Devotos não limita seus gritos de protesto em 'Punk Reggae'

Devotos
Punk Reggae
⭐⭐⭐⭐⭐ 5/5
Por  Ricardo Cachorrão Flávio 

Há quase um ano, conversamos com Cannibal e Neilton, respectivamente baixo / voz e guitarra da banda pernambucana DEVOTOS, que haviam acabado de lançar o delicioso single “Nossa História”, faixa que abre o agora definitivo e pronto álbum “Punk Reggae”, uma homenagem da banda a este ritmo que sempre fez parte da história da Devotos, e que é tão próximo do punk rock, desde o princípio de tudo, basta lembrar o trabalho de bandas como The Clash ou Bad Brains, que sempre misturaram os ritmos de forma tão intensa e agradável, não limitando seus gritos de protesto.

A já citada “Nossa História” abre o disco, que está em todas as plataformas de streaming e está com sua versão em vinil na boca do forno, pronta pra sair. A partir daí, temos vários reggaes gravados pela banda ao longo da sua carreira, mas, numa nova roupagem, com arranjos de puro reggae e menos hardcore, com vários amigos colaborando com metais, teclados e coros que fizeram desse disco algo impossível de se ouvir sem mexer o corpo.

“Favela”, saída do segundo disco da banda, “Devotos”, do ano 2000, que foi quando tiraram o “do Ódio” do nome da banda é a segunda faixa do trabalho e vem seguida de “Periferia Fria”, com participação mais do que especial do cantor Criolo, numa música do último disco deles, “O Fim que Nunca Acaba”, de 2018.

“Dança das Almas” vem do disco “Flores Com Espinhos Para o Rei”, lançado originalmente em 2006, e desta vez a participação especial é do cantor e compositor paraibano Chico César, numa versão deliciosamente bonita e dançante. “A Vida Que Você me Deu”, outra faixa do disco “Devotos”, começa pesada, com Cannibal, Neilton e o baterista Celo Brown e seu tradicional hardcore, mas em poucos segundos, a reggaeira chega forte.

O disco continua com “Orixás”, música que está no disco “Póstumos”, de 2012, e aqui conta com participação especial da cantora pernambucana Isaar França, numa faixa em que banda e convidada tentam, segundo suas próprias palavras, “descontruir o que o fascismo religioso no Brasil tentou esconder e demonizar”, com referências às entidades da religião de matriz africana.
 
 
Tirada do disco “Hora da Batalha”, de 2003, chega à versão para “Nosso Ninho”, uma ode da banda ao seu berço, o bairro periférico do Alto José do Pinho, subúrbio de Recife. Na sequência, o reggae é “Liga da Justiça”, outra faixa saída do disco “O Fim que Nunca Acaba”, com Cannibal se soltando demais nos versos reggae, lembrando o cantor do Café Preto e não o da Devotos (nota: Café Preto é a outra banda do Cannibal, de, reggae - dub). Chegamos novamente em “Flores Com Espinhos para o Rei”, e a música é “Luta Pacifista”, que começa hardcore até o refrão “Não Use Armas – A Guerra Acabou / Não Existe Mais Partido / Igual Social / Acabou o Terrorismo” desabar na reggaeira.

A versão para “Terra Livre”, original do disco “Póstumos” e “Para Aliviar”, outra de “Hora da Batalha”, são as duas faixas que encerram este delicioso trabalho, não apenas um disco de reggae, mas de protesto veemente a favor dos oprimidos e contra as mazelas dos poderosos, que espalham ódio através dos tempos. Vida longa aos Devotos Cannibal, Neilton e Celo, força motriz e transformadora de dentro do Recife para o mundo.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

2 Comentários

  1. Taí o tipo de resenha que dá vontade da gente ouvir o disco. Ricardo descreve o disco, de modo apaixonado música a música despertando no leitor, a curiosidade e a paixão.

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