Planet Hemp
Jardineiros
⭐⭐⭐⭐⭐ 5/5
Por Ricardo Cachorrão Flávio
Ano 2000, A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, terceiro álbum do PLANET
HEMP chegou fazendo barulho, depois que Marcelo D2 alçou seu primeiro voo solo,
com Eu Tiro é Onda, de 1998. Naquela época, canções como “Ex-Quadrilha da
Fumaça”, “Stab” ou “Contexto” confirmaram que a banda era um dos maiores nomes
de sua geração, ao lado de gente como O RAPPA, RAIMUNDOS ou NAÇÃO ZUMBI. No ano
seguinte ainda fizeram o seu MTV AO VIVO, e depois de uma turnê e muita treta,
a banda acabou. No auge.
Eis que 2022 nos brindou
com “JARDINEIROS”, primeiro álbum de inéditas em 22 anos!
Segundo palavras de B-Negão, num vídeo divulgação da banda no
Instagram, Jardineiros remete ao princípio do Planet Hemp, com duas ideias
básicas: a de que a banda sempre considerou o tráfico de drogas muito pior que
o uso, daí o “Não Compre, Plante!”, faixa que abre o primeiro disco da banda, Usuário,
de 1995, e de que a banda sempre quis, através de seu discurso
sócio-político-cultural “plantar ideias” na cabeça de seu público.
Indo ao que realmente interessa, o álbum abre com uma frase dita
por Marcelo Yuka, durante uma entrevista em 2016, “Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder
inimaginável”, e a sequência é o single recentemente mostrado ao público “Distopia”,
faixa poderosa, com participação do rapper paulistano Criolo.
“Atenção está no ar a Rádio
Libertadora”, referência à tomada da Rádio Nacional pela ALN – Ação
Libertadora Nacional, em 15 de agosto de 1969, quando foi transmitida a leitura
de um manifesto, feita pelo guerrilheiro revolucionário Carlos Marighella, é a
deixa para introdução da poderosa “Taca Fogo”, faixa onde D2 e B-Negão destilam
veneno e insatisfação contra o atual momento político brasileiro – não faltam
críticas ao armamentismo da população e ao “roubo em nome de deus” – “Ninguém segura a gente, taca fogo nessa
porra agora”.
“Puxa Fumo” tem coro e groove empolgantes e a sequência vem com “O
Ritmo e a Raiva”, esta com participação de Gustavo Black Alien, e são duas
faixas típicas do Planet Hemp, falando de maconha e da própria história da
banda, agradam todos os fãs, com certeza absoluta.
“Jardineiro não é
traficante, ouça o que to lhe dizendo cumpadi, não compre, plante”, é o
recado da faixa “Jardineiro”. “Amnésia” chega mostrando que a banda permanece
seguindo o mote do “raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”,
não se prendendo a um único estilo e fazendo do seu som uma empolgante e
variada salada musical.
A formação atual do Planet Hemp trás além das vozes de Marcelo D2
e B-Negão, o guitarrista Nobru Pederneiras, o baixista velho conhecido Formigão
e Pedrinho Garcia, na bateria. Mas, como sempre, as participações especiais estão
presentes nos trabalhos do Planet Hemp, e, na próxima faixa a participação é internacional,
o rapper argentino Trueno, está na faixa “Meu Barrio”.
Como em todos os discos da banda, aqui também tem punk rock dos
maconheiros, “Fim do Fim” é a porrada certeira. Mudança total de clima e chega “Eles
Sentem Também”, com outra letra contundente, trazendo à tona mais questões sociais.
Com participação especial do duo eletrônico TROPKILLAZ, que tem na
formação o DJ André Laudz, na companhia de Zé Gonzales, que já fez parte do
Planet Hemp, os caras fazem mais uma daquelas várias músicas autobiográficas da
banda, a muito boa “Ainda”.
“Remedinho” é aquela pancadinha nas estruturas do sistema, numa
faixa com ritmo lento, curta duração e teor pesado, onde a banda questiona a
política sobre as drogas, falando sobre o desejo de controle do pensamento da
população, sempre cheio de hipocrisia “remedinho
pode cocaína não... cervejinha pode bagulhinho não”.
Outra faixa com participação especial chega e desta vez é “Veias
Abertas”, que trás o trio carioca de música eletrônica TANTÃO E OS FITA,
fazendo a base perfeita para os riffs sujos e pesados de Nobru. Segue a vinheta
“Planeta Maconha” e o álbum chega ao final com “Onda Forte”, com samplers da
funkeira MC Carol em mais uma boa faixa do cancioneiro maconhista da rapaziada.
Foram 22 anos sem nada novo, segundo Marcelo D2 disse na coletiva
online de divulgação deste álbum, quando questionado sobre a volta da banda no
momento atual do país, “acho que tem a
ver com nossa necessidade pessoal de se expressar. Achamos que nunca mais
faríamos um disco, pois estávamos felizes com nossa obra. Mas o Brasil nos
obriga a esta retomada. O Brasil nos obriga a sair de um lugar de conforto. E
este disco foi muito dolorido, com tudo que a gente vive. Pandemia, pessoas
morrendo... Achamos que não voltaríamos a este lugar, de repressão, militares
no poder, milícias.Mas a gente faz música para isso, é necessário para o
público e para nós. Essa arte do combate faz parte do Planet Hemp”.
Adivinha doutor, quem tá de volta na praça?