The Rapture e sua maçaroca sonora em Circo Voador lotado

Foto: Adriana Vieira
 
O The Rapture transbordou decibéis com sintetizadores, bumbo no talo e vocal afinado.  Em um dos shows mais ensurdecedores (no bom sentido) que o Circo Voador já tenha recebido, os nova iorquinos não desapontaram o bom público presente.  Analisando a presença maciça da galera, numa sexta-feira acompanhada de uma chuvinha chata, cheguei à conclusão de que esse lance de crowdfunding (Queremos!), é uma das coisas mais legais que já se teve notícia. Digo isso, pois tive o desprazer de cobrir um excelente show do Fishbone em 2010 para meia dúzia de gatos pingados no mesmo local.

Numa espécie de espelho à banda, o público também se mostrava resultante de um cruzamento de punks com jovens perdidos de alguma rave. Garotos com camisas de bandas como Ramones e Nirvana, sacodiam os esqueletos nas batidas do DJ Breakbot (que abriu a noite) - constatando que as tendências da música contemporânea juvenil (principalmente o rock) não têm mais pregas.

O The Rapture já está na praça há quase 15 anos (o primeiro disco foi lançado em 2003), e essa é a segunda vinda ao Brasil. A primeira passagem da banda foi no Planeta Terra, em 2007. Hoje, eles divulgam o seu terceiro trabalho, batizado de In the Grace of Your Love (2011). A banda inclusive, quase acabou de vez - a mãe de Luke cometeu suicídio, e um integrante deixou a banda.  Mas tudo isso parece ter fortalecido as raízes do grupo, que se mantém enérgico em cima dos palcos.

Sonoramente capitaneados pelo bom baterista Vito Roccoforte, que mantém a batida na firmeza de um elefante, o The Rapture trouxe a sua mistura de punk-funk-disco para o Circo Voador. Teclados, sintetizadores, percussão, batera, baixo, guitarra, sax, e um vocal forte. O grupo que foi uma das bandas mais marcantes do início da década passada, mostrou que ainda segura a onda.

Como utilizam muitos sintetizadores (jogados direto na mesa), o bumbo, e principalmente, o vocal de Luke Jenner, estavam no limite. Ainda assim, o vocalista surpreendeu, e arriscou alguns falsetes bem sucedidos. Se tudo estava muito alto, a estridente (e vermelha) guitarra de Luke parecia ser apenas um “arroz de festa” para essa salada musical. Os fãs cantaram forte o refrão de “Whoo! Alright — Yeah... Uh Huh”, mas foi entre a levada punk-paranóica de “House of Jealous Lovers” e a leveza disco de “Come Back To Me”, que eles demonstraram completa sintonia com o público e uma autoridade de palco, que marcam as bandas de qualidade. 

Completamente bem dispostos, Luke Jenner e Gabriel Andruzzi esbaldaram fôlego, e aproveitaram a sua própria discoteca para entrar na dança. Enquanto o primeiro trepava nas caixas de retorno no fundo do palco, o segundo ensaiava passos à frente, como se estivesse em participando de algum concurso.

Mesmo não tão rock quanto um Ramones, nem tão eletrônico quanto qualquer rave, o The Rapture conseguiu untar o som, direcionar muito bem a sua proposta, e realizar com afinco a praticidade performática de qualquer show que se preze. O público que não esperava diferente do que era de fato, degustou a maçaroca sonora, e saiu da casa de shows saciado.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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