Em seu sexto álbum, Florence + The Machine transforma caos em feitiço

 
Após três anos de seu aclamado Dance Fever (2022), Florence + The Machine celebra seu retorno com o lançamento do aguardado sexto álbum de estúdio: Everybody Scream. Lançado estrategicamente nesse dia 31 de outubro de 2025, em plena noite de Halloween. O disco entrega uma aura mística e sombria, enquanto a vocalista e líder Florence Welch se aprofunda nos temas de sobrevivência e na complexa relação com a própria arte.

Everybody Scream chega com 12 faixas, reforçando o som dramático e a performance vocal imponente que são marcas registradas da banda. Diferente do disco anterior, que contou com produção estelar do seu amigo Jack Antonoff, das bandas Bleachers e Fun, o novo trabalho apresenta uma nova constelação de produtores, diversificando a sonoridade e aprofundando as texturas musicais.

Os produtores de Everybody Scream representam uma coalizão de estéticas sonoras: Aaron Dessner (The National, Taylor Swift) fornece a espinha dorsal melancólica e arquitetônica do álbum, com sua experiência em construir paisagens sonoras introspectivas e detalhadas que fundamentam as narrativas de Florence. Em contraste, Mark Bowen (guitarrista do IDLES) injeta a energia punk e caótica da "Machine", trazendo texturas sonoras industriais e um "calor escuro" de rock agressivo e imprevisível, evidente em faixas mais viscerais. Para o lado mais eletrônico e vanguardista, Danny L Harle (PC Music, Dua Lipa) oferece sua maestria em pop experimental e Hyperpop, misturando batidas de rave com design de som futurista para criar ambientes místicos e excessivos. Finalmente, Dave Bayley (Glass Animals) contribui com um toque de pop psicodélico e eletrônico groovy, utilizando samples de equipamentos vintage e uma sensibilidade rítmica inspirada no R&B para adicionar profundidade e modernidade às texturas orquestrais.

A colaboração não se restringiu à produção. A cantora e compositora nipo-americana Mitski Miyawaki está creditada na co-autoria de duas faixas, incluindo a faixa-título, confirmando o apelo de Welch em buscar novas vozes criativas.
 
 
Embora a estética de Halloween da capa (que traz Florence com uma lente olho de peixe) sugira um mergulho no lado gótico, o álbum carrega uma dualidade emocional. A própria Florence Welch indicou que o conceito inicial do disco era sobre "aprender a viver e amar o mundo ao invés de fugir dele", buscando um viés de otimismo e esperança após o período de reclusão da pandemia. No entanto, o resultado final equilibra essa esperança com uma intensidade visceral, transformando a dor em ritual.

Florence preparou seus fãs com dois singles antes do lançamento do album na noite das bruxas: ​"Everybody Scream" viu a luz no dia 20 de agosto de 2025 com sua temática hipnótico-assustadora e seu clipe coreografado para apavorar os desavisados.

A canção que dá o título ao album, "Everybody Scream", serve como um poderoso hino sobre o burnout (síndrome de exaustão) e a catarse no palco. A letra confronta a exaustão da artista com o desejo de validação do público: "Olha só como eu dou tudo de mim / Sangue no palco. / Mas como eu poderia te deixar quando você está gritando o meu nome?" É no palco, correndo e gritando, que Florence encontra a liberdade de ser "extraordinária e normal ao mesmo tempo". A segunda munição a vir à público foi ​"Sympathy Magic" no 27 de outubro de 2025. Nem deu tempo para assimilar a sua beleza atmosférica.

Everybody Scream foi universalmente aclamado pela crítica por sua intensidade lírica, honestidade brutal e fusão coesa de drama gótico e alt-rock. As análises destacam que o álbum é um reflexo direto da experiência de quase-morte de Florence Welch em 2023, transformando a tragédia em catarse.

O The Guardian elogiou Welch como uma "sobrevivente do alt-rock que inspeciona seu reino com atitude" (swagger), interpretando o álbum como uma dissecação do "relacionamento complicado com a fama" e o desejo compulsivo de performar. O The Independent reforçou essa visão, ligando o conteúdo visceral à experiência da cirurgia de emergência e notando que o álbum se aprofunda nos temas de "horror" e misticismo. A Consequence descreveu a faixa-título como um "encantamento sombrio" e uma "virada mais sombria" para a banda, sublinhando o verso chave sobre o custo da performance: "But how can I leave you when you're screaming my name?" Além disso, a Rolling Stone (UK, através da cobertura do single) e a Consequence enalteceram a faixa "One of the Greats" pelas suas "letras brilhantemente cáusticas", onde Florence usa a linha "It must be nice to be a man and make boring music just because you can" para criticar o sexismo na indústria musical. A NME e outros meios especializados veem a obra como uma "peça monumental de pop rock gótico" que consagra o status de Welch no rock alternativo.
 
 
Vale destacar a faixa "Music by Men" mostrando  uma honesta reflexão sobre um relacionamento em crise, culminando na auto-crítica sobre a falta de "aplausos" na vida privada.

Para quem associa Florence + The Machine apenas ao hit "Dog Days Are Over", do seu álbum de estreia "Lungs" (2009) , a discografia da banda demonstra uma carreira sólida e consistente. A banda está longe de ser um One-Hit Wonder, possuindo uma série de sucessos como "Shake It Out", "Spectrum (Say My Name)" e "King", além de seis álbuns de estúdio e álbuns ao vivo aclamados (MTV Unplugged de 2012, por exemplo). No total, a discografia principal de Florence + The Machine é composta por 6 álbuns de estúdio, além de 3 álbuns ao vivo, incluindo o acústico. 

Com Everybody Scream finalmente nas plataformas digitais, a "Rainha Gritadeira" ou a "Feiticeira Rey (sim, King!)" do indie rock , reafirma seu lugar consagrado no mundo da música, lançando um disco que é, ao mesmo tempo, um grito de dor e uma celebração da vida.

Loquillo Panamá

Nômade agregador de ritmos musicais e fanático por shows. Está sempre correndo atrás de novidades para multiplicar e informar os amantes de boa música.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Banner-Mundo-livre-SA