DISCOS: SLIPKNOT (5. The Gray Chapter)

SLIPKNOT

5. The Gray Chapter

Roadrunner Records; 2014

Por Lucas Scaliza








Entre o peso e a melodia, passagens memoráveis e vocais guturais, o quinto disco do Slipknot é uma homenagem ao ex-baixista da banda, Paul Gray - que faleceu em 2010 e comoveu grande parte do cenário heavy metal mundial. É um ótimo registro, que mantém as batidas pesadas, o timbre encorpado e grave das guitarras e a agressividade de sempre. Só que diferente de Iwoa (2001), 5. The Gray Chapter inclui mais melodia, abre mão da voz gutural para versos bem mais limpos e até sons artisticamente mais elaborados - mais ou menos na linha do que o Opeth propôs com Pale Communion (mas o Slipknot ainda é metal, enquanto o Opeth se direcionou mais para o rock progressivo no novo trabalho) ou o In Flames com o Siren Charms.

Criar um clima sombrio ou de agressividade sempre foram elementos que essa banda de Des Moines soubera fazer nos discos, nos clipes e nos shows ao vivo. As máscaras e as roupas que seus integrantes usam, ajudam na hora de causar impacto visual, na linha do que foi o Kiss e o Alice Cooper nos anos 70 (grupos cujas imagens hoje parecem brega e não assustam mais ninguém) e o Marilyn Manson nos anos 90 (e que hoje parece mais excêntrico do que exatamente aterrorizante). Independente do figurino, a música em 5. The Gray Chapter transita bem entre violência e melodia, na linha do Vol. 3 (The Subliminal Verses), lançado 10 anos atrás.

XIX”, que abre o disco, é totalmente assombrada pelos efeitos e acordes dissonantes do teclado de Craig “133” Jones e dos sintetizadores de Shawn “Clown” Crahan acompanhando a voz rascante. Ela parece que vai crescer e estourar em algum riff pesado, mas isso nunca acontece, terminando em um anticlímax. Já a faixa seguinte, “Sarcastrophe”, não tem um início épico, como seria de esperar, mas uma introdução climática que lembra algumas composições do Sepultura e até mesmo um cruzamento de riffs do Dream Theater com Rammstein.

Mas não se engane: nem tudo é um crossover entre guitarras de sete cordas afinadas até dois tons abaixo e rock mais acessível. Além de “Sarcastrophe”, faixas como “Skeptic”, a sombria “Lech”, “Nomadic” (com um efeito de sintetizador que lembra um grito ao longe), “The Negative One” (pesada, só que mais do mesmo) e “Custer” são exemplos de metal para bater a cabeça com gritos e fúria, como gostam os fãs do Slipknot. São também boas composições, que demonstram a boa pegada dos novos integrantes (baixista e baterista) - que não tiveram suas identidades reveladas e aparecem com máscaras bem parecidas com as usadas pelos ex-membros no vídeo de “The Devil in I”.

Embora tentem soar assombrosos, o Slipknot consegue apenas reproduzir um clima já bastante conhecido entre as bandas de industrial e nu-metal, evocando um terror mais Hollywood, mais trilha sonora. Em Once More ‘Round The Sun (2014), os metaleiros do Mastodon conseguiram expressar um terror mais ancestral e profundo [leia a resenha do disco AQUI]. O Slipknot se aproxima disso na excelente “If Rains is What You Want”, onde voltam a se preocupar mais com a atmosfera do que com a batedeira de cabeça e cabelo - os timbres de guitarra soam diferentes, mais adequado ao clima sinistro. Nessa faixa a banda atesta seu refinamento musical, já que velocidade, violência e peso estão provados há muito tempo e já não servem de elemento diferenciador.

A banda tem quase 20 anos de estrada e apenas cinco álbuns, mas grande reconhecimento entre o público metaleiro, além de reconhecimento entre a crítica especializada e outros músicos que enxergam na banda uma força não apenas criativa, mas que consegue gravar e dar vazão a músicas pesadas com letras agressivas e mensagens e imagens que geram controvérsia sem soarem falsos. As incursões por momentos mais melódicos e acessíveis não parecem uma tentativa de o Slipknot ser uma banda mais conhecida entre o público não-metaleiro ou coisa do tipo. Está claro que é uma forma de explorarem outros lados técnicos e criativos de seus músicos e tornar o repertório mais artisticamente diverso. Ainda estão muito presos ao tipo de som que sempre fizeram e repetem vários maneirismos do estilo, o que deixa espaço para muita coisa ser incluída e mesclada ao som sem perder as características originais. Mas apesar disso, é um disco longo (a versão deluxe chega a 84 minutos) e que agrada.



[Lucas Scaliza, jornalista, tem seus textos resgatados no blog Escuta Essa]

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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