O The Rapture transbordou decibéis com sintetizadores, bumbo no talo e vocal afinado. Em um dos shows mais ensurdecedores (no bom sentido) que o Circo Voador já tenha recebido, os nova iorquinos não desapontaram o bom público presente. Analisando a presença maciça da galera, numa sexta-feira acompanhada de uma chuvinha chata, cheguei à conclusão de que esse lance de crowdfunding (Queremos!), é uma das coisas mais legais que já se teve notícia. Digo isso, pois tive o desprazer de cobrir um excelente show do Fishbone em 2010 para meia dúzia de gatos pingados no mesmo local.
Numa espécie de espelho à banda, o público também se mostrava resultante de um cruzamento de punks com jovens perdidos de alguma rave. Garotos com camisas de bandas como Ramones e Nirvana, sacodiam os esqueletos nas batidas do DJ Breakbot (que abriu a noite) - constatando que as tendências da música contemporânea juvenil (principalmente o rock) não têm mais pregas.
O The Rapture já está na praça há quase 15 anos (o primeiro disco foi lançado em 2003), e essa é a segunda vinda ao Brasil. A primeira passagem da banda foi no Planeta Terra, em 2007. Hoje, eles divulgam o seu terceiro trabalho, batizado de In the Grace of Your Love (2011). A banda inclusive, quase acabou de vez - a mãe de Luke cometeu suicídio, e um integrante deixou a banda. Mas tudo isso parece ter fortalecido as raízes do grupo, que se mantém enérgico em cima dos palcos.
Sonoramente capitaneados pelo bom baterista Vito Roccoforte, que mantém a batida na firmeza de um elefante, o The Rapture trouxe a sua mistura de punk-funk-disco para o Circo Voador. Teclados, sintetizadores, percussão, batera, baixo, guitarra, sax, e um vocal forte. O grupo que foi uma das bandas mais marcantes do início da década passada, mostrou que ainda segura a onda.
Como utilizam muitos sintetizadores (jogados direto na mesa), o bumbo, e principalmente, o vocal de Luke Jenner, estavam no limite. Ainda assim, o vocalista surpreendeu, e arriscou alguns falsetes bem sucedidos. Se tudo estava muito alto, a estridente (e vermelha) guitarra de Luke parecia ser apenas um “arroz de festa” para essa salada musical. Os fãs cantaram forte o refrão de “Whoo! Alright — Yeah... Uh Huh”, mas foi entre a levada punk-paranóica de “House of Jealous Lovers” e a leveza disco de “Come Back To Me”, que eles demonstraram completa sintonia com o público e uma autoridade de palco, que marcam as bandas de qualidade.
Completamente bem dispostos, Luke Jenner e Gabriel Andruzzi esbaldaram fôlego, e aproveitaram a sua própria discoteca para entrar na dança. Enquanto o primeiro trepava nas caixas de retorno no fundo do palco, o segundo ensaiava passos à frente, como se estivesse em participando de algum concurso.
Mesmo não tão rock quanto um Ramones, nem tão eletrônico quanto qualquer rave, o The Rapture conseguiu untar o som, direcionar muito bem a sua proposta, e realizar com afinco a praticidade performática de qualquer show que se preze. O público que não esperava diferente do que era de fato, degustou a maçaroca sonora, e saiu da casa de shows saciado.