Pitty e suas muitas vidas no Circo Voador


Por Bruno Eduardo

Um amigo costumava dizer que quando um artista se apresenta duas noites consecutivas em uma cidade, você deve esquecer a primeira noite. Segundo ele, o último show é sempre melhor. Mas e se repertório for o mesmo da noite anterior? Será que rola um empate técnico? Vá saber! O fato é: só quem foi nas duas noites pode fazer uma justa avaliação - aliás, caso você queira saber como foi o show de sexta-feira, leia a opinião do colega Marcos Bragatto AQUI.  

Analisando o enredo e tirando conclusões em uma hora e meia de catarse, fica a certeza de que no final das contas, Pitty venceu! O show deste sábado - tal como o de sexta - serviu para comprovar que aquele processo de transformação iniciado em Chiaroscuro fez por salvar para sempre a carreira artística da cantora. Não é qualquer artista que atrai gente de todas as partes do país para a casa de rock mais carioca do planeta. E se Pitty canta sua sobrevida aos ventos, podemos dizer que seus fã-clubes também possuem muitas vidas para gastar. Afinal, tinha gente de Porto Alegre voltando correndo para casa só para poder assistir o show outra vez. Teve gente de Salvador, de São Paulo, e uma galera de Manaus - que ao encontrar Rafael Ramos nos arredores do Circo, fez questão de cobrar: "E aí, a Pitty não toca em Manaus?

Como não poderia ser diferente, Pitty foi recebida de forma efusiva ao som de seu último sucesso, "Setevidas". Embora seja marca registrada em seus shows, um magnífico telão de alta tecnologia deu ao palco do Circo Voador um destaque para lá de histórico. Nem as bandas gringas utilizaram tão bem esse artifício na "Nave". Em contra partida, era praticamente impossível ouvir a voz da cantora nas três primeiras canções - volume muito baixo, para não dizer mudo. Outro ponto que chamou a atenção dos meninos (e das meninas!), foi a forma física exuberante da baiana - confirmando Marília Gabriela, que disse em um programa que Pitty teria "embelezado" com o tempo.

Do ótimo disco novo, apenas "Lado de Lá" não entrou no set. Mas em compensação, tivemos o rock sombrio de "Pouco"; o ritmo de marcha de "A Massa"; e a guitarrada à QOTSA de "Boca Aberta" - é um show para os fãs. Tocar praticamente o disco "Setevidas" inteiro poderia sugerir uma apresentação econômica, no que diz repeito aos sucessos populares. Negativo. Estava tudo reunido na mesma arca: "Teto de Vidro", "Admirável Chip Novo", "Me Adora", "Na sua Estante", e a verdadeira balada de amor inabalável: "Equalize" - é um show para a galera das antigas, também. É sim! 

Regendo sua legião, ela evoca um ritmo de cantigas em "A Serpente", desejando que todos voltem para casa na mais possível tranquilidade. A euforia que dominou o local durante pouco mais de uma hora, dava lugar a paz, serenidade, e complacência - tudo o que Pitty vem buscando nos seus "últimos cinco meses". Emblemático.


Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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