DISCOS: SCALENE (Real/Surreal)

SCALENE

Real / Surreal

Independente; 2013

Por Bruno Eduardo


9.0

Real/Surreal é corajoso, conceitual, e irrestrito a rótulos. 

A canção “Danse Macabre” - escolhida como música de trabalho, inclusive com vídeo clipe lançado previamente - dá a pista exata da proposta ampliada do grupo brasiliense, Scalene. Embora o álbum seja bem mais soturno do que o “single” possa sugerir, Real/Surreal conta com uma cartilha heterogênea de influências variadas, que vão desde o hardcore melódico - batido e descartável – ao stoner rock, pós-punk e post-rock europeu. O interessante, é que essa abrangência de estilos, que acabou se tornando uma faca-de-dois-gumes para os novos artistas, desce redonda e soa genuína, em Real/Surreal. 
 
Como o título sugere, o trabalho é dividido em dois discos. O lado A (ou disco um), Real, traz uma cartilha mais dinâmica, com letras que abordam o cotidiano. Um dos destaques do disco, a canção “Nós Maior que Eles”, remete às guitarradas de Josh Home – fase QOTSA Rated R. Já “Marco Zero”, seria o caminho tomado pelo nu-metal no início dos anos 2000 - com acordes de guitarra em afinação reduzida e cheia de reverb. Diante de tanta disparidade sonora, as letras - embora pretensiosas – se tornam um mero detalhe. Há uma notável escassez de refrãos engajados, mas sobram melodias bem feitas – tornando a voz de Gustavo Bertoni um instrumento em potencial.

O segundo disco, Surreal, reserva a parte mais interessante do repertório. Recheado de canções densas e melodias introspectivas, o CD contém uma sonoridade turva e instigante. Ouvindo canções como “Milhares Como Eu”, é de se questionar a funcionalidade do repertório em grandes arenas – particularmente, acredito que seja um trabalho para teatros e locais intimistas. “Branco” e “A luz e a Sombra” (que conta com a participação de Lucas Lima), seguem pelo mesmo caminho de incubação rítmica, que desponta no ritmo oscilante de “O Alvo”. A realidade cotidiana do primeiro CD dá vaga ao lado abstrato da vida, onde, musicalmente falando, as coisas parecem fazer mais sentido para o grupo brasiliense. De qualquer forma, em cenário alternativo tão carente, o Scalene parece brotar como uma flor rara num solo estéril – se isso é real ou surreal, só o tempo dirá.

Ouça: Danse Macabre

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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