Violeta de Outono resgata sonoridade oitentista em "Outro Lado"

Violeta de Outono

Outro Lado
⭐⭐⭐✩ 4/5
Por  Ricardo Cachorrão Flávio 

Desde 1984 na estrada, o VIOLETA DE OUTONO completa 38 anos de história com disco novo, de volta às suas raízes, e com sua formação clássica e original, que conta com Fábio Golfetti, voz e guitarra, Ângelo Pastorello, contrabaixo e Cláudio Souza, na bateria.
 
Desde o princípio, o Violeta de Outono foi um outsider dentro de sua geração, suas referências sonoras sempre foram mais complexas e distintas do que as da maioria das bandas do início da década de 80. Enquanto punk e new wave davam as cartas como influências do rock Brasil, Fábio, Ângelo e Cláudio calcavam sua música na psicodelia dos anos 60, com pitadas pontuais da sonoridade post-punk de sua própria época, e discos como a estreia “Violeta de Outono”, de 1987 e “Em Toda Parte”, de 1989 mostram bem isso, onde apresentaram clássicos como “Outono”, “Dia Eterno”, “Outra Manhã” ou “Lunática”.
 
Durante os anos 2000 a banda sofreu inúmeras mudanças e a partir de 2006 e passou a atuar como um quarteto, sempre com Fábio Golfetti à frente, dividindo espaço com músicos muito talentosos, a saber, o baixista Gabriel Costa, o tecladista Fernando Cardoso e na bateria teve Cláudio Souza a princípio, depois substituído por Fred Barley, que saiu para tocar em O Terço e finalizou com José Luiz Dinola, ex-A Chave do Sol. Com esse time, em aproximadamente 10 anos, gravaram uma trilogia: “Volume 7”, de 2007, “Espectro”, de 2012 e “Spaces”, de 2016, com um som muito influenciado pelas chamadas bandas da “Cena de Caterbury”, em longas faixas com primoroso trabalho instrumental, misturando psicodelia, rock progressivo e jazz rock, como o Caravan, Camel, Soft Machine e, principalmente, o Gong, uma das principais referências de Fábio Golfetti, e banda da qual ele faz parte hoje em dia.
 
A partir de 2017, Fábio, Ângelo e Cláudio Souza passaram a se encontrar e realizar shows esporádicos com a formação original da banda, comemorando os 30 anos de lançamento do primeiro disco do grupo. De um show especial dessas reuniões, no Sesc Pompeia, saiu um CD ao vivo, lançado em 2020, “Dia Eterno”, com o repertório oitentista que os tornou conhecidos no mundo.
 
Em entrevista que fiz com Fábio Golfetti em 2016, época de lançamento de “Spaces”, ele já dava a entender que se encerrava ali um ciclo como quarteto e o lançamento da trilogia, a partir daí, juntamente com Ângelo e Cláudio, resgataram canções compostas entre 1992 e 2002 e assim nasce “Outro Lado”, novo álbum de estúdio da banda, que nos brinda com a mesma sonoridade do grupo na década de 80, em canções mais curtas e maior destaque para o vocal e as letras, todas de Fábio Golfetti.
 
O disco abre com a inédita “Numa Pessoa Só”, e aos primeiros acordes já bate aquela saudade dos shows do Violeta de Outono no Madame Satã ou num teatro do Sesc, é uma nostalgia gostosa e que só aumenta com o passar do álbum.
 
Para os velhos fãs da banda não existem muitas novidades, a maioria das canções já eram velhas conhecidas, porém aqui, creio que ganharam suas versões definitivas. “Espelhos Planos”, “Mulher na Montanha”, “Outro Lado”, “Lírio de Vidro” e “Total Silêncio” apareceram no disco “Mulher na Montanha”, lançado em 1999 e fora de catálogo há muitos anos, uma verdadeira “mosca branca”.
 
As lindas “Júpiter”, “Através das Estrelas” (originalmente apenas “Estrelas”) e “Estarei com Você” (com o nome “Mahavishnu”) estão em “Ilhas”, álbum de 2005, também fora de catálogo há anos. “Júpiter” e “Mahavishnu” também aparecem no DVD ao vivo “Violeta de Outono & Orquestra” de 2006. Estes dois discos, “Mulher na Montanha” e “Ilhas”, não estão nas plataformas digitais do grupo.

O encerramento é com “Algum Lugar”, faixa que já havia aparecido em 2019, no álbum “Espectro”. É sempre gratificante ter mais um disco do Violeta de Outono em mãos, uma banda honesta, talentosa ao extremo e longe da mesmice reinante. Sempre um ponto acima da média e fora da curva, vida longa ao Violeta de Outono.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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