AFI abraça o pós-punk e flerta com os anos oitenta em 'Bodies'

AFI com sua formação que dura mais de 20 anos

AFI

Bodies
⭐⭐⭐⭐ 4/5

Por  Bruno Eduardo 


O AFI emergiu na vibrante cena punk Californiana no início dos anos 90. Foram taxados de um monte de coisa. Do horror punk ao emo, eles acabaram passando pelas mãos de Butch Vig (Nirvana, Foo Fighters) nos anos 2000, onde sofreram uma lavagem sonora fundamental, atingindo discos de platina e entrada nas paradas americanas. Daí pra frente, o caminho foi outro e a cada lançamento, há sempre uma expectativa e um interesse significativo.


Bodies, o décimo primeiro álbum de estúdio da banda, é um pacote divinamente bem acabado com todos os elementos sonoros que o AFI apresentou em seus últimos trinta anos de estrada. Liderada pelos vocais distintos de Davey Havok, a banda abraça fortemente a new wave dos anos 80 sem largar as suas bases punk nesse novo trabalho.


Essa junção de referências sonoras da própria história resultam num álbum standard, que polido pela ótima produção, pode ter elevado Bodies ao patamar de disco marcante para a banda. O início com a atmosférica "Twisted Tongues" não entrega o jogo, mas aguça os ouvidos dos mais espertos. "Far Too Near" é o pedaço retrô rock que o grupo acostumou-se a apresentar, com guitarras oitentistas e sintetizadores. 


Mas Bodies não é um disco levado essencialmente por guitarras. Ele tem o baixo de Hunter Burgan como um catalisador sonoro. Assim como acontece com os teclados / sintetizadores, que na ficha técnica, aparecem sendo executados pelo guitarrista Jade Puget. Essa coalizão baixo/teclados se destaca em grande parte do álbum e funciona. Assim como pode ser conferido de forma explícita em "Dulcería", que nos leva a navegar num mar de teclados e vocais melancólicos, quase nebulosos. 


Mas os melhores momentos do álbum são quando o grupo acerta em cheio na fórmula rock + new wave + punk + sintetizadores. E é aí que surge "Escape From Los Angeles", uma das melhores canções de rock lançadas esse ano. É impressionante como a voz de Havok lembra os melhores momentos de Robert Smith (The Cure). Outra que segue esse roteiro e também se destaca com upgrade das guitarras é "Looking Tragic", que saiu como música de trabalho meses antes do lançamento do álbum.


Na parte final, temos a mais diferentona deste novo conjunto de canções, "Death Of The Party", que é baseada totalmente num som sintético e sem punch, mas que não supreende quem conhece o grupo. Já "No Eyes", é aquela canção rock padrão do AFI e "Tied To A Tree" é a escolha por terminar o álbum de forma totalmente alternativa.


Por fim, podemos dizer que Bodies entra numa lista de indicados aos amantes do rock de qualquer época. Mesmo não fugindo de suas tendências ao new wave e ao pós-punk, o AFI conseguiu de forma surpreendente, alcançar um terreno contemporâneo e marcar ponto com um dos álbuns mais legais de se ouvir nesses tempos pandêmicos.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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