Rock in Rio: Guns N'Roses faz show previsível, no bom e no mau sentido

Axl Rose fez referência à Rainha Elizabeth no Rock in Rio
 
E o Guns N'Roses fechou mais uma noite de Rock in Rio. Essa é a sexta vez que o grupo repete essa cena, sendo que em 1991, no auge da carreira, a banda fez duas noites na segunda edição do festival. No entanto, não seria muito exagero chamar a apresentação desta noite de previsível - isso para o bem e para o mal. 

O grupo liderado por Axl Rose não lança um álbum novo há mais de uma década - e se contar a formação com Slash e Duff, bota aí uns trinta anos nessa conta. Com isso, o jeito é apostar forte nos clássicos. E disso não podemos reclamar. Poucas bandas de rock na história possuem tantos sucessos de topo das paradas.

Então lá vamos nós de novo com quase a íntegra de Appetite For Destruction, debut da banda, que já está no patamar dos principais petardos da história. No início do show o grupo já queima logo dois cartuchos do álbum (It's So Easy e Mr. Brownstone), seguida da faixa-título de Chinese Democracy e talvez da grande e agradável surpresa da noite: a inclusão de "Slither" do Velvet Revolver, banda com integrantes do Guns, que tinha o saudoso Scott Weiland no vocal. A música até que funcionou bem no vocal de Axl Rose. 

No entanto, a "voz" de Axl é um tema isolado. E isso não é de hoje. Desde a constrangedora performance do vocalista na edição de 2017, o alerta ficou ligado. Por conta da idade e de uma capacidade vocal debilitada, ele recorre o tempo inteiro aos falsetes, que na maior parte surgem sem força e deixam sua voz em condições ainda mais constrangedoras. Em "Welcome To The Jungle", por exemplo, ele mostra muita dificuldade em conseguir acompanhar a banda - adicionado à péssima qualidade de som que saía dos PA's (uma maçaroca abafada), foi lamentável testemunhar uma das canções mais selvagens da história soar fraca e inofensiva.

Outro tema previsível, e que também merece nota isolada é a boa forma de Slash. O guitarrista sobra em muitos momentos. Quando o show parece caminhar para um lado mais estranho, seja por conta da dificuldade de Axl ou do desinteresse do público por canções que não sejam hits radiofônicos, eis que aparece Slash com solos estonteantes e uma presença ainda imponente. Ele é sem dúvida a melhor herança do Guns clássico que dominou o mundo nos anos noventa. 

Mas a verdade, é que instrumentalmente, o Guns atual segura bem a onda e faz bonito. Na música "Better", o guitarrista Richard Fortus executa um dos melhores solos do show, mostrando que Slash está bem acompanhado. Além disso, em "Rocket Queen", uma dobrada de solos entre Fortus e Slash (com uso de um talk box) levou os fãs ao delírio. 

Dois hits de Use Your Illusion ("You Could Be Mine" e "Civil War" - esse com referências à guerra da Ucrânia nos telões), mantiveram um clima de familiaridade na Cidade do Rock. O show ainda teve Duff cantando "Attitude" (Misfits) e duas mais recentes ("Absurd" e "Hard School"). E foi momento que a banda tocou o seu novo EP, que iniciou-se uma debandada do público. Isso aconteceu também em "Wichita Lineman".

"November Rain", com Axl no piano, foi certamente a mais cantada pelos fãs e não-fãs na Cidade do Rock. Inclusive, muita gente foi embora depois dessa música e já era possível chegar mais perto do palco devido aos clarões que foram se abrindo. Quem ficou, assistiu ainda a versão consagrada de "Knockin' On Heaven's Door" e outros três clássicos absolutos: "Patience", "Don't Cry" e "Paradise City". 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2