Discos: Pessoal da Nasa (Testamento)

Foto: Divulgação
Pessoal da Nasa acerta na mistura em seu primeiro disco
PESSOAL DA NASA
"Testamento"
Toca Discos; 2017
Por Bruno Eduardo


O disco de estreia do Pessoal da Nasa, banda carioca que tem pouco mais de cinco anos de estrada, é certamente uma das melhores formas de entender a nova "cena" roqueira que se espalha por aí - principalmente no mundo virtual. A total independência de distribuição artística provocada pela internet acabou transformando as bandas em criaturas tentaculares, onde a maioria delas prefere se definir como "sem definição" - tamanha é a vontade de atirar em todas as direções e agradar o mundo inteiro. O grande problema é que na maioria das vezes, elas erram todos os alvos. Felizmente, isso não acontece em "Testamento". 

Aqui, tudo é muito bem untado e sem excessos. A ânsia da banda em mostrar que tem fogo na lenha para queimar fica evidente, mas devidamente restrita a cada ocasião. Com isso, a banda acerta em cheio, principalmente porque mesmo não tendo o rock como uma bandeira levantada, ela entendeu que o rock é o ponto que une todas essas influências expelidas em sua arte. 

Além dessa consistência na proposta sonora, existem alguns lampejos que tornam a música do Pessoal da Nasa algo realmente diferenciado. O mais evidente é a capacidade de fazer letras realmente boas. Não são aquelas junções de estrofes clichês para soar desesperadamente pop ou descolado. Há inteligência, humor e contexto em todas as mensagens. "Boatos", que abre o trabalho, poderia ser um hit radiofônico fácil se tivéssemos rádios 'de verdade' ou se alguém realmente ligasse para isso. A canção demonstra essa força criativa do grupo, que numa bela sacada, coloca em pratos limpos a rivalidade Rio x São Paulo de forma leve e sagaz. A faixa seguinte, que dá nome ao disco, traz referências melódicas de uma Nação Zumbi e também segue essa mesma peça bem humorada e estruturada de melodias e estrofes certeiros: "Quando eu morrer, faça um favor ó meu amor / Quero que me cremem / Cinzas é melhor / Cemitério é ruim / Eu prefiro subir de uma vez". Só essa dobradinha inicial já vale o ingresso nesse universo estudado pela galera da Nasa, que faz do disco um verdadeiro laboratório - conseguindo quase sempre ótimos temperos para esse cardápio de difícil definição.

No entanto, o grande destaque de 'Testamento' está na forma que o grupo se mostra e se assume como uma banda de rock, mas que podem sim, interpretar diversas influências sem perder a pegada. Então, pode ser retrô ("Amigos e Fantasmas"), pode ser pop/psicodélico/brega ("Férias") e pode ser old school ("Topless") que tá tudo certo. Só não pode deixar de ser rock, porque é exatamente nele que a banda cresce e mostra que é sabida. Ouça "Saruel", "Londres" e principalmente, "Zinho", que é, sem sombra de dúvidas, a perfeita definição do que é o som do grupo. Então não perca tempo e cole rápido nesse disco, pois ele é certamente uma das boas opções de novas investidas do rock nacional em 2017.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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