DISCOS: SCOTT WEILAND (BLASTER)

SCOTT WEILAND

Blaster

Steamhammer; 2015

Por Lucas Scaliza







Scott Weiland é sinônimo de diversão, de rock bom e divertido. E Blaster é isso mesmo. Nada de arte, nada de grandes exibições técnicas. É rock’n’roll para festa, para ouvir no carro, para agitar a galera, para ser só música de entretenimento sem culpa. Mas uma boa música de entretenimento - portanto, não vá esperando ambições artísticas como as recentemente demonstradas por Steven Wilson e seu Hand. Cannot. Erase. ou Steve Hackett com seu Wolflight, ok? Estão mais próximos de Tom Petty & The Heartbreakers.

Faça o teste: ouça “Bleed Out” sem querer sair dançando. Ou os riffs westerns de “Youth Quake” sem ser contagiado pelo ritmo e pela levada do baixo. Não faz mal que tudo parece simples demais. É um tipo de rock que remete aos anos 80 no jeito de evocar guilty-pleasures e aos anos 90 no jeito de ser direto e guitarreiro. Dúvida? Coloca para tocar “20th Century Boy” e logo no gritinho inicial você vai entender.

Embora não seja nada de proporções épicas e não tenha originalidade nenhuma para tornar Weiland, os Wildabouts ou o álbum lendários no mundo do rock, digo sem medo que Blaster sozinho sabe divertir e ser melhor do que quase tudo que o Bon Jovi tem lançado nos últimos anos. E ainda tem o blues rock com ótimo refrão de “Way She Moves”, a arrastada “White Lightning” e a comercial “Blue Eyes”, sem falar na simples e inocente “Beach Pop”.

Em um álbum em que quase todas as músicas parecem ser fortes candidatas a single radiofônico, fica a certeza de que os shows podem ser ótimos, já a plateia, mesmo que não conheça Blaster, não deverá ter dificuldade de se identificar com qualquer coisa que seja tocada do álbum. E em meio a tudo isso, duas chamas a atenção. “Parachute”, que se permite ser um pouco mais viajante, e a excelente “Circles”, que troca as guitarras pelo violão dedilhado e faz um western bem bonito com ótimos arranjos.

Scott Weiland é um bom vocalista para rock’n’roll. Ele sabe de suas limitações e nunca passa do ponto. Não é incrível, mas é eficiente. Ao vivo então, nem se fala, sobretudo por conta de sua tendência de ser showman e realmente entreter a plateia. Os Wildabouts que o acompanham nessa empreitada são Tommy Black na bateria, Danny Thompson no baixo e Jeremy Brown na guitarra. São apenas quatro caras e o bom repertório de Blaster não exige nada mais para funcionar bem.

Scott Weiland ganhou relevância no cenário mundial do rock como vocalista do Stone Temple Pilots. Quando a banda suspendeu as atividades, foi recrutado no início do século pelos ex-Guns’N’Roses Slash, Duff e Matt para cantar em uma nova banda, Velvet Revolver, que também fez um ótimo barulho enquanto esteve ativa e na estrada. Ao longo de toda a sua carreira, Weiland também ficou famoso por seu consumo de drogas e rehabs a que precisou recorrer, prejudicando inclusive gravações de discos e turnês. Sem falar que o Stone Temple Pilots foram reativados em 2008, mas precisaram demitir o vocalista em 2013, que estava causando problemas com o resto da banda. Chester Bennington, do Linkin Park, acabou substituindo-o.

Mesmo em uma fase divertida como a que tem passado com os Wilabouts – e Blaster atesta isso muito bem –, os reveses da vida não saíram do encalço de Weiland. Mal Blaster chegou aos ouvidos do público e seu guitarrista, Jeremy Brown, morreu aos 34 anos. As causa do óbito ainda não foram divulgadas, mas Weiland disse que ficou preocupado ao ver que Brown não chegava para o ensaio da banda, um dia antes do lançamento do disco. Recentemente haviam tocado no festival South By Southwest em Austin, Texas, e tinham 20 datas de shows já marcadas.

Brown tocou guitarra no disco solo de Weiland Happy in Galoses e acompanhou o cantor, junto dos outros Wildabouts, na turnê que apresentava músicas dos discos Core e Purple do Stone Temple Pilots.

Blaster é tanto volta de Scott Weiland ao rock com material novo quanto o testamento em música de Jeremy Brown que, apesar da falta de pretensão do trabalho, mostra uma mão muito boa para o riffs e solos. A ótima “Modzilla”, que abre o disco, fica como vislumbre do que ele poderia ter mostrado nos anos seguintes se lhe fosse dado mais tempo.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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