Living Colour pega carona no blues e lança 'Shade', seu melhor disco desde 'Stain', de 1993

Após oito anos sem gravar, Living Colour exibe boa forma em 'Shade'
LIVING COLOUR
"Shade"
Megaforce Records; 2017
Por Bruno Eduardo


A última vez que o Living Color lançou um álbum foi há oito anos. Além disso, 'Shade' foi anunciado em 2013, e, após uma longa espera, ele finalmente está disponível ao mundo. A melhor das novidades é que o álbum traz um conjunto irretocável de canções e oferece a mesma mistura orgânica de blues, funk, hip-hop, hard-rock e metal, que marcou a banda no final dos anos oitenta e início dos anos noventa. Este é sem dúvidas o melhor trabalho do quarteto desde 'Stain', lançado em 1993 - álbum que marcava o final de uma trilogia digna, que começou em 'Vivid' e chegou no ápice criativo no excepcional 'Time's Up' (1990). 

Assim como em grande parte do disco, o blues também inspira a fortíssima "Freedom of Expression (FOX)", que abre o trabalho e conta com o instrumental conciso da banda. Mesmo que o som do grupo seja firmemente fundamentado no hard rock, alguns elementos musicais díspares se destacam ao longo das treze faixas de 'Shade'. Um grande exemplo dessa mistura sonora é "Come On", que traz efeitos de guitarra baseados na eletrônica e se desloca suavemente entre o funk e o rock. Uma das melhores é "Who's That", uma mistura enérgica de blues, soul e hard - que faz lembrar bastante outro co-irmão do funk o'metal: o excelente Fishbone. A canção traz sax, solos de teclado e Vernon Reid esmerilhando do início ao fim.

Contando com a habilidade de Corey Glover, que alterna punch e falsetes de forma sublime, "Program" é hard rock padrão Living Colour e uma das melhores coisas que a banda já fez. Outra que segue esse mesmo caminho nostálgico e com grande influência política é a versão rap-metal de Notorious B.I.G."Who Shot Ya", que traz o mesmo groove pesado que consagrou o grupo. Já "Pattern in Time" revela a faceta mais pesada do Living Colour e lembra muito a fase de canções mais quebradas do disco 'Stain'. Além de contar com um ótimo repertório musical, 'Shade' também se destaca pela engenharia de estúdio. É certamente o álbum do Living Colour que conta com a maior clareza de produção ouvida nos últimos 20 anos. Com cortesia de Andre Betts, a banda faz com que cada elemento musical brilhe fortemente e impressione o ouvinte em várias passagens.

Mesmo com um time de craques na linha instrumental, um dos grandes trunfos do Living Colour em 'Shade' é a excelente forma de Corey Glover, que permite ao grupo passear entre o blues e o metal com a mesma desenvoltura de seus melhores tempos. Essa 'categoria' da banda fica cravada de forma sublime num cover de Robert Johnson ("Preachin Blues"), que aparece como um blues pesadão, arrastado, com o vozeirão de Glover fazendo valer cada segundo de audição. "Blak Out" é mais uma que ganha força na voz de Glover, e tem no baixo de Doug Wimbish, o carimbo da banda. 

A marca indelével do Living Colour, mantendo sabores e texturas de George Clinton & The Parliament Funkadelic, aparece bem na parte final do álbum ("Inner City Blues"), deixando ainda mais a certeza de que 'Shade' é sem sombra de dúvidas um dos álbuns mais exemplares de rock que você poderá escutar em 2017. Difícil de ser batido.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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