Tecladista do Faith No More fala sobre novo projeto e polêmica com Youtube

MAN ON MAN é o novo projeto de Roddy Bottum e Joey Holman
 
Por  Bruno Eduardo 

Enquanto o Faith No More segue reagendando datas de seu anunciado retorno aos palcos por causa da pandemia mundial, Roddy Bottum, tecladista do grupo, aproveitou o período de isolamento social para compor canções ao lado do seu namorado, do qual batizou de MAN ON MAN (com maiúsculas mesmo). No entanto, o primeiro clipe da dupla acabou gerando assunto nos principais sites de música por ter sido banido do Youtube por motivos questionáveis. Isso gerou protestos nas redes sociais, acusando a plataforma de homofobia. O vídeo de "Daddy" traz várias cenas de Roddy e seu namorado, Joey Holman, trocando carícias. "Não há nudez no vídeo, como foi alegado pelo Youtube na justificativa", diz Roddy, em exclusiva ao Rock On Board. 

Quem acompanha Roddy Bottum por suas redes sociais, sabe que ele é um ativista gay assumido, que está sempre engajado em campanhas não apenas contra a homofobia, mas também em muitas outras causas sociais. O tecladista do Faith No More é também um dos mais produtivos fora da banda que o consagrou. Ele tem um outro projeto chamado Imperial Teen, banda que ele fundou nos anos noventa e que ainda segue na ativa. Mas o fato de poder compor ao lado de seu namorado era um desejo antigo. Para explicar melhor o projeto e toda essa polêmica com o Youtube, ele nos concedeu uma breve entrevista, que pode ser conferida abaixo.

Oi Roddy, obrigado por falar conosco. Conte-nos um pouco sobre a origem deste novo projeto. É um desejo antigo que acabou de se concretizando ou foi uma ideia que surgiu nessa quarentena?

Iniciamos o projeto da MAN ON MAN enquanto passávamos pelo país, do Brooklyn à Califórnia, após o pandemia. Joey, meu namorado, e eu tínhamos consciência de que teríamos que passar algum tempo isolados. Não tínhamos certeza de quanto tempo isso iria demorar, mas queríamos ter um projeto a seguir quando nos isolássemos. Nós nunca fizemos música juntos antes. Tínhamos um piano no local para onde estávamos indo e Joey tinha seu violão. Enquanto dirigíamos, encontramos um microfone na internet e mandamos enviar para o local para onde estávamos indo.

Como foi o processo de composição e gravação do primeiro single? Todos nós conhecemos você do seu trabalho com o FNM e Imperial Teen, mas qual é a participação de Joey nesse processo?

Chegamos a Oxnard, Califórnia, no dia 26 de março. Oxnard é uma cidade litorânea sonolenta a 80 quilômetros ao norte de Los Angeles. Ficamos em casa em quarentena por quase um mês. É a casa da minha família e o piano que eu cresci tocando está lá. Começamos a escrever músicas no piano e violão por um tempo e depois fizemos mais músicas do tipo elétrico. Joey e eu co-escrevemos tudo; letras e músicas.

Li vários artigos e publicações definindo "Daddy" como uma música gay. Conhecendo-o e sabendo que você é muito ativo nessa luta contra a homofobia, acredito que sua intenção foi quebrar qualquer tipo de preconceito e que entende a música como universal, estou certo?

Não sei o que significa 'música gay'. Eu sou um homem gay, somos um casal gay, estamos fazendo música. Isso torna a música alegre? Não sei se a música pode ser 'gay'. Eu concordo que a música é universal. Nossa perspectiva na criação da música é definitivamente mais gay e a mensagem que parecemos compartilhar através da criação também é gay. Hesito em chamar qualquer música de 'gay'.

O YouTube baniu recentemente o vídeo "Daddy" da plataforma. E isso acabou sendo notícia em muitos sites e publicações de música. Como vocês receberam essa ação do youtube?

O efeito gerado pelo YouTube foi definitivamente mais tendencioso e debilitante que qualquer outra coisa. Recebemos mais de 25.000 visualizações em apenas três dias antes da proibição do clipe. Não há nudez no vídeo, mas o YouTube citou 'nudez' no seu raciocínio para retirar o clipe. Criamos uma história de amor sobre nós dois. Não é obsceno e certamente é muito mais doméstico do que muitos clipes heterossexuais que são muito mais populares no YouTube. Estou feliz por termos voltado ao YouTube, mas geralmente estou aborrecido e decepcionado com o protocolo empregado e com a maneira como o YouTube lidou com nossa forma de arte. Foi prejudicial e homofóbico.

Você tem planos para mais singles ou talvez um EP?

Nós finalmente lançaremos um álbum inteiro, provavelmente no final do verão. Terminamos nosso segundo vídeo esta semana e o compartilharemos assim que for apropriado. Nós estamos dando espaço para o movimento Black Lives Matter neste momento e estamos adiando o lançamento de mais músicas até acharmos que é o momento apropriado.

Faith No More já teve muitos shows e datas cancelados ou adiados devido à pandemia mundial. Qual a sua opinião sobre o futuro deste segmento, que são apresentações ao vivo para multidões?

Estou empolgado para voltar ao palco e apresentar e criar músicas para os fãs. Shows, plateias e interação em um ambiente ao vivo... é para isso que eu vivo. Quero ser capaz de atuar em um ambiente seguro. Seguro para mim, salvo para meus colegas de banda, seguro para o público, seguro para a produção... Assim espero.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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