Planet Hemp reafirma relevância artística em novo álbum de inéditas

 
Planet Hemp

Jardineiros
⭐⭐⭐⭐ 5/5
Por  Ricardo Cachorrão Flávio 
 
Ano 2000, A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, terceiro álbum do PLANET HEMP chegou fazendo barulho, depois que Marcelo D2 alçou seu primeiro voo solo, com Eu Tiro é Onda, de 1998. Naquela época, canções como “Ex-Quadrilha da Fumaça”, “Stab” ou “Contexto” confirmaram que a banda era um dos maiores nomes de sua geração, ao lado de gente como O RAPPA, RAIMUNDOS ou NAÇÃO ZUMBI. No ano seguinte ainda fizeram o seu MTV AO VIVO, e depois de uma turnê e muita treta, a banda acabou. No auge.
 
Em 2010, voltam para um pocket show para a MTV, sem a pretensão de uma volta definitiva. Fazem mais alguns shows aqui e ali, em 2012 e 2013. Mais uns anos, e a biografia oficial, escritapor Pedro de Luna (“Planet Hemp – Mantenha o Respeito” / 2018 – Ed. Belas Letras) é lançada, um filme de longa metragem também chega ao mercado – “Legalize Já – Amizade Nunca Morre”, contando o princípio de tudo e a amizade entre Skunk e Marcelo D2, os fundadores de tudo.
 
O tempo vai passando e a banda continua seus shows esporádicos, lotando plateias por onde passa, e ficava sempre a pergunta, e trampo novo, nada? É certo que em todo esse tempo, tivemos muitos discos ótimos de Marcelo D2, de B-Negão e seus Seletores de Frequência e também de Gustavo Black Alien, mas, faltou um disco do PLANET HEMP, né não?

Eis que 2022 nos brindou com “JARDINEIROS”, primeiro álbum de inéditas em 22 anos!
 
Segundo palavras de B-Negão, num vídeo divulgação da banda no Instagram, Jardineiros remete ao princípio do Planet Hemp, com duas ideias básicas: a de que a banda sempre considerou o tráfico de drogas muito pior que o uso, daí o “Não Compre, Plante!”, faixa que abre o primeiro disco da banda, Usuário, de 1995, e de que a banda sempre quis, através de seu discurso sócio-político-cultural “plantar ideias” na cabeça de seu público.
 
Indo ao que realmente interessa, o álbum abre com uma frase dita por Marcelo Yuka, durante uma entrevista em 2016, “Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável”, e a sequência é o single recentemente mostrado ao público “Distopia”, faixa poderosa, com participação do rapper paulistano Criolo.
 
Atenção está no ar a Rádio Libertadora”, referência à tomada da Rádio Nacional pela ALN – Ação Libertadora Nacional, em 15 de agosto de 1969, quando foi transmitida a leitura de um manifesto, feita pelo guerrilheiro revolucionário Carlos Marighella, é a deixa para introdução da poderosa “Taca Fogo”, faixa onde D2 e B-Negão destilam veneno e insatisfação contra o atual momento político brasileiro – não faltam críticas ao armamentismo da população e ao “roubo em nome de deus” – “Ninguém segura a gente, taca fogo nessa porra agora”.
 
“Puxa Fumo” tem coro e groove empolgantes e a sequência vem com “O Ritmo e a Raiva”, esta com participação de Gustavo Black Alien, e são duas faixas típicas do Planet Hemp, falando de maconha e da própria história da banda, agradam todos os fãs, com certeza absoluta.
 
Jardineiro não é traficante, ouça o que to lhe dizendo cumpadi, não compre, plante”, é o recado da faixa “Jardineiro”. “Amnésia” chega mostrando que a banda permanece seguindo o mote do “raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”, não se prendendo a um único estilo e fazendo do seu som uma empolgante e variada salada musical.
 
A formação atual do Planet Hemp trás além das vozes de Marcelo D2 e B-Negão, o guitarrista Nobru Pederneiras, o baixista velho conhecido Formigão e Pedrinho Garcia, na bateria. Mas, como sempre, as participações especiais estão presentes nos trabalhos do Planet Hemp, e, na próxima faixa a participação é internacional, o rapper argentino Trueno, está na faixa “Meu Barrio”.
 
Como em todos os discos da banda, aqui também tem punk rock dos maconheiros, “Fim do Fim” é a porrada certeira. Mudança total de clima e chega “Eles Sentem Também”, com outra letra contundente, trazendo à tona mais questões sociais.
 
Com participação especial do duo eletrônico TROPKILLAZ, que tem na formação o DJ André Laudz, na companhia de Zé Gonzales, que já fez parte do Planet Hemp, os caras fazem mais uma daquelas várias músicas autobiográficas da banda, a muito boa “Ainda”.
 
“Remedinho” é aquela pancadinha nas estruturas do sistema, numa faixa com ritmo lento, curta duração e teor pesado, onde a banda questiona a política sobre as drogas, falando sobre o desejo de controle do pensamento da população, sempre cheio de hipocrisia “remedinho pode cocaína não... cervejinha pode bagulhinho não”.
 
Outra faixa com participação especial chega e desta vez é “Veias Abertas”, que trás o trio carioca de música eletrônica TANTÃO E OS FITA, fazendo a base perfeita para os riffs sujos e pesados de Nobru. Segue a vinheta “Planeta Maconha” e o álbum chega ao final com “Onda Forte”, com samplers da funkeira MC Carol em mais uma boa faixa do cancioneiro maconhista da rapaziada.
 
Foram 22 anos sem nada novo, segundo Marcelo D2 disse na coletiva online de divulgação deste álbum, quando questionado sobre a volta da banda no momento atual do país, “acho que tem a ver com nossa necessidade pessoal de se expressar. Achamos que nunca mais faríamos um disco, pois estávamos felizes com nossa obra. Mas o Brasil nos obriga a esta retomada. O Brasil nos obriga a sair de um lugar de conforto. E este disco foi muito dolorido, com tudo que a gente vive. Pandemia, pessoas morrendo... Achamos que não voltaríamos a este lugar, de repressão, militares no poder, milícias.Mas a gente faz música para isso, é necessário para o público e para nós. Essa arte do combate faz parte do Planet Hemp”.
 
Adivinha doutor, quem tá de volta na praça?

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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