Em seu último show antes da pausa na carreira, Pitty entrou confiante no palco. Uma banda reformulada (com a baterista Nico e a percussionista Michelle Abu), um design de palco limpo e um repertório infalível. Pitty é super-veterana de palcos e festivais e sabe fazer um setlist enxuto, mas para todo mundo, de todas as gerações. Não foi diferente no The Town 2025.
Estrategicamente, colocou "Máscara" para abrir o show e já jogar o público pra cima e cantar junto. "Admirável Chip Novo" em seguida, para manter o rock rolando e a empolgação da galera de São Paulo. Empunhou sua Gibson SG em "Teto de Vidro". Só nessa trinca de abertura, a artista mostra mais uma vez como manter o público engajado com ela, sem medo dos próximos 50 minutos que terá no palco The One.
A apresentação seguiu com "Semana Que Vem", "Equalize", "Anacrônico"... A banda enfileirou clássicos dos seus primeiros anos e músicas chaves da discografia que tocam o fã (e até quem não se considera um fã de Pitty, pra falar a verdade). Prova disso é a quantidade de pessoas que estavam cantando os versos a plenos pulmões e deixando as lágrimas rolarem. Catarses pessoais ocorriam nos gramados do Autódromo de Interlagos durantes as baladas e até nas canções com mais punch. Em "Memórias", a cantora até pediu que a plateia abrisse uma roda, e eles obedeceram.
"Na Sua Estante" ela nem precisou cantar. O público fez esse trabalho por ela - e para ela - com o mínimo de acompanhamento de instrumentação da banda. E foi ovacionada ao final. Mas nem só de preciosidades dos 20 anos atrás vive a baiana. A animação de "Setevidas" foi bem recebida e até teve quem dançou o seu refrão carismático.
O som estava redondo. Pitty teve uma performance equilibrada, sem estrionices, sabendo quando ir além e se preservando para manter a qualidade. Martin Mendonça, o guitarrista, alternava entre um timbre mais roqueiro clássico e fills com um timbre de "psicodelia brazuca" (por falta de melhor definição) que trouxe novas texturas ao som de músicas já bastante conhecidas.
Homens e mulheres, público 40+ ou jovens de 20 (ou menos). O repertório de 60 minutos não deu conta de passear por todos os álbuns, mas funcionou: o público chegou sabendo as letras - ou descobriu que sabia ali no calor do momento. No final do show, Pitty desceu do palco para ir até a grade, fazendo com que o público de mobilizasse para ficar mais perto da cantora. O público engajou com ela e ela engajou com o público do The Town.
Se a pausa que Pitty dará na carreira é para decidir o que fazer a seguir, o seu último show veio carregado de nostalgia e também celebração de uma artista que tem muitas facetas (até rolou vídeo de bastidores de gravações antigas, fazendo uma ponte entre a Pitty de 20 anos atrás e a de hoje). Com tantos caminhos já explorados, faz sentido ela avaliar o que mais produzir, seja para surpreender ou para revitalizar alguma fase. O tempo dirá e o público vai acompanhar. Mas a recapitulação dessa história no The Town 2025 mostra que a veia rock'n'roll ainda pulsa muito bem com o público.
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