Mantendo coerência sonora, Korn acerta no sofrimento em 'The Nothing'

Korn retorna com "The Nothing", seu novo álbum de inéditas
Por  Luciano Cirne 

Vou ser franco com vocês leitores(as): Eu gostava muito do Korn nos três primeiros discos; depois fui gradativamente deixando de prestar atenção neles porque comecei a achar que estavam se repetindo. Mesma sonoridade, mesmos temas nas letras, enfim, ao menos na opinião deste que vos escreve a coisa se tornou cansativa. 

Quando a banda lançou em 2005, See You On The Other Side, achei bacana a coragem de tentar outros rumos para a carreira e pensei que ali poderia ser o início de uma nova fase que tinha potencial para render frutos interessantes. Porém, apesar de a crítica ter adorado, o público não recebeu bem o trabalho em questão e daquele ponto em diante eles passaram a ficar numa espécie de zona de conforto, sem arriscar muito e fazendo o seu eficiente arroz com feijão. Ao ser incumbido pelo ROCKONBOARD de fazer a crítica do mais recente álbum dos caras, confesso que eu o coloquei para tocar com uma certa má vontade esperando mais do mesmo. Mas, admito mais uma vez (acho que foi a resenha mais confessional que já fiz!), tive que dar a mão à palmatória: The Nothing é um discaço!

No que diz respeito à sonoridade, não há mesmo novidades. Ao menos, nada radical a ponto de afastar os fãs antigos: Há algumas sutis e interessantes experiências, caso das batidas sincopadas de faixas como "Idiosyncrasy" e "H@rd3r", que remetem aos melhores momentos do Slipknot, e a canção que encerra os trabalhos "Surrender to Failure", que com seus pianos e atmosfera claustrofóbica, lembra muito o Nine Inch Nails da fase Year Zero, mas são pontos isolados. No geral, o que predomina é o bom e velho Korn de sempre que, como eu disse antes, joga pra torcida e faz o que sabe fazer com de melhor sem inventar muito, como no caso de "Cold", "You'll Never Find Me" ou "The Darkness Is Revealing". 


Nesse momento, aposto que você amigo(a) leitor(a) deve estar se indagando "Calma aí, você gastou um parágrafo inteiro reclamando dizendo que eles se repetiam, e agora está elogiando o disco mesmo dizendo que não há nada de tão diferente assim? Não tô te entendendo!"... Relaxem, sei que parece contraditório, mas há uma explicação lógica para isso: Há uma pequena coisa em The Nothing que faz toda a diferença no resultado final que se chama autenticidade. Se Jonathan Davis sempre passou a impressão de ser um cara meio perturbado, agora a coisa piorou absurdamente, haja vista que sua esposa de longa data Deven faleceu no ano passado. Esse triste acontecimento influenciou fortemente nas letras, mais angustiadas e honestas do que nunca. 

É comum nos referirmos a discos de metal dizendo que são pesados e brutais, mas aqui essas duas palavrinhas ganham um significado diferente. Os primeiros acordes da faixa de abertura "The End Begins" dão a tônica do trabalho: Uma lúgubre gaita de foles toca ao fundo enquanto Jonathan repete "Por que você me deixou?" entre gritos e choradeira, deixando claro o astral pesado que permeia o disco. Outro exemplo de como o clima estava feio é a penúltima música, "This Loss" onde, como o nome deixa claro, Jonathan lamenta como sua vida perdeu o sentido após perder sua cara-metade. O Korn sempre foi uma banda que cantou sobre dor e sofrimento, porém nunca pareceram tão maduros, vulneráveis e sinceros, o que influencia e muito para tornar a experiência de ouvir esse novo álbum tão impactante.

The Nothing é um disco denso, que parece ter servido como sessão de terapia para que o vocalista pudesse botar seus demônios pra fora (Jonathan Davis, provavelmente devido a emoção, nos entrega sua melhor performance em anos), e que por isso mesmo, tem uma força que há tempos não se (ou)via no trabalho dos caras. Peço sinceras desculpas a vocês fãs da banda: Ao contrário do que pensei, o Korn queimou minha língua e mostrou que ainda tem muita lenha pra queimar! Discaço e forte candidato a figurar entre os melhores do ano!
Cotação: 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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