Discos: Defalla (Monstro)

Foto: Raul Krebs
Após 14 anos, Defalla volta em grande estilo com "Monstro"
DEFALLA
Monstro
Deck Disc; 2016
Por Bruno Eduardo




Foram necessários 14 anos para juntar os cacos, remendar os membros, trocar o sangue e dar uma recauchutada no visual. E não é que eles conseguiram? "Monstro", o nono disco de estúdio do Defalla, consegue a incrível façanha de reunir todas as aberrações sonoras que fizeram parte da multifacetada carreira da banda. Mesmo que o setecentismo fale mais alto em várias partes, a nova criatura transborda numa iguaria musical irrotulável, capaz de viajar nas ondas dos Mutantes e dançar nas pistas de James Brown com a mesma desenvoltura. 

Uma vinheta de quarenta e três segundos desperta o monstrengo. A faixa-título, que abre o disco, é o diário da criatura, que fala sobre os anos de reclusão e sua volta à sociedade com sede de vingança. A canção serve também como um prefácio do álbum, e dita uma certa temática a ser seguida. A sonoridade quase paralela do início se transforma num funk rock dos bons em "Zen Frankestein", resgatando um som abandonado por bandas como Red Hot Chili Peppers , Faith No More, e pelo próprio Defalla no fim dos anos noventa. Por ter sido uma das poucas bandas contemporâneas da febre funk-metal que invadiu o mundo naquela época, o Defalla mostra que não perdeu a receita em "Fruit Punch Tears In The Treasure Hunt" e "Love is For Losers", que dão o tom groove ao novo trabalho. Já a veia hard do início da carreira aparece de forma suja ("Mate-me") e polida ("Veneno"), mas segue conservada por uma harmonia sonora que surpreende até os fãs mais antigos.

O disco também é repleto de participações especiais, que ao contrário do que se vê na maioria dos casos, elas realmente soam como ingredientes necessários para a coisa funcionar. Isso acontece principalmente em "Delírios de Um Anormal", uma das melhores coisas que o grupo já produziu na carreira, e que ganha força na voz de Pitty. A faixa possui sete minutos de uma mutação bem acabada de stoner rock, psicodelia e noise - coisa fina. "Timothy Leary" é mais uma que surfa nas ondas do psicodélico, com vocais à-la Mutantes e participação de Beto Bruno (Cachorro Grande). Em "Dez Mil Vezes", o Defalla remete à Tim Maia (fase "Racional") e retoma a cartilha básica do rock gaúcho ao incluir Humberto Gessinger, dos Engenheiros do Hawaii no cardápio. O rock ácido e cheio de visões particulares, que tanto caracteriza os trabalhos de Edu K, também aparece representado na levada espacial de "Aldous Huxley" e na saudosista "Ken Kesey" - que poderia estar perdida no cultuado Kingzobullshit.

"Monstro", que demorou quase cinco anos para ser finalizado, é muito mais do que uma volta da formação clássica do grupo. Ele é um resultado brusco e igualmente sublime do que o tempo é capaz de fazer quando ainda há sinergia artística e instinto apurado entre os integrantes. Valeu a pena esperar tanto tempo.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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