Discos: Katatonia (The Fall Of Hearts)

Katatonia alcança a perfeição em novo disco; banda vem ao Brasil este ano
KATATONIA
The Fall Of Hearts
Peaceville Records; 2016
Por Lucas Scaliza




Com um quarto de século de carreira, a banda sueca Katatonia teve tempo para experimentar e mudar a abordagem de seu heavy metal, se adequando, lapidando seu som, amadurecendo. Desde 1991, lançaram apenas dez álbuns e tiveram diversas formações, permanecendo apenas os dois membros fundadores (Jonas Renkse, vocal e guitarra, e Anders Nyström, guitarrista e tecladista) como músicos fixos. Após passar por um período de adequação com a chegada do guitarrista Roger Öjersson e o baterista Daniel Moilanen, The Fall Of Hearts surge como um passo importante para a banda. Não se trata de um disco metaleiro, embora tenha metal, mas sim de um álbum que ressalta ainda mais toda a carga emocional que sempre marcou a sonoridade triste e sombria do Katatonia. E tudo feito com arranjos muitos bonitos, solos bem construídos e teclados que surgem na hora certa.

Há peso e há riffs no disco, mas não é um trabalho que se pauta pelo peso e pela velocidade. Assim como o Opeth em seus dois últimos discos, o Katatonia privilegia a qualidade das composições, a interpretação correta das emoções, sem ansiedade e com timbres e atmosferas coesas. A linda “Takeover” abre The Fall Of Hearts depejando romantismo gótico a princípio e, logo em seguida, uma pegada mais progressiva e mais emocionante, com direito a guitarras atmosféricas, camadas de vozes que enriquecem a linha vocal, mudanças de compasso e bumbos duplos. Essa descrição tenta mostrar que Renske e Nyström ousaram e acertaram.

Mesmo “Serein”, mais direta e mais melódica para funcionar como um single do disco, não perde a elegância dos arranjos. Embora seja uma faixa bem mais simples que as demais, usa a dinâmica e as batidas de Moilanen para não deixarem que a faixa seja nivelada por baixo, como tem acontecido com os últimos singles do Nightwish. “Old Heart Falls”, também na linha de frente para divulgar o álbum, é mais sofisticada, indireta e quase experimental em alguns momentos. Cresce no refrão e dá a oportunidade de Öjersson criar um tema marcante na guitarra. “Decima” mantém a mesma estética das canções anteriores, adicionando um violão ao seu som e uma ênfase nas acentuações rítmicas fazendo com que violão, bateria, baixo e vocal tenha que obedecer a uma cadência determinada quase que matematicamente durante a composição.

O poderio metaleiro da banda está nos riffs graves e acordes poderosos de “Sanction”, na longa e arrastada “Serac” (que lembra bastante o Opeth), em “Last Song Before The Shade” que, contrariando todas as expectativas, entrega um solo de poucas notas, lentos e sem exibicionismo. E como dinâmica é algo que o Katatonia está usando com maestria no disco, “Passer” começa com a passagem mais rápida e pesada do disco, só para depois diminuir drasticamente o andamento e voltar a brutalizar bateria, baixo e guitarras no refrão.

Músicas pesadas guardam passagens calmas e abordagens bastante diretas em certos momentos, enquanto músicas aparentemente mais tranquilas evoluem para um heavy metal vigoroso com detalhes melódicos sinistros. As composições de The Fall Of Hearts encontram meios de se desenvolver que desafiam nossa expectativa, encaixando novas partes, novos riffs, novas abordagens harmônicas aqui e acolá.

Esteticamente, o disco ainda apresenta o mesmo metal triste e de humor sombrio que já estava presente em Dead End Kings (2012), mas a abordagem mais progressiva das canções e o romantismo gótico dão um toque especial, fazendo de The Fall Of Hearts um trabalho mais ambicioso, mais bonito e ainda coeso como o Katatonia sempre foi. Se peso não é essencialmente o que você busca na música e sabe valorizar uma canção bem construída, o disco é um combinado de emoções e temas que tentam chegar ao coração e a alma do ouvinte mais sinestésico ou mais melancólico. Há dor, sofrimento e solidão em cada canto e verso dessas músicas. E são sentimentos tão bem interpretados que fazem do Katatonia não apenas uma banda com um ótimo álbum, mas um estado de espírito.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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