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| Foto: Joshua Halling |
O que leva 68 mil pessoas a um estádio se não são as canções? Você pode pensar em pulseiras coloridas, palcos mirabolantes, luzes, pirotecnia ou atributos físicos. Sem as canções, não existe conexão.
O debut do Oasis é de 1994. Nesse ano, além deles, Green Day, Nine Inch Nails, The Cranberries, Weezer, Candlebox, Live, Collective Soul e Alanis Morissette deram seus passos gigantes ao estrelato. Invadiram as rádios, tiveram clipes em alta rotação, discos vendendo milhões e turnês de sucesso. Porém, os irmãos Noel e Liam Gallagher conseguiram manter uma enxurrada de canções dos seus três primeiros álbuns em alta rotação global, entre 1994 e 1997, embora o mercado USA e a Billboard tenham fingido que nada aconteceu.
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| Foto: Harriett Kbols |
No Brasil, o Oasis virou referência de rock britânico e, por mais que você não gostasse, entre um Metallica, um Raimundos, um Guns N' Roses ou um C. Brown Jr., sempre estavam eles com 5 ou 6 canções diferentes o tempo todo.
Vieram ao Brasil várias vezes, tocaram no Rock in Rio de 2001. Depois, em carreiras solo (Flying Birds, Beady Eye, Noel ou Liam), sempre entravam os hinos do Oasis no meio do set list para dar o gás e alimentar a saudade. Esse público, que tinha 12 a 28 anos em 1994, envelheceu, amadureceu e ficou órfão desse sentimento coletivo, ecumênico.
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| Foto: Harriett Kbols |
Entra 2024 e Oasis anuncia a sua volta, após 15 anos, para fazer multidões vibrar lembrando todo esse repertório. Repito: sem as canções, nada disto estaria acontecendo. Mesmo não gostando, você sabe a letra ou a melodia e embala a cantoria da torcida em vibrações coletivas.
Por exemplo, no show de sábado, 22 de novembro, no estádio Morumbis, na capital paulista, "Live Forever" e a sua belíssima letra de conexão: "... I think you're the same as me / We see things they'll never see / You and I are gonna live forever..." (Penso que você é igual a mim, vemos coisas que eles nunca verão, você e eu seremos imortais). Dedicada ao amigo Mani dos Stone Roses recém-falecido. A cantoria generalizada é a noite toda, porém o ápice é no final com "Don't Look Back in Anger", "Wonderwall" e "Champagne Supernova". As luzes se acendem na primeira balada para mostrar um estádio em uníssono emocionado. O arremate com "Wonderwall", por mais batida que seja, mostra exatamente o momento em que a canção transcende e deixa de ter autor ou dono. É do povo, e as multidões que a cantam transmitem amor exorbitante que multiplica. Você sai do show do Oasis numa vibração renovada.
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| Foto: Joshua Halling |
A igreja dos Gallagher fecha a sessão com um jogo de artifícios colorido sincronizado num balé de luzes e explosões que já valem o preço do ingresso, No finalzinho de "Champagne Supernova", durante 3 minutos, a banda tem como sair correndo, pegar as vans e abandonar o local. Quando tudo termina, estamos urrando e olhando para os céus com a Supernova de Champagne nos céus.
O show é longo, cansativo para quem somente conhece 6 ou 8 hits. Mas nessas canções superconhecidas como "Supersonic", "D'You Know What I Mean?", "Stand By Me", "Little by Little", "Rock and Roll Star", "Morning Glory" e "Cigarettes e Alcohol", você sente o motivo de serem conhecidos por milhões.
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| Foto: Joshua Halling |
As camisetas réplicas da Adidas, com gola, do Oasis Futebol Clube, nos camelôs por 120 a 140 reais vendiam aos montes. Oasis vira torcida organizada, e a banda gosta dessa linguagem de futebol adotada por todos. Melhor maneira de mostrá-la é quando Liam pede que nos viremos de costas para fazer o famoso Poznań em "Cigarettes". O show inteiro tem gente pulando, cerveja voando, lágrimas, risos, emoção à flor da pele. 100% rock and roll, 100% torcida de futebol.
Manchester é levada de cidade em cidade na Turnê Oasis 25, seja na playlist de música eletrônica que toca durante a tarde toda, lembrando o famoso clube Hacienda e o som "Madchester", ou na multidão uniformizada em dezenas de camisetas azul-bebê , diferentes do Manchester Football Club. Os chapeuzinhos bucket — "seu madruga" — fecham o figurino. É um evento festivo, onde celebramos uma época gloriosa que influenciou milhares de vidas e de gerações que querem sentir o que ouviram falar de míticos shows em Knebworth, Heaton Park ou Wembley.
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| Foto: Harriett Kbols |
As falas do Liam Gallagher que precisam de legendas nos telões mencionaram Coldplay, agradeceram a plateia, e Liam colocou o pandeiro na cabeça. Literalmente bíblico, o show é uma lavagem da alma, brit pop de Manchester para o mundo, e a trégua de Adão e Caim Gallagher para viver para sempre, claro, lucrando bastante, mas dando vida a ilusões e esperanças, assim como acontece num campeonato de futebol. Goleada de hits para emocionar o coração.
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| Foto: Joshua Halling |
Difícil acreditar que Florence, Green Day, Nine Inch Nails, Tool, Turnstile, Weezer, Foster The People ou Stray Kids, daqui a 20 anos, consigam levar um público tão misto, com tantas faixas etárias diferentes para shows em estádios gigantes no Brasil e no mundo. São gerações que foram conectadas pela rádio, televisão e jornais, hoje passam o legado em streams, selfies e stories. O mito vive e virou imortal. Os irmãos brigões que fizeram as pazes, porém, sempre serão lembrados pela atitude de não ligarem de falar o que sentem e querem. Aqui sim, podemos falar em ícones.
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| Foto: Joshua Halling |
Oasis e suas inspirações ligadas à música britânica, usando The Who, The Beatles, T. Rex, Rolling Stones e muito mais como referência, reinventaram a canção de uma maneira despretensiosa, criando novas artes eternas que vivem na memória afetiva de milhões que lotam estádios em 2025 e voltarão sempre.
