NOFX: Discografia analisada "do pior ao melhor"

A discografia do NOFX analisada na série "do pior ao melhor"
Por Luciano Cirne

A despeito das inúmeras polêmicas em que se envolveram ao longo de quase 40 anos de carreira e dos diversos altos e baixos pelos quais o punk rock passou, o NOFX conseguiu construir uma carreira sólida, estabelecendo-se como uma das bandas mais icônicas da cena hardcore californiana e quiçá, mundial. Às vésperas de lançar um novo trabalho, nós do ROCK ON BOARD achamos que já estava na hora de fazer algo que nenhum site ou revista nacional especializado em música fez ainda: Passar o pente fino na vasta discografia da turma capitaneada pelo doidão Fat Mike. 

Lembrando que, como fiz em minhas análises discográficas anteriores, deixarei de fora da lista EPs, discos ao vivo e coletâneas (PS: Faço questão de frisar que, caso eu as contasse, sem sombra de dúvida colocaria o EP "Longest Line" na primeira posição). Também deixei de fora o que muitos consideram o primeiro álbum da banda, "Maximum Rock n' Roll", uma vez que ele foi relançado por diversas gravadoras com diversos tracklists e até mesmo nomes diferentes. Ah, e, como sempre faço, deixo claro que esse ranking é baseado única e exclusivamente em minha opinião. Caso você discorde, por favor fique à vontade e deixe um comentário dizendo o que acha, beleza? Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

13 - LIBERAL ANIMATION (1988)
Eu gostaria muito de ter visto a reação das pessoas que ouviram "Liberal Animation" na época que ele foi lançado. Duvido muito que alguma delas imaginou que o NOFX seria capaz de crescer tanto quanto cresceu. A estreia da banda em disco (descontando claro o já citado "Maximum Rock n' Roll") é uma tremenda confusão; nota-se de forma nítida que eles ainda não tinham ideia de qual caminho seguir musicalmente falando. Em vários momentos a impressão que dá é que estamos ouvindo uma versão tosca e sem talento do D.R.I.. Ainda assim, faixas como "Shut Up Already", "Freedumb" e "Mr. Jones" sinalizavam que eles tinham potencial e indicavam a direção que viriam a tomar nos álbuns posteriores. 


12 - SELF ENTITLED (2012) 
O grande problema de "Self Entitled" é ser um álbum sem criatividade. Do início ao fim, é uma mesmice de dar sono. E o mais estranho é que eles parecem perceber isso, tentando desviar o foco pegando o mais pesado possível na polêmica e na provocação. Grande exemplo disso é a faixa de abertura "72 Hookers", onde sugerem ao exército americano contratar prostitutas ao invés de soldados, mas a emenda acaba pior que o soneto e o resultado final soa bobo e infantil demais. Algumas canções até são interessantes, caso de "I Believe in Goddess" e "Ronnie and Mags", porém ao final da audição, a sensação é a de que eles estavam perigosamente se tornando covers de si mesmo e que não há nada aqui que eles já não tenham feito antes e melhor.


11 - COASTER (2009)
Três anos antes do supracitado "Sel Entitled", o NOFX já dava sinais que passava por uma entressafra criativa, repetindo os mesmos assuntos dos trabalhos anteriores, criticando religião ("Blasphemy, the victimless crime"), patriotismo ("We Call It America"), etc. Musicalmente falando, não há novidade nenhuma, porém algumas letras chamam a atenção por mostrar um lado mais confessional de Fat Mike, caso de "I am an Alcoholic" (onde abre seu coração e deixa claro seu vício em drogas e álcool) e principalmente da belíssima "My Orphan Year", sobre a morte dos seus pais em 2008, talvez a canção mais triste que já gravaram. A divertida "Eddie, Bruce and Paul", onde fazem uma campanha pro Iron Maiden acabar também garante boas risadas, mas de resto não há nada que chame muito a atenção. Não é ruim, mas passa batido.


10 - S & M AIRLINES (1989)
Os primeiros acordes da música que abre os trabalhos "Day to Daze" mostram um avanço impressionante se comparado ao fraquíssimo antecessor "Liberal Animation". A banda soa muito mais coesa e as composições, mais lapidadas. Sem contar que aqui já começam a aparecer canções que são presença obrigatória em shows até hoje como "Vanilla Sex", "You Drink, You Drive, You Spill" e "Mean People Suck", além de um divertido cover do Fleetwood Mac ("Go Your Own Way"). Isso não quer dizer que "S&M Airlines" seja um disco perfeito, longe disso: O excesso de maneirismos metálicos e a produção ruim que deixou a voz do Fat Mike meio enterrada incomodam um pouco, mas é nítido que aqui foi onde eles encontraram sua verdadeira identidade.


9 - WOLVES IN WOLVES CLOTHING (2006)
Talvez o disco mais subestimado da banda. O NOFX aqui encontra-se com seu humor afiadíssimo, como a faixa de abertura "60%" (onde eles assumem na maior cara de pau que só deram 60% deles pra fazer esse álbum), "The Marxist Brothers" e "Cantado en Español" atestam, além de alguns sons que mereciam uma audição mais atenta como "Seeing Double at the Triple Rock", "The Man I Killed" e a tocante "Doornails", onde Fat Mike lamenta pelos amigos que faleceram precocemente. O problema é que "Wolves..." é um disco longo demais e a sua segunda metade é bastante repetitiva, tornando o resultado final um pouco cansativo.


8 - FIRST DITCH EFFORT (2016)
Fat Mike devia estar numa fase muito ruim quando escreveu as músicas de "First Ditch Effort", pois o álbum é tão triste e depressivo que assusta. De forma corajosa, o vocalista abre seu coração como poucos fizeram antes, admitindo seu vício em drogas ("Six Years on Dope"), o ódio e ressentimento que sente pelo falecido pai ("Happy Father's Day"), que gosta de se vestir de mulher ("I'm a Tranvest-Lite") e a ausência que sente do amigo Tony Sly, vocalista do No Use For a Name e que faleceu precocemente em 2012 ("I'm So Sorry Tony"), entre outros assuntos espinhosos. É um trabalho que exala desesperança, mas que ao mesmo tempo é de uma sinceridade dilacerante cada vez mais rara.


7 - PUMP UP THE VALUUM (2000)
Último disco lançado pela Epitaph, gravadora onde viveram seu ápice, "Pump Up the Valuum" soa como uma espécie de álbum de transição, embora as mudanças sejam sutis. Ao mesmo tempo que ele tem a mesma energia dos clássicos dos anos 1990, tem também características que passariam a marcar a obra do NOFX a partir de então, como a produção mais polida e senso melódico mais apurado. As letras variam de temas que hoje provavelmente seriam taxados como sexistas ("My Vagina", "Louise"), críticas a bandas que se arrastam há décadas no showbusiness e nunca terminam ("Dinosaurs Will Die"), além das hilárias "Thank God It's Monday" (uma das favoritas deste que vos escreve) e "And Now For Something Completely Similar". Certamente um dos seus momentos mais alto astral.


6 - RIBBED (1991)
Aqui Fat Mike finalmente encontrou a fórmula de punk rock rápido, cru, alto e desleixado que consagrou o conjunto. Embora as letras de modo geral ainda continuem muito bobas e infantis  ("Showerdays", "New Boobs" e "Moron Brothers" são os maiores exemplos), faixas furiosas como "Green Corn", "Nowhere", além de a primeira experiência com ska (algo que com a entrada do guitarrista El Hefe no disco posterior passaria a ser uma constante) "Food, Sex and Ewe" e a divertida "Together On The Sand" (essa sim com letra inteligente e de duplo sentido) tornam "Ribbed" um dos seus grandes clássicos e um dos favoritos dos fãs.


5 - SO LONG AND THANKS FOR ALL THE SHOES (1997)
O trabalho anterior "Heavy Petting Zoo" foi o mais diversificado da banda, mas a aceitação do público não foi das melhores. Boa parte dos fãs acusaram o NOFX de vendidos, de estarem trilhando um caminho mais comercial, etc. Assim sendo, em "So Long...", resolveram voltar a pisar com força no acelerador e fazer o que fazem de melhor. Ainda que tenha uma experiência com reggae aqui ("Eat The Meek") e uns sons mais comerciais ali ("All His Suits Are Torn"), no geral o que predomina é o bom e velho hardcore rasgado de faixas como "It's My Job To Keep Punk Rock Elite", "Murder the Government" e "Kill Rock Stars", essa última uma alfinetada em Kathleen Hannah, vocalista do Bikini Kill (que diga-se de passagem, respondeu à altura na música "Deceptacon", do álbum de estreia do Le Tigre). Enérgico e divertido, o que mais se pode querer?


4 - WAR ON ERRORISM (2003)
Inspirado pelo desastrado governo de George W. Bush, Fat Mike compôs seu disco mais politizado. Apesar disso (ou por causa disso, vai saber), conseguiram o seu maior sucesso radiofônico lá fora, "Franco Un-American", levando-os até mesmo a tocar no respeitado programa do Conan O' Brian. Além dessa, tivemos outros mini-hits: "The Separation of Church and Skate", que entrou na trilha sonora do jogo "Tony Hawk's Underground", e "Regaining Unconsciousness", cuja letra inspirou um episódio da série "One Tree Hill". Também temos o hino "Idiots Are Taking Over" (cuja profética letra tem versos como "Estou começando a me sentir como Charlton Heston / Preso num planeta de primatas / Macacos e orangotangos se abaixavam / Para generais e exércitos que os obedeciam"). Forte e ainda atual.


3 - HEAVY PETTING ZOO (1996)
Aposto que muito fã do NOFX vai querer me bater por eu ter colocado "Heavy Petting Zoo" na terceira posição. Afinal, como disse anteriormente, é um trabalho polêmico, com canções mais lentas e acessíveis ("Hot Dog In a Hallway", "August 8th", "What's the Matter With Kids Today?"), e algumas experimentações sonoras inéditas até então ("Philty Phil Philantropist", "Love Story"). Mas quer saber? Exatamente pela ousadia de sair da zona de conforto e tentar trilhar novos caminhos, eu gosto tanto dele! A pérola oculta da sua extensa discografia.


2 - WHITE TRASH, TWO HEEBS AND A BEAN (1992)
A entrada do guitarrista e trumpetista El Hefe fez o som do NOFX tornar-se mais distinto e lapidado, como a icônica canção "Bob" e a engraçadíssima "Bugley Eyes" atestam. Como se isso não bastasse, "White Trash.." tem vários hinos que são presença obrigatória em shows até hoje: "Liza and Louise", "Stickin' In My Eye", "Soul Doubt" e, claro, não poderia deixar de citar, "Please Play This Song On The Radio", uma de minhas favoritas. A trilha sonora perfeita pra uma sessão de skate.


1 - PUNK IN DRUBLIC (1994)
"Punk in Drublic" foi o álbum que fez o NOFX estourar mundialmente, sendo disco de ouro nos EUA e ajudando a impulsionar o revival punk, junto com Offspring, Rancid e Green Day. Não há ninguém que tenha um mínimo de apreço por hardcore que não se emocione ao ouvir os primeiros acordes de maravilhas como "Linoleum", "Leave it Alone", "The Brews", "Don't Call me White" e "Lory Myers", entre outras. Indiscutivelmente um dos melhores álbuns de rock dos anos 1990.


Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

1 Comentários

  1. Muito bom, se os eps entrassem The Decline seria o segundo na minha lista. O que mais me impressiona no NOFX hoje é a perda de qualidade, som chato e preguiçoso. Esses novos 7" monrh club são decepcionantes...

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