Desde 1984 na estrada, o VIOLETA DE OUTONO completa 38 anos de
história com disco novo, de volta às suas raízes, e com sua formação clássica e
original, que conta com Fábio Golfetti, voz e guitarra, Ângelo Pastorello,
contrabaixo e Cláudio Souza, na bateria.
Desde o princípio, o Violeta de Outono foi um outsider dentro de sua geração, suas referências sonoras sempre
foram mais complexas e distintas do que as da maioria das bandas do início da
década de 80. Enquanto punk e new wave davam as cartas como influências do rock
Brasil, Fábio, Ângelo e Cláudio calcavam sua música na psicodelia dos anos 60,
com pitadas pontuais da sonoridade post-punk de sua própria época, e discos
como a estreia “Violeta de Outono”, de 1987 e “Em Toda Parte”, de 1989 mostram
bem isso, onde apresentaram clássicos como “Outono”, “Dia Eterno”, “Outra Manhã”
ou “Lunática”.
Durante os anos 2000 a banda sofreu inúmeras mudanças e a partir
de 2006 e passou a atuar como um quarteto, sempre com Fábio Golfetti à frente,
dividindo espaço com músicos muito talentosos, a saber, o baixista Gabriel
Costa, o tecladista Fernando Cardoso e na bateria teve Cláudio Souza a
princípio, depois substituído por Fred Barley, que saiu para tocar em O Terço e
finalizou com José Luiz Dinola, ex-A Chave do Sol. Com esse time, em
aproximadamente 10 anos, gravaram uma trilogia: “Volume 7”, de 2007, “Espectro”,
de 2012 e “Spaces”, de 2016, com um som muito influenciado pelas chamadas
bandas da “Cena de Caterbury”, em longas faixas com primoroso trabalho
instrumental, misturando psicodelia, rock progressivo e jazz rock, como o
Caravan, Camel, Soft Machine e, principalmente, o Gong, uma das principais
referências de Fábio Golfetti, e banda da qual ele faz parte hoje em dia.
A partir de 2017, Fábio, Ângelo e Cláudio Souza passaram a se
encontrar e realizar shows esporádicos com a formação original da banda,
comemorando os 30 anos de lançamento do primeiro disco do grupo. De um show
especial dessas reuniões, no Sesc Pompeia, saiu um CD ao vivo, lançado em 2020,
“Dia Eterno”, com o repertório oitentista que os tornou conhecidos no mundo.
Em entrevista que fiz com Fábio Golfetti em 2016, época de
lançamento de “Spaces”, ele já dava a entender que se encerrava ali um ciclo
como quarteto e o lançamento da trilogia, a partir daí, juntamente com Ângelo e
Cláudio, resgataram canções compostas entre 1992 e 2002 e assim nasce “Outro
Lado”, novo álbum de estúdio da banda, que nos brinda com a mesma sonoridade do
grupo na década de 80, em canções mais curtas e maior destaque para o vocal e
as letras, todas de Fábio Golfetti.
O disco abre com a inédita “Numa Pessoa Só”, e aos primeiros
acordes já bate aquela saudade dos shows do Violeta de Outono no Madame Satã ou
num teatro do Sesc, é uma nostalgia gostosa e que só aumenta com o passar do
álbum.
Para os velhos fãs da banda não existem muitas novidades, a
maioria das canções já eram velhas conhecidas, porém aqui, creio que ganharam
suas versões definitivas. “Espelhos Planos”, “Mulher na Montanha”, “Outro Lado”,
“Lírio de Vidro” e “Total Silêncio” apareceram no disco “Mulher na Montanha”,
lançado em 1999 e fora de catálogo há muitos anos, uma verdadeira “mosca branca”.
As lindas “Júpiter”, “Através das Estrelas” (originalmente apenas “Estrelas”)
e “Estarei com Você” (com o nome “Mahavishnu”) estão em “Ilhas”, álbum de 2005,
também fora de catálogo há anos. “Júpiter” e “Mahavishnu” também aparecem no DVD
ao vivo “Violeta de Outono & Orquestra” de 2006. Estes dois discos, “Mulher
na Montanha” e “Ilhas”, não estão nas plataformas digitais do grupo.
O encerramento é com “Algum Lugar”, faixa que já havia aparecido
em 2019, no álbum “Espectro”. É sempre gratificante ter mais um disco do
Violeta de Outono em mãos, uma banda honesta, talentosa ao extremo e longe da
mesmice reinante. Sempre um ponto acima da média e fora da curva, vida longa ao
Violeta de Outono.