Com 'Arise' e 'Beneath The Remains', irmãos Cavalera fazem sua melhor turnê juntos

Max e Iggor Cavalera relembrando clássicos do Sepultura [Foto: Rom Jom]
Por Ricardo Alfredo Flávio

Um lindo sábado, quente, convidativo para uma cerveja bem gelada e um show de rock dos bons, e no mesmo dia e horário, a cidade apresenta três opções sensacionais: a estreia nacional do trio norte-americano EARTHLESS, com seu poderoso ‘hard-psychedelic rock’, a despedida dos palcos da icônica PATRULHA DO ESPAÇO, num show repleto de convidados especiais, e a nossa escolha MAX & IGGOR CAVALERA, trazendo os irmãos fundadores do SEPULTURA de volta aos palcos brasileiros tocando um repertório especial, desta vez calcado nos álbuns Beneath the Remais (1989) e Arise (1991).

Eis que as nuvens escurecem o céu até então lindo e desaba o temporal! A região do Butantã é bem castigada, cai a energia elétrica nas ruas e o caos se instala. Chegando ao Tropical Butantã, o alívio de ver a casa iluminada no meio de uma vizinhança no breu absoluto. Um sanduíche na porta, mais uma cervejinha e as primeiras sensações de empolgação com o pessoal chegando para a festa.

Max Cavalera é um cara inquieto, acabou de lançar o 11º álbum do excelente Soulfly, (Ritual), no ano passado saiu o 4º trabalho do Cavalera Conspiracy (Psychosis), trabalho ao lado de seu irmão Iggor, e depois de rodar o mundo com a turnê “Return to Roots”, é a vez de nova turnê com velho repertório. “89/91 Era” revisita os discos que sacramentaram o Sepultura como um dos maiores nomes do thrash metal em todo o mundo, e, em minha modesta opinião, mostra o quanto Max parece arrependido de ter abandonado o barco, logo após o lançamento de Roots, em 1996.

O fato é que foi Max quem abandonou o Sepultura e nunca demonstrou o menor interesse em manter o nome da banda. Logo na sequência formou o Soulfly e viajou o mundo inteiro com a banda que ele podia chamar de DELE, mas, basta ler sua autobiografia (“My Bloody Roots”), para saber do quanto o Sepultura lhe faz falta e o quanto ele tem vontade de uma reunião, que, pelo que parece, nunca ocorrerá. Iggor manteve-se mais 10 anos no Sepultura, até que chegou a conclusão de que não queria mais aquilo, depois de gravar mais 6 álbuns com a banda sem o irmão. Reencontraram-se, fizeram as pazes e criaram a pancada Cavalera Conspiracy, cujos registros são ótimos.

Enquanto isso, Andreas Kisser e Paulo Junior mantiveram e recriaram o Sepultura, com o bom Derrick Green à frente, que hoje, conta mais tempo de banda que Max. Lançaram discos criticados por velhos fãs, mas ganharam muitos novos, e sempre tiveram a crítica a seu favor. Portanto, por mais que este show seja nostálgico e tenha me levado a relembrar os shows que vi em 1991, que hoje são tidos como “míticos”, que foram no Rock in Rio 2, no Maracanã, e na Praça Charles Müller, em São Paulo, é injusto dizer que “esse é o verdadeiro Sepultura”, como ouvi de diversos fãs emocionados na quente pista do Tropical Butantã.

Voltando ao que rolou na casa, com um calor insuportável, graças à falta de energia elétrica no bairro e todos os aparelhos de ar condicionado desligados, numa casa funcionando a base de geradores, tivemos três bandas de abertura, o que é legal para a rapaziada nova que tem a chance de se apresentar para um público grande, mas que é extremamente cansativo para quem está ali para ver apenas a atração principal e não tem muito interesse em coisas novas, com cara de velhas.

Ultra Violent, banda escolhida através de votação no Facebook, trouxe um thrash metal sem novidades, cantado em Português, vindos de Guarapuava, no Paraná, seguidos do Deaf Kids, de Volta Redonda, Rio de Janeiro, mas baseados em São Paulo, com um som pesado e repleto de gritos psicodélicos cheios de efeitos e finalizando, o Endrah, paulistanos com vocalista gringo mandando um hardcore intenso, mas que não empolgou, basta saber que o vocalista Relentless cansou de pedir para o público abrir uma roda e não foi atendido nenhuma vez.
Noite quente no Tropical Butantã, em São Paulo [Foto: Rom Jom]
O que veio a seguir foi celebração, pura e simples. O show abriu com “Beneath the Remais”, e o público, misto de velhos fãs e molecada que nunca viu o Sepultura original no palco, cantou palavra por palavra o que Max mandava lá do alto. A sequência com “Inner Self”, com sua voz original, arrepia e o público fica insano com o que a banda manda depois: “Stronger Than Hate”, “Mass Hypnosis”, “Slaves of Pain”, “Primitive Future”, intercaladas com frases e gritos de ordem da Max, que pede incansavelmente mãos para o alto em meio a um sem número de palavrões, básicos para quem o conhece no palco.

O calor que já era insuportável na pista, mesmo com duas portas laterais abertas para ventilar, aumenta com a massa sonora que a banda manda, e chega a vez do álbum Arise ser relembrado, com a faixa-título seguida dos petardos “Dead Embryonic Cells”, “Desperate Cry”, “Altered State” e “Infected Voice”!

E o que já era terra devastada, acaba por ruir com duas faixas seguidas do Motörhead, a já conhecida versão de “Orgasmatron”, que aparece em “Arise”, seguida de “Ace of Spades”, com Max sem guitarra, apenas atacando de vocalista! Saem do palco e Max diz, “voltaremos para tocar mais, mas gritem, porra!”

Rapidinho a banda volta, e em grande estilo, “Troops of Doom”, do primeiro disco do Sepultura, Morbid Visions, de 1986, talvez a música que Max Cavalera mais tenha tocado em sua carreira, pois sempre figura no repertório de qualquer uma de suas bandas. O bis continua com a faixa de abertura do “Chaos A.D.”, “Refuse/Resist”, seguida de “Roots Bloody Roots”, o que já era o suficiente para qualquer um ir para casa com alma lavada, mas, ainda tiveram fôlego para mandar um medley com “Beneath the Remais / Arise / Dead Embryonic Cells”.

Show excelente, para relembrar velhos e bons tempos. Desnecessário o grito de “Sepultura! Sepultura!” que alguns puxaram ao fim do show, logo trocados por “Max! Max! Igor! Igor!”, aí sim, terminamos muito bem a noite!

No Rio, mais uma noite de pancadaria da melhor qualidade
Max Cavalera repetindo o costume de levar a bandeira do Brasil [Foto: Rom Jom]
Por Rom Jom

O Rio de Janeiro também foi agraciado pela reunião dos irmão Cavalera - Cavalera Conspiracy ou Soulfly - no Circo Voador. Poderia falar que foi uma noite pesada de trash metal, com som alto ao extremo - e bem equalizado, rodas de pogo do início ao fim, fãs enlouquecidos de todas as idades - até porque essa turnê celebra dos albuns Beneath The Remains (1989) e Arise (1991) - execuções perfeitas da banda... Mesmo enumerando os adjetivos ainda seria bem pouco para tal.

Max é um showman que levanta qualquer platéia, mas dessa vez, as músicas falavam por si, ou melhor, todo o contexto atuava para isso. Fato. A noite começou com nada mais que "Beneath the Remains" e "Inner Self". O que podemos esperar com tanta porrada sonora? A banda está mais do que coesa e as músicas possuem ainda mais peso e rapidez do que os originais. A brutalidade tambem espanta! O que foi "Primitive Future" meus amigos?! Música essa que Max lembrou "Escolhemos na época esta música para abrir a nossa turnê na Europa!" 

Iggor Cavalera está mais brutal e técnico que na década de 90 - acreditem - bem diferente da ultima turnê que tocava na íntegra Roots no qual estava bem "burocrático" nas baquetas. Marc Rizzo (guitarrista - Soulfly e CC) toca todas as notas com perfeição as originais sem dó. É surreal ver essa perfeição de peso com a dobradinha de "Arise" com "Dead Embryonic Cells" e seus solos assim como no CD! Aqueles que escutavam o álbum afinco sabem do que estou falando. Mas um dos pontos principais foi escutar todas as músicas com um exímio baixista Mike Leon (Soulfly e CC). Assim como já contado na biografia do Max, Paulo, baixista original do Sepultura, tocava ao vivo com seu volume muito baixo, o que não aconteceu por aqui. Até mesmo o tapping de "Stronger Than Hate" não foi esquecido! 

E ainda teve homenagem ao Motörhead com a clássica "Orgasmatron", música essa que muitos conhecem até hoje pela versão do Sepultura a princípio, e a na sequencia "Ace of Spades" dessa vez com Max solto sem guitarra comandando a galera e fazendo um mosh "Vocês vão me segurar?" e não houveram danos, só festa. 

O bis, merecido depois de tudo isso, veio com nada mais que "Troops of Doom", "Refuse/Resist" e então "Roots Bloody Roots", e em versão quase de speed metal um medley de "Beneath the Remains/Arise" tirando o ultimo folego da platéia, ainda, ensandecida de peso na mente.

Sem dúvidas essa noite estará presente na cabeça de todos os presentes como a melhor apresentação dos irmãos pela cidade. E se tiver uma melhor algum dia, numa boa? Não percam.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2