado através das plataformas de streaming. Final de festa e os dois maiores sucessos: “Pátria Amada” e “Pânico em SP”. Que show! Clemente, Ronaldo, Anselmo e Nonô atingiram um entrosamento e um nível profissional invejável, é, há tempos, uma das maiores bandas do país.

Pequena pausa para uma cerveja bem gelada e não demora para que os irmãos Jeff Turner, vocal e Mick Geggus, guitarra, acompanhados do baixista Vince Riordan e do baterista Joe Perry Sansome comecem a festa do street punk ao som de “Flares ‘N’ Slippers”, primeiro single gravado pela banda, em 1979. A sequência veio brava, com o petardo “Paper Tiger”, música do último disco da banda, “Power Grab”, lançado ano passado.

“I Love Being Me”, do álbum “East End Babylon”, de 2012, mantém o pogo agitado, mas é com “I’m Not a Fool”, do primeiro disco “Greatest Hits – Volume 1”, de 1980, é que o bicho pega de vez. Na sequência as coisas continuam agitadas, com “Urban Guerrilla” e o clássico “The Power and The Glory”, do álbum homônimo de 1981.

Daí em diante, a banda vai alternando faixas dos três primeiros álbuns de estúdio: “Greatest Hits – Volume 1” (1980), “Greatest Hits – Volume 2” (1980) e “The Power and The Glory” (1981), e o show é uma grande celebração dos 45 anos da banda: “East End”, “Headbanger”, We Can Do Anything”, “The Rocker”, “Join the Rejects”, “On the Streets Again”, “The Greatest Cockney Rip Off”, “Bad Man”, “War on the Terraces” e “Hate of the City” é sequência para punk nenhum botar defeito, e a roda de pogo foi insana do começo ao fim, repleta de “tiozinhos punks” beirando os 60 anos e esbanjando vitalidade, misturados e impondo respeito aos moleques bem vitaminados do rolê.

O show se encerra com três clássicos: “Police Car”, “I’m Forever Blowing Bubbles” e “Oi! Oi! Oi!”, foi de lavar a alma. Na saída a banda atendeu pacientemente a todos que esperaram para tirar uma foto e trocar algumas palavras com eles, que não cansaram de agradecer a presença e energia de todos. Para o Brasil, não voltam mais para tocar, quem viu, viu. Quem não viu, vá para a Inglaterra que ano que vem, segundo Jeff Turner comentou na porta do Hangar 110, na saída do show, eles tocarão no Rebellion Festival, o maior festival de punk rock do mundo.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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