Smith/Kotzen
Quem nunca sonhou em tocar com o seu ídolo? E gravar um disco? Fã do Iron Maiden, Richie Kotzen já pode dizer que com pelo menos dois membros de uma de suas bandas favoritas ele gravou um álbum: o guitarrista Adrian Smith e o baterista Nicko McBrain. Primeira parceria entre eles, Smith/Kotzen é essencialmente um álbum para quem gosta de guitarra. E não poderia ser diferente vindo de dois músicos que se dedicam ao instrumento tanto no Iron Maiden quanto no The Winery Dogs, atual banda de Kotzen, ex-Poison e Mr. Big.
A
força do trabalho está exatamente nos solos, nos riffs, no espírito musical que
varia entre o hard rock tradicional, o metal e uma certa vibração de um rock
setentista que ambos emanam de suas guitarras. Não são difíceis encontrar bons momentos
do uso do instrumento no disco composto por nove músicas. Dá primeira, “Taking
my chances”, a última, “Till Tomorrow”, o fã de guitarra encontrará material
suficiente para se deleitar.
Por
outro lado, não se pode dizer que Smith/Kotzen tenha lá letras muito
inspiradas. Entre canções de temáticas generalistas, como uma necessidade de se
sentir vivo, estar presente e sentir as coisas diante da perspectiva que o
tempo está passando (“Taking the chance” e “Running”), e músicas de amores
perdidos (“I wanna stay”) encontramos aquela que é a melhor do álbum: “Scars”.
“Scars” é uma canção sobre alguém emocionalmente ferido, que em meio a solidão interna tem um desejo de mudança, uma necessidade de caminhar em direção a uma luminosidade, embora sinta-se tão distante dela. E este personagem clama por uma ajuda e está desenvolvendo uma vontade de seguir em frente na sua estrada da vida. É uma canção bem bonita. Poderia ser enquadrada como a “balada” do disco e ainda conta com bonitos solos de guitarra, uma constante no álbum. Embora “Scars” seja a melhor música, não significa que “Smith/Kotzen” não tenha outras boas canções. Mesmo as já citadas “Running” e “I wanna stay” devem agradar aos fãs dos dois artistas.
Outra
que também poderia ser incluída nesta lista é “Solar Fire”, que contou com a
luxuosa participação de McBrain na bateria. Justamente, num álbum basicamente
de guitarras, é onde percebe-se a bateria com mais força e personalidade entre
as nove músicas de “Smith/Kotzen”. Nas demais canções, a bateria funciona mais
para compor os vazios entre guitarras.
Smith/Kotzen foi gravado nas ilhas Turks e Caicos. Curiosamente, é o mesmo local onde o Iron
Maiden gravou os álbuns Piece of Mind (1983), Powerslave (1984) e Somewhere in time (1986) e é um dos lugares muito frequentado por Smith em
suas férias. Lá, Smith e o Kotzen alugaram uma casa e passaram os dias entre
pescarias e trabalhando com calma no álbum, suas letras, riffs, solos e
melodias. Um tempo que só serviu para entrosar ainda mais a dupla que já
costumava fazer jam sessions na casa de Smith em Malibu.
O
resultado disso pode ser bem visto no álbum. Há uma química, respeito e
entrosamento entre os dois, com suas guitarras dialogando bem, ocupando espaços
bem definidos e “duelando” saudável e satisfatoriamente, mesmo em canções mais
fracas do trabalho, como “Some people” ou “Till Tomorrow”.
Talvez
o calcanhar de Aquiles deste Smith/Kotzen seja a parte vocal. Principalmente
para fãs de Iron Maiden, acostumados a ouvirem Bruce Dickinson cantando com
toda a sua técnica, o álbum perde força porque nem Smith, nem Kotzen são
exatamente grandes cantores. Especialmente Smith. Eles fazem o chamado feijão
com arroz, que sustenta bem o trabalho e talvez funcione bem para as canções
que eles se propõem a fazer. Afinal, num álbum tão rico em sua parte
instrumental, soa um pouco como preciosismo exigir uma perfeição em todos os
setores quando o protagonismo de Smith/Kotzen é muito claro.